15/06/2024 as 06:54

ENTREVISTA

“Sou pré-candidato à reitoria e defendo a realização de duas consultas internas”

O atual reitor ama a lei apenas quando lhe favorece. Em suas entrevistas, ele não se cansa de atacar a consulta histórica e de defender a normativa que “moderniza” as leis eleitorais internas.

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“Sou pré-candidato à reitoria e defendo a realização de duas consultas internas”

André Maurício | Professor do Departamento de Física da UFS

O professor André Maurício, do Departamento de Física da Universidade Federal de Sergipe, já é pré-candidato à reitoria da Instituição Federal de Ensino Euperior (IFES) e deixa claro que pretende estar na disputa pela reitoria quando for deflagrado o processo eleitoral. “Neste momento, aguardamos o calendário das eleições. Provavelmente, teremos na UFS duas consultas à comunidade universitária: uma que vem sendo realizada há 40 anos pelas entidades de classe e a outra por uma normativa aprovada pelo conselho superior. O atual reitor ama a lei apenas quando lhe favorece. Em suas entrevistas, ele não se cansa de atacar a consulta histórica e de defender a normativa que “moderniza” as leis eleitorais internas. Mas, esquece de falar que, na sua “modernização”, quem vai definir o início do processo eleitoral é ele”. André tem 55 anos de vida, dos quais 35 como servidor da UFS, dedicados integralmente ao ensino, pesquisa e extensão, conforme explica em entrevista ao Jornal da Cidade. Ele será o principal opositor do reitor Valter Joviniano de Santana Filho.


Por Eugênio Nascimento

JORNAL DA CIDADE - O senhor pretende ser candidato a reitor? Por quê? Quem apoia a sua candidatura?
ANDRÉ MAURÍCIO - Pretendo. Sou pré-candidato à reitoria. Minha candidatura se dá a partir da idealização de um projeto de universidade e de uma prática histórica que deve ser submetida ao crivo da comunidade acadêmica. Temos uma proposta unificada com a professora Silvana Bretas, que estará conosco enquanto candidata a vice-reitora. Defendemos um projeto coletivo, de onde se deve sair o (a) reitor (a) da UFS e não em projetos pessoais e de poder, onde a vaidade apodrece a instituição e deixa uma chaga em nossa história. Por isso, na minha dimensão histórica/pessoal, como você me questiona, acredito que me credencio a ser reitor, por conhecer a nossa universidade e ter uma vida intimamente ligada a ela. Tenho 55 anos de vida, dos quais 35 como servidor da UFS, dedicados integralmente ao ensino, pesquisa e extensão. Minha candidatura vem recebendo apoio da maioria da comunidade universitária desde ano de 2020, ano em que fomos vencedores da consulta pública que vem sendo realizada há quarenta anos pelas entidades que representam as categorias de técnicos, professores e estudantes. Tive 64% dos votos. O reconhecimento e apoio ao nosso nome tem crescido a cada dia. Quero submeter meu nome, conhecido há mais três décadas de dedicação à instituição, na defesa de um projeto sério de transformação da nossa universidade, com critérios claros de distribuição de recursos, de manutenção dos nossos espaços físicos e de crescimento sustentável da nossa universidade, olhando sempre para o futuro melhor da nossa gente.

JC - O que diferencia o senhor dos demais candidatos, incluindo o atual reitor?
AM - Não gosto de me autoavaliar. Contudo, respondendo à sua questão, acredito que a minha história de vida é prova do que vou expressar. Sou filho de professores e sempre fui educado em casa a respeitar os processos históricos. Minha vida é intimamente ligada à da universidade. Fui aluno, técnico e hoje sou professor da UFS. São mais de 38 anos na instituição, acompanhando todo o processo de transformação que a universidade passou e vem passando, tudo isso respeitando meus pares e não querendo passar por cima de ninguém. Na UFS, fui coordenador de pesquisa, de informática e de cursos, diretor do CCET e vice-reitor. Nunca estive ou estou atrás de cargos. Respeito a liturgia dos cargos e acredito que para ser reitor você tem que cristalizar os anseios da comunidade numa votação transparente. Diferente do atual reitor, nunca me submeteria a uma “vitória de pirro”, onde o discurso mascara a realidade, não quero ser reitor de minha vaidade. A comunidade universitária está cansada da forma autoritária, da atual administração. A vantagem que tenho é que não preciso prometer, pois em todos os cargos que ocupei ficou demostrado minha forma democrática, transparente e de diálogo em toda decisão tomada. É isto que resume a minha vida acadêmica e administrativa. Princípios que sigo independente de cargos, pois para mim a felicidade de vida está diretamente ligada ao dia a dia de dedicação e amizades que ganhei ao trabalhar na UFS.

JC - O que o senhor pretende realizar na UFS que nenhum dos ex-reitores ousaram fazer?
AM - Difícil comparar as ações de administrações anteriores em conjunturas diferenciadas. Creio que cada reitor, ao seu tempo, buscou realizar o que se propôs em seu programa de governança quando se candidatou e foi eleito. Exceto o atual reitor que nunca se lançou candidato, nunca apresentou uma proposta sequer e nunca participou de uma eleição democrática da comunidade universitária. Ele foi ungido por 37 pessoas numa manobra imoral dada nos conselhos superiores em que parte expressiva é composta por indicados do reitor. A ousadia que pretendo é dar a nossa comunidade um local de trabalho e estudos que seja prazeroso. Que tenhamos a vontade de ir a nossa universidade sabendo que teremos uma internet de qualidade, salas confortáveis, banheiros decentes, materiais didáticos para as aulas. Queremos soluções simples e imediatas. É o dia a dia que precisamos valorizar.

JC - Numa possível gestão do senhor a UFS cresce? Onde? Como? A partir de quando?
AM - Sabe quem o reitor Josué, a época da implantação do Reuni por parte do governo federal, enviou para Brasília como representante da UFS? Eu, prof. André Maurício, mesmo sem nenhum cargo administrativo. Sempre fui e sou um defensor da expansão da nossa universidade. Tenho experiência de criação e implantação de novos cursos na UFS desde os idos do ano 2000, a exemplo do curso de Engenharia Elétrica. À época, fui o único professor da UFS que fez a caminhada de 10 Km com as forças populares do Sertão sergipano na luta pela implantação da UFS no Sertão. Contudo, tenho que deixar claro, priorizarei as obras paradas, os campi já implantados e seus grandes problemas estruturais. A implantação de creche e melhoria dos espaços de apoio a permanência estudantil, a exemplo, da climatização e ampliação dos restaurantes universitários.

JC - A UFS oferece hoje ensino de qualidade? Por quê? Em que o senhor melhoraria?
AM - A UFS é referência de qualidade em Sergipe, seja no ensino, pesquisa e extensão. Muitos dos nossos cursos possuem nota máxima do MEC. Entretanto, temos tido problemas nos últimos anos. É interessante observar que temos subido nos rankings de avaliação das universidades, mas se olharmos detalhadamente, temos caído, nestes mesmos rankings, na parte de ensino. Do tripé ensino, pesquisa e extensão, o ensino é o que precisamos ter o olhar mais cuidadoso. Por exemplo, há um forte crescimento da evasão em nossos cursos, faltam insumos para as aulas, os projetos de permanência dos estudantes não atendem às necessidades. Temos que atacar estes problemas urgentemente.

JC - A UFS precisa melhorar a sua pesquisa? Como e por quê?
AM - A pesquisa na UFS vive semelhante a uma série antiga que passava na TV: ‘A ilha da fantasia’. Uns poucos que vivem na ilha, escolhidos pela reitoria, tem todo o apoio, enquanto a maioria, os de fora da ilha, vivem na luta diária de encontrar recursos fora da UFS para manter seus laboratórios. Administraremos a partir de editais de financiamento próprio, construídos em conjunto com pesquisadoras e pesquisadores, com critérios transparentes, no atendimento de não apenas os grupos consolidados, mas também dos grupos emergentes.

w JC - A política de extensão da UFS é boa? Caso não, o que fazer para melhorar?
AM - A política de extensão atual é baseada na burocracia excessiva. Exemplifico: vem um prefeito de uma cidade com uma demanda para a UFS. Internamente o problema é discutido e se encontra uma possível solução, contudo é necessária a assinatura de um convênio entre as partes. Pois bem, não há prazo para assiná-lo, não se sabe quando poderá ser feita a parceria. Quando se assina, o tempo é tão grande que, muitas vezes não há mais interesse na execução da demanda. A universidade é o local da inovação, o tempo é crucial e não burocracia desnecessária.

JC - Quando e como serão as eleições na UFS?
AM - Neste momento, aguardamos o calendário das eleições. Provavelmente, teremos na UFS duas consultas à comunidade universitária: uma que vem sendo realizada há 40 anos pelas entidades de classe e a outra por uma normativa aprovada pelo conselho superior. O atual reitor ama a lei apenas quando lhe favorece. Em suas entrevistas, ele não se cansa de atacar a consulta histórica e de defender a normativa que “moderniza” as leis eleitorais internas. Mas, esquece de falar que na sua “modernização” quem vai definir o início do processo eleitoral é ele! Um absurdo moral já que o próprio é a parte direta interessada. Respeito às leis e a moralidade. Participarei de todas as consultas que forem postas. A UFS, como princípio de sua existência, deve ser guardiã de todas as ideias, de todos os pensamentos e do pleno debate. Temos um projeto sério de transformação da nossa universidade para melhor, com critérios claros de distribuição de recursos, de manutenção dos nossos espaços físicos e de crescimento sustentável da nossa universidade olhando sempre para o futuro da nossa gente.