16/06/2025 as 08:48
ENTREVISTANa oportunidade, ela critica o governo Fábio Mitidieri (PSD) como sendo “de muita propaganda e poucas ações concretas”
COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA
Por Mayusane Matsunae
No dia 6 de julho, o diretório estadual do PT vai eleger o novo representante da sigla. Diante da proximidade do pleito, o Jornal da Cidade elaborou a série de entrevistas com os candidatos do partido, que possuem grande expressividade na capital e no estado de uma forma geral. A primeira é a militante Carol Rejane, vice-presidenta da CUT Sergipe e candidata ao diretório estadual do PT, que defende que o partido precisa “mudar rapidamente para se reconectar com a classe trabalhadora”. Na oportunidade, ela critica o governo Fábio Mitidieri (PSD) como sendo “de muita propaganda e poucas ações concretas” e promete candidaturas próprias do PT para todos os cargos em 2026. Carol também aborda a necessidade de fortalecer o trabalho de base, ampliar a militância e construir alianças com outros partidos de esquerda. Acompanhe a seguir.
JORNAL DA CIDADE - Qual sua trajetória política e como chegou à decisão de se candidatar à presidência do PT em Sergipe? CAROL REJANE – Militei no grêmio estudantil no ensino fundamental do então colégio Ministro Marco Maciel (hoje Maria Ivanda Carvalho), que fica no bairro Cidade Nova. Depois, integrei o Diretório Acadêmico de Comunicação e o DCE da UFS, quando estudante de Jornalismo. No movimento sindical, desde 2007, fiz parte da direção do Sindijor, chegando a ser presidenta em 2013, participando de diversos momentos importantes da luta da Comunicação em Sergipe, como a busca pela valorização da Aperipê enquanto TV Pública e pela democratização da comunicação. Integro a direção estadual da Central Única dos Trabalhadores desde 2015 e estou, atualmente, como vice presidenta da CUT/SE. Meu primeiro voto, em 1996, foi na candidatura petista que disputou a prefeitura de Aracaju, voto que repeti em 2000, quando elegemos Déda. No movimento estudantil, atuei ao lado de colegas petistas no DCE. Entrei no PT em 2015, a convite do coletivo petista denominado Articulação de Esquerda, ou simplesmente “AE”. Hoje, sou militante e dirigente estadual desse coletivo (AE), que me mostrou, na prática, que, desde a juventude, eu já integrava a “nação petista”. Para nós da AE, a nação petista não filiada oficialmente precisa se organizar no PT, nos sindicatos, nos movimentos.
JC – Quais são suas principais bandeiras e propostas para renovar o partido no estado?
CR – O PT é um partido nacional. O PT em todos os municípios, em Sergipe e nos demais estados e, nacionalmente, precisa mudar rapidamente. Mudar para se reconectar com a classe trabalhadora e melhorar cada vez mais a vida do povo. Nossa proposta, ao lançar candidaturas e chapas, em Sergipe e nível nacional, é contribuir para novas maiorias nas direções do partido. Precisamos, cada vez mais, da militância combativa e atuante em todas as lutas e debates, que são importantes para o povo trabalhador. Os processos eleitorais, a cada dois anos, são também importantes. A reeleição de Lula em 2026 é a principal tarefa. Nossa atuação deve ser diária nas lutas imediatas da população, vinculando essas lutas concretas com o interesse histórico do partido: a transformação socialista do Brasil. Na condição de vice-presidenta da CUT Sergipe, percebo que precisamos de mais militantes e mais dirigentes do PT e das esquerdas na construção cotidiana das lutas imediatas dos movimentos sociais, sindical, estudantil e popular. O PT precisa se compreender como movimento social. O PT não é apenas uma organização eleitoral. Quanto mais democracia e formação na luta, mais direções funcionando e fortalecendo o partido. O partido precisa dirigir os mandatos parlamentares que conquista. Esse diálogo e essa disputa são constantes. Quanto mais luta, mais trabalho de base e mais comunicação militante. Precisamos retomar a contribuição financeira de filiados e criar campanhas militantes de arrecadação: rifas, bingos, festas nas sedes do Partido. Precisamos de mais mulheres, artistas, negras, negros, jovens e Lgbts na vida cotidiana e dirigente do PT.
JC – Como avalia o atual momento político de Sergipe? Quais são os principais desafios que o estado enfrenta?
