11/08/2025 as 09:46

ENTREVISTA

“DER investe mais de R$ 1 bilhão em 96 obras rodoviárias”

O diretor Anderson das Neves aponta a burocracia como o principal entrave para a execução dos projetos.

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Mayusane Matsunae 
Equipe JC

De 2023 até hoje, o Departamento Estadual de Infraestrutura Rodoviária de Sergipe (DER/SE) já finalizou 55 obras e possui 46 em andamento, totalizando 96 intervenções em vias de Norte a Sul, com investimento superior a R$ 1 bilhão – incluindo a implantação da rota do leite e a modernização do sistema de monitoramento das estradas. Apesar dos números robustos e do reconhecimento em ranking nacional, o diretor Anderson das Neves aponta a burocracia como o principal entrave para a execução dos projetos. Nesta entrevista com o Jornal da Cidade, ele também aborda a situação das pontes das malhas viárias, os critérios de priorização das obras, o uso de novas tecnologias e os desafios para a federalização da SE-335. Confira o conteúdo completo:

JORNAL DA CIDADE - Como o senhor avalia o atual estado da malha rodoviária estadual de Sergipe? Quais os principais desafios enfrentados pelo DER/SE atualmente?
ANDERSON DAS NEVES – Em novembro do ano passado, a pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) de Rodovias 2024 apontou Sergipe ocupando o 3º lugar no ranking nacional em termos gerais e o 1º lugar na região Nordeste, quando avaliadas as condições das rodovias classificadas como “ótimo”. Então, avalio que temos feito um bom trabalho, investindo na recuperação e implantação de novas rodovias que possibilitam um melhor acesso a cidades e povoados, bem como garantem uma mobilidade e segurança viária. E ter esse reconhecimento da entidade nacional ratifica o compromisso do Governo do Estado com o desenvolvimento e nos impulsiona a buscar melhorar ainda mais, para conquistar e manter essa posição de destaque.

JC – Quais são os principais projetos de construção de novas rodovias em andamento ou previstos para este ano? Pode nos dar detalhes sobre cronograma e investimentos?
AN – De 2023 para cá, temos a finalização de 55 obras na gestão do governador Fábio Mitidieri, e 46 em andamento, totalizando 96 obras de norte a sul do estado, somando mais de R$ 1 bilhão de recursos investidos. São obras de duplicação, implantação, pontes, reestruturação, manutenção e pavimentação em paralelepípedo. Entre elas, podemos destacar a implantação da Rota do Leite, que beneficiará a nossa bacia leiteira, possibilitando um melhor escoamento da produção, chegada de insumos, assistência técnica e tecnologia aos municípios do Sertão, como Gararu, Feira Nova, Nossa Senhora da Glória e Graccho Cardoso. São mais de R$ 122 milhões em investimentos na implantação da rodovia SE175, numa extensão de 55,58 km.

JC – Sobre a recuperação de vias existentes, quais rodovias estão sendo priorizadas? Qual o critério usado para definir essas prioridades?
AN – Nós temos duas frentes para a recuperação de rodovias estaduais em nosso estado. A recuperação é feita por meio da operação tapa-buraco, cuja atuação é diária, com uma programação semanal da Diretoria de Operações. Por exemplo, de janeiro a junho deste ano, foram utilizadas cerca de 24 mil toneladas de asfalto na operação tapa-buraco em todo o estado. Além disso, temos a reestruturação de vias, as quais precisam de uma intervenção maior pelo desgaste do pavimento. Dessa maneira, é possível dinamizar a recuperação das estradas que sofrem com a ação do tempo – é natural, mas sempre buscamos atender aos pedidos da população e também a partir da verificação atestada pelos nossos engenheiros responsáveis por cada região do estado.

JC – O DER/SE tem implementado alta tecnologia nas obras e na gestão das rodovias. Quais são elas e quais os benefícios práticos?
AN – Recentemente, fizemos um teste com o equipamento Leica Pegasus – Two Ultimate, ferramenta de última geração que possibilita fazer um mapeamento da localidade onde será executada a obra. Com oito câmeras acopladas, ele capta todas as características da região, num verdadeiro inventário terrestre, o que nos dará mais precisão na hora de fazer um projeto e executá-lo. Fizemos o teste na rodovia SE-100, na Barra dos Coqueiros, pois ele será utilizado na duplicação da via e construção da nova ponte que ligará à capital sergipana, integrando a obra do Complexo Viário Maria do Carmo. Além disso, sempre buscamos novas tecnologias para otimizar nossos projetos e garantir, cada vez mais, a utilização de materiais e equipamentos que possam contribuir com as melhorias da infraestrutura viária.

JC – Como funciona o sistema de monitoramento das rodovias estaduais? Quantos radares e câmeras estão em operação atualmente?
AN – De janeiro a junho deste ano, sete novas câmeras foram instaladas, totalizando 35 equipamentos de fiscalização que contribuem para a redução de imprudência no trânsito. A gente precisa ter consciência de que os equipamentos são uma forma de educar a população no trânsito – e não para aumentar a arrecadação. Temos resultados positivos em algumas vias, com redução significativa de sinistros, justamente pela presença das câmeras. Exemplo disso são a Avenida Inácio Barbosa e a Rodovia dos Náufragos, ambas em Aracaju, e a Avenida Marcelo Déda, em frente à Universidade Federal de Sergipe (UFS). As câmeras são monitoradas 24h, atuamos de forma conjunta com o Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv), no Centro de Controle e Operações (CCO), e também temos o Centro de Operações Integradas de Sinalização Viária. Todo esse sistema permite que possamos contribuir também com a segurança do estado e atendimento a vítimas de acidentes, por exemplo.

