08/09/2025 as 10:04

ENTREVISTA

“Sergipe vive momento político favorável, com crescimento econômico e solidez fiscal”

Nesta entrevista para o Jornal da Cidade, a deputada estadual Lidiane Lucena (Republicanos) traça o panorama político de Sergipe e revela seu posicionamento para 2026

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Por Mayusane Matsunae

Nesta entrevista para o Jornal da Cidade, a deputada estadual Lidiane Lucena (Republicanos) traça