CR – Sergipe é um pequeno estado, mas não é uma ilha. Sergipe tem um vasto e diverso potencial em recursos naturais e minerais. Mas o desenvolvimento capitalista sergipano se baseia na manutenção e ou no avanço das desigualdades sociais e políticas. A marca principal é a concentração de renda e lucros nas mãos de poucas famílias e empresas, cada vez mais ricas. Do outro lado, a maioria da classe trabalhadora e desempregada amarga dificuldades e desespero crescentes. As privatizações disfarçadas e o sucateamento dos serviços públicos essenciais ao povo, nas áreas da saúde, educação, assistência e moradia, são mascaradas pelo assistencialismo e pelo apadrinhamento político. O crescimento econômico é a palavra-vitrine dos governos municipal e estadual. Na prática, esse tipo de “desenvolvimento” garante o aumento dos lucros das grandes empresas privadas, do agronegócio e do mercado imobiliário. As gestões de Marcelo Déda, na prefeitura de Aracaju e no governo estadual, em parceria com as gestões de Lula e Dilma, foram hiatos democráticos que, em alguns aspectos, congelaram e/ou iniciaram uma reversão dessa catástrofe social e econômica. Mas, vivemos um processo crescente de consolidação do neoliberalismo, com avanço das forças e partidos de extrema direita e fascistas. Em resumo: quando partidos de esquerda e governos populares perdem a perspectiva de transformações estruturais, adaptando-se ao “melhorismo”, mais cedo ou mais tarde, preparam o retorno das forças neoliberais e ou fascistas nos governos. Quem ganhou a Prefeitura de Aracaju em 2012? Quais as forças assumiram os governos estaduais a partir de 2013?
JC – Qual sua análise sobre a gestão do governador Fábio Mitidieri? Em que pontos o PT poderia apresentar alternativas?
CR – Não existe como apresentar alternativas pontuais ao atual governo estadual. Nas eleições de 2022 o nosso projeto foi outro. Desde 1º de janeiro de 2023, o que vemos é um governo de Sergipe que busca a atuação mínima do estado no bem-estar social do sergipano e da sergipana. Falo isso pois uma das primeiras ações foi aprovar, na Assembleia Legislativa, a permissão de que a gestão pública e dos serviços nas áreas da educação, saúde, ação social, pesquisa, desenvolvimento tecnológico, cultura, preservação do meio ambiente, esporte, assistência social, condições de habitabilidade, trabalho, geração de renda, economia solidária, agricultura familiar, assistência técnica e extensão rural, integração social de menor infrator e garantia de seus direitos individuais e sociais possam ser feitos por empresas privadas. O governo Fabio Mitidieri tem sido um governo de muita propaganda, de muitas festas, mas poucas ações concretas que melhorem efetivamente a vida dos sergipanos e sergipanas. O crescimento nos postos de trabalho em nosso estado, em virtude de ações do governo federal, ainda é insuficiente. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, Sergipe é um dos 12 estados em que há mais beneficiários do Bolsa Família do que empregados com carteira assinada (CLT). Isso demonstra que boa parte da população sergipana vive no trabalho informal, no subemprego. Sem falar no que diz respeito aos servidores públicos, a política governamental também não agrada. Os servidores da administração geral ainda vivem com uma defasagem salarial que ultrapassa os 15%, pois, mesmo as atualizações ocorridas em 2022 e 2023, não foram suficientes para suprir 10 anos de arrocho salarial. O Ipesaúde aumentou, também em 2023, o valor de contribuição de titulares e de dependentes, mas o serviço só fez piorar. Para categorias como o magistério, não há valorização dos professores e professoras, pois melhorar a educação não passa somente por construir quadras poliesportivas e reformar escolas, mas também por valorização dos trabalhadores e trabalhadoras. O PT tem que ser uma alternativa de conjunto para superar esse governo no próximo ano. É isso que propormos quando dizemos que temos de reeleger Lula em melhores condições. O PT, como seu próprio nome diz, é o partido dos trabalhadores e das trabalhadoras, e foi fundado com os movimentos social, popular, sindical, estudantil. Por isso, é essencial que os governos, sejam do estado ou dos municípios, dialoguem com esses atores sociais. Não dá para construir políticas públicas que tragam o bem-estar social aos sergipanos e sergipanas sem ouvir quem está todos os dias ajudando a construir Sergipe.
JC – Sergipe tem uma tradição política muito particular. Como o PT pode se inserir melhor nesse contexto e conquistar mais espaço?
CR – Boa parte dessas particularidades sergipanas ainda são calcadas em práticas de séculos passados, calcadas no coronelismo, no assistencialismo, no apadrinhamento político, em criar e transformar partidos em legendas de aluguel para alçar pessoas em projetos pessoais de dominação política e enriquecimento. Para conquistar espaço e transformar Sergipe e o Brasil, nosso partido deve ser diferente da direita e da extrema-direita. O PT não pode ter medo de organizar e liderar as esquerdas.