JC – Há planos para expandir o sistema de videomonitoramento? Em quais trechos e por quê?
AN – É algo que ainda está em estudo, para a análise de toda uma viabilidade técnica e necessária para determinada localidade. Tudo isso sempre buscando garantir o respeito às leis de trânsito e a segurança viária em nosso estado. 

JC – Qual a situação atual dos acostamentos nas rodovias estaduais? Há um programa específico para construção e manutenção? AN – A partir do Pró-Rodovias 3, programa do Governo de Sergipe que visa melhorar a infraestrutura rodoviária do estado, incluindo a recuperação e construção de estradas, todas as novas obras estão sendo feitas com melhoramento, que consiste no alargamento da pista para, no mínimo, 10 metros de largura. Dessa maneira, as vias recuperadas ou implantadas terão o acostamento, aumentando a segurança viária e a durabilidade das estradas.

JC – E como está a situação das pontes na malha rodoviária estadual? Existem pontes que necessitam de reparos urgentes ou reconstrução?
AN – Temos feito um monitoramento constante das pontes do estado, além de executar os serviços de recuperação e construção, a exemplo da ponte de Capela, na SE-438, que está em andamento, bem como a ponte em concreto armado sobre o Rio Itamirim, na rodovia SE-160, que liga Itabaianinha a Tomar de Geru. São obras de um grau elevado de complexidade, que precisam de um planejamento cuidadoso, análise técnica detalhada e execução precisa. São estruturas que estão sempre em nosso radar de alerta, na recuperação de erosões nas cabeceiras, guarda-corpo, enfim, de toda a estrutura necessária para garantir a segurança da população.

JC – Sobre a federalização da SE-335, qual o atual estágio do processo? Quais as expectativas e prazos?
AN – Avançamos nesse tema, mas ainda é preciso efetivar a incorporação da rodovia SE-335, em Neópolis, com a assinatura do termo de transferência do patrimônio, o que será feito em momento oportuno com as autoridades dos órgãos competentes, governadores dos dois estados, Sergipe e Alagoas, e o ministro dos Transportes. Existem apenas alguns detalhes burocráticos que estão sendo sanados para a efetiva entrega dessa rodovia estadual ao Governo Federal.

JC – Qual o volume de demandas que chegam da Assembleia Legislativa e das prefeituras? Como são priorizadas?
AN – É uma demanda muito grande, pois nossos deputados representam a população sergipana e cada um cobra as melhorias para as respectivas regiões, ou como um todo mesmo. A gente busca sempre receber as demandas com muito respeito e dar o encaminhamento para atender a todos, pois é um compromisso nosso cuidar, preservar, manter e cuidar das rodovias estaduais. Seja recuperando uma via que sofreu desgaste pela ação do tempo, seja construindo novos acessos para conectar as pessoas, interligar culturas e favorecer o desenvolvimento da localidade.

JC – Como o DER/SE tem lidado com as questões ambientais e licenciamentos nas obras rodoviárias?
AN – Por meio do programa de Acompanhamento Ambiental das Rodovias, desenvolvemos iniciativas que visam mitigar os impactos das obras rodoviárias e promover a conservação do patrimônio natural e cultural do estado. Com a crescente demanda por infraestrutura, o DER/SE tem investido em práticas que garantem o desenvolvimento das obras executadas de forma consciente e responsável. Assim, temos os estudos técnicos ambientais prévios, o plantio de mudas nativas, levantamento, monitoramento e sinalização de passagens de fauna. Além disso, também integram nosso rol de ações ambientais o acompanhamento, monitoramento e sinalização de sítios arqueológicos, garantindo a proteção e estudo adequado, e a promoção da Educação Ambiental diariamente, a partir da conscientização entre colaboradores e a comunidade, reforçando a importância da preservação e do uso sustentável dos recursos naturais.

JC – Quais são os maiores obstáculos para a execução das obras rodoviárias em Sergipe? São questões orçamentárias, burocráticas ou técnicas?
AN – Os maiores obstáculos, sem dúvida nenhuma, são as burocracias. Principalmente em obras de implantação de rodovias, que dependem, muitas vezes, de órgãos ambientais, inclusive da esfera federal, que, muitas vezes, acabam atrasando e dificultando o andamento das obras.

JC – Como funciona a articulação entre o estado e a União para projetos rodoviários que atravessam ou conectam Sergipe a outros estados?
AN – Nosso contato com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte [DNIT] é quase diário. Por exemplo, para o Governo Federal realizar a construção da ponte ligando o município de Neópolis, em Sergipe, a Penedo, em Alagoas, teve intervenção do Governo do Estado para viabilizar a obra federal, uma vez que foi necessário transformar nossa Rodovia SE335 da BR-101 até Neópolis em rodovia federal. Além disso, o governador Fábio Mitidieri e toda a sua equipe de governo não medem esforços para ter uma interlocução junto ao Governo Federal para que sejam destravadas algumas obras, ou até mesmo cobrar uma celeridade nas obras do Governo Federal em nosso estado.