05/05/2025 as 10:19
ENTREVISTAO advogado Emanuel Cacho afirmou que está com o nome à disposição do PL para disputar o governo nas eleições do próximo ano.
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Por Mayusane Matsunae
O advogado Emanuel Cacho afirmou que está com o nome à disposição do PL para disputar o governo nas eleições do próximo ano. Nesta entrevista para o Jornal da Cidade, ele contou da época em que participou da equipe de primeiro escalão do governo João Alves (in memoriam) e como, inclusive, contribuiu para a vitória dele em 2002. Para o JC, Cacho avaliou a gestão do governador Fábio Mitidieri (PSD) como “razoável” e opinou: “o cidadão não quer ver camarotes lotados de aliados exibindo poder enquanto enfrenta dificuldades no dia a dia”. Além disso, relatou o cenário interno do PL em Sergipe e as possíveis alianças políticas para o seu projeto de pré-candidatura. Acompanhe o conteúdo completo a seguir:
JORNAL DA CIDADE - A Recentemente, o senhor sinalizou estar com o nome à disposição do PL para disputar o governo nas eleições de 2026. Como estão as discussões dentro da legenda sobre isso?
EMANUEL CACHO – Estou filiado ao PL, mas o partido em Sergipe ainda não iniciou as discussões efetivas sobre as eleições de 2026. Existe um grupo ligado a Valmir de Francisquinho que defende sua nova candidatura. Mas percebi, pessoalmente, em um encontro recente em Itabaiana, sua insatisfação com os rumos do partido e decepção com sua direção estadual. A verdade é que Valmir representa uma incógnita que interessa apenas ao seu grupo local. Por enquanto, a única certeza no PL é a articulação em torno de uma possível candidatura de Eduardo Amorim ao Senado — legítima, com grande potencial eleitoral. Acredito que a eleição para o Senado será extremamente disputada, com níveis baixos de campanha, como já vimos na disputa pela Prefeitura de Aracaju. A vitória de Emília Corrêa, por exemplo, não foi fruto de mágica do PL. Ela já trilhava um caminho independente, mas ganhou visibilidade como vice de Valmir em 2022. Foi a soma de diversos fatores.
JC – Quais alianças políticas o senhor busca construir para viabilizar sua pré-candidatura? Quais lideranças já sinalizaram possível apoio?
EC – Tenho recebido manifestações diárias de apoio de lideranças políticas que enxergam em minha pré- -candidatura uma alternativa real. Muitos desses apoios vêm de grupos insatisfeitos com a atual condução política e preocupados com a reeleição de Fábio Mitidieri, que conta com os R$ 2 bilhões oriundos da venda da Deso. Recentemente, o ministro Rui Costa anunciou R$ 74 bilhões do Novo PAC em Sergipe, o que me parece uma sinalização de possível aliança entre Mitidieri e o PT — com Rogério Carvalho ou Márcio Macêdo como possível vice. Caso isso se concretize, ficará mais claro o cenário e a necessidade de uma candidatura independente e firme.
JC – Como pretende dialogar com os diferentes setores da sociedade sergipana?
EC – Sou sergipano nato, nascido e criado em Aracaju. Conheço bem os bastidores da política local — quem compra e quem vende votos. Venho de família humilde: minha mãe era comerciante, e meu pai era caminhoneiro. Comecei como camelô, estudei em escolas públicas e me formei em Direito. Fui defensor público e depois o primeiro coordenador da Polícia Civil da capital, onde atuei no combate à criminalidade e na criação do concurso para delegados de carreira. Como advogado, fundei a Associação Sergipana e a Associação Brasileira de Advogados Criminalistas. Na OAB/SE, presidi comissões de alto impacto. Na política, fui protagonista do Movimento 25 em 2002, revertendo um cenário dado como perdido e contribuindo decisivamente para a vitória de João Alves Filho. Fui secretário de Justiça de 2003 a 2006, período em que reformei o sistema penitenciário, tirando-o do fundo do poço e colocando-o entre os melhores do Brasil. Presidi o CONSEJ, com apoio de nomes como Alexandre de Moraes. Sempre mantive diálogo com movimentos sociais, promovendo cidadania, segurança e inclusão — da igualdade racial ao desarmamento e à causa animal, bem antes de se tornarem bandeiras populares.
JC – Como sua filiação ao PL e os valores defendidos pelo partido poderão orientar suas propostas para o governo de Sergipe?
EC – O PL teve momentos importantes em 2022 e 2024, mas a continuidade desse protagonismo em 2026 depende de coragem política para enfrentar a força da máquina do governo estadual. Infelizmente, o partido ainda carece de um projeto claro e de liderança estratégica em Sergipe. A política no estado virou um balcão de negócios, e o PL precisa se reposicionar para romper com esse ciclo.
JC – Quais figuras nacionais do PL o senhor considera como referências políticas?
EC – O PL é o maior partido do país e se consolidou como o principal canal da direita conservadora, tendo em Jair Bolsonaro seu maior impulsionador e em Valdemar Costa Neto uma liderança estratégica nacional. w JC – Que tipo de oposição o senhor pretende fazer ao atual governo do estado? EC – Fábio Mitidieri construiu uma base de aliados ampla, mas heterogênea e repleta de conflitos internos. Não está errado em governar com amigos, mas precisa entender que Sergipe precisa de oposição firme e responsável. Ao unir grupos antagônicos sob a mesma bandeira, ele planta as sementes de uma crise futura. Minha oposição será baseada em coerência, fiscalização e respeito ao cidadão, sem personalismos ou conchavos.
JC – Como o senhor avalia a gestão do governador Fábio Mitidieri?
EC – É uma gestão razoável, talvez até acima da média recente, impulsionada por fatores externos como o pós-pandemia e a atual conjuntura econômica. No entanto, a população sente os efeitos negativos: carga tributária altíssima, IPVA mais caro do Nordeste, e um clima de distanciamento entre o governo e os reais problemas do povo. O cidadão não quer ver camarotes lotados de aliados exibindo poder enquanto enfrenta dificuldades no dia a dia.
JC – O que motivou o senhor, como advogado criminalista, a dar esse passo em direção à política estadual?
EC – Sempre atuei em três frentes: comércio, advocacia e política. Fui suplente de senadora de Maria do Carmo Alves entre 2006 e 2015, candidato a senador em 2010 e participei de articulações relevantes na história recente de Sergipe. Mesmo fora das urnas, contribuí como jurista na elaboração do novo Código Penal, atualmente em tramitação no Congresso. Desde 2019, sou assessor parlamentar no Senado Federal, atuando diretamente na construção do Orçamento da União (LOA 2025), sancionado com previsão de R$ 5,8 trilhões. Essa vivência me preparou para um novo desafio.
JC – Qual experiência o senhor considera mais valiosa para a administração pública?
EC – A transformação do sistema penitenciário de Sergipe durante minha gestão como secretário de Justiça. De um dos piores do país, conseguimos colocá-lo entre os três melhores. Apostamos na humanização, fim das fugas, inclusão de grupos historicamente excluídos e ações inovadoras que repercutiram nacionalmente. Essa experiência, aliada à presidência do CONSEJ, consolidou minha visão de que é possível governar com seriedade e resultados.
JC – O senhor possui experiência com segurança pública. Considera um setor que merece atenção maior do gestor público?
EC – Sem dúvida. A segurança pública foi sempre meu foco. Atuei em mais de 2 mil processos criminais, fui coordenador da Polícia Civil e secretário de Justiça. Implantei ações de recaptura de foragidos, estilo “procurado”, que alcançaram mais de 60% de êxito. A criminalidade caiu e mostramos que planejamento e seriedade funcionam. A segurança precisa de comando técnico, não de improviso.
JC – Qual a sua avaliação sobre o sistema prisional de Sergipe?
EC – O sistema evoluiu e sobreviveu aos piores momentos graças à atuação de gestores comprometidos. Ainda há desafios, mas o que foi feito nas últimas décadas representa um avanço importante diante do cenário nacional.
JC – Além da segurança pública, quais setores você considera prioritários para o desenvolvimento de Sergipe?
EC – Educação e saúde são pilares fundamentais para a cidadania. No entanto, Sergipe precisa voltar a sonhar grande, como na época de João Alves Filho. Desenvolvimento econômico, industrialização e atração de investimentos são urgentes. É preciso visão de futuro, não apenas gestão do presente.
JC – Como sua experiência jurídica pode contribuir para o combate à corrupção no estado?
EC – Em 2002, João Alves me convidou para a SSP [Secretaria da Segurança Pública]. Diante de pressões políticas, preferi não aceitar. Sugeri a criação de uma Controladoria Geral do Estado — inspirada na experiência do prefeito César Maia no Rio de Janeiro. Apesar de não ter sido implementada à época, reforcei meu compromisso ético ao assumir a Secretaria de Justiça com carta branca. Acredito que o combate à corrupção começa com autonomia, fiscalização e exemplo. Se tiver a oportunidade, implantarei esse modelo com rigor e total transparência.