JC – Quais são suas metas para fortalecer o PT em Sergipe até as eleições de 2026?
CR – O fortalecimento do PT em Sergipe passa pela definição de novos rumos, a nossa proposta é que a militância petista na capital e no interior tenha o partido nas mãos, que aqueles e aquelas que fazem o PT nos locais que moram, que trabalham, que se divertem possam construir, de forma mais orgânica, o partido. Não há fórmulas prontas, mas podemos, com os e as petistas, fazer com que o PT Sergipe esteja mais próximo das lutas do povo sergipano.
JC – O partido pretende lançar candidaturas próprias para governador e senador em 2026? Como a senhora acredita que pode ser definida essa estratégia?
CR – A resolução aprovada pelo PT Sergipe em 14 de dezembro de 2024 afirma que o partido terá sim candidaturas para todos os cargos eletivos em 2026. Precisamos ampliar as bancadas na Assembleia Legislativa, na Câmara Federal, no Senado. O PT Sergipe tem condições de construir, junto aos demais partidos de esquerda, com movimentos social, sindical, popular e estudantil, uma frente de esquerda para essas eleições, para que Lula tenha melhores condições de governar e para que, em Sergipe, tenhamos condições de avançar nas políticas públicas que mudem efetivamente a vida do povo sergipano. Digo com certeza que o PT Sergipe tem condições de lançar candidaturas a todos os cargos disponíveis para 2026, temos militantes. Implementar essa resolução é uma das nossas principais plataformas de campanha.
JC – Como avalia as possibilidades de alianças com outros partidos de esquerda no estado para as próximas eleições?
CR – As possibilidades são construídas. O PT tem, desde a sua fundação, o papel histórico de organizar a classe trabalhadora na perspectiva de termos uma outra sociedade, e isso é feito a partir do diálogo com as demais esquerdas. A minha candidatura à presidência do PT (com o número 320) e a chapa Em Tempos de Guerra, a Esperança (com o número 420), para a direção do partido, têm como objetivo essa construção com os outros partidos de esquerda em Sergipe.
JC – Qual a importância do trabalho de base e da organização territorial para o crescimento do PT em Sergipe?
CR – O trabalho de base é importante para quaisquer organizações, sejam elas partidos, sindicatos, associações, movimentos. É a partir deste trabalho que despertamos e enraizamos a consciência política, a consciência de classe, e que só a luta coletiva faz com que a sociedade se transforme.
JC – Quais considera serem os principais obstáculos para o crescimento do PT em Sergipe, atualmente?
CR – Nossos principais obstáculos são os nossos adversários da direita e da extrema direita. A partir deste problema, temos no partido diferentes opiniões de como superá-las. Para as outras duas candidaturas e chapas, que têm a mesma política e candidatura e chapa nacional, a resposta está em nos submetermos ainda mais à lógica de partidos de direita e/ou extrema direita, na institucionalidade, na “resolução” de problemas somente nos gabinetes. Para nós, a superação desses problemas passa por construirmos alianças com os demais partidos de esquerda, movimentos sociais, populares, sindical, estudantil, para que tenhamos mobilização nas ruas, de massas, para pressionar não só o governo, mas também o Congresso Nacional, as assembleias legislativas e câmaras de vereadores a promoverem as mudanças que vão melhorar a vida do povo.
JC – Como pretende trabalhar para ampliar o diálogo do partido com diferentes segmentos da sociedade sergipana?
CR – É importante que o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, enquanto organismo político, esteja organizado nos diversos segmentos da sociedade sergipana, pois, como disse em resposta anterior, os petistas estão em todos os lugares, mas estão desmotivados pela falta de debate, de espaços de formação, e isso não é um sintoma do PT em Sergipe, mas também nacionalmente. Por isso, nacionalmente, a Articulação de Esquerda está na disputa para a presidência nacional do partido com o companheiro Valter Pomar (número 120) e para a direção nacional com o número 220.
JC – Como avalia a importância da juventude e das mulheres na renovação dos quadros partidários em Sergipe?
CR – É fundamental que nós mulheres, jovens, negras e negros, indígenas estejamos nos quadros do partido e também participando das ações do partido, nas atividades de formação, de comunicação, tendo um maior apoio em suas candidaturas em épocas de eleições. Para isso se faz necessário uma ampla campanha de filiação em todo o nosso estado. Em Sergipe, o partido tem aproximadamente 40 mil filiados, mas sabemos que o número de pessoas que apoiam o PT e simpatizam com o PT é muito maior. É importante que essas pessoas, nos diversos segmentos da sociedade, sejam convencidas de que é fundamental estarem filiadas ao Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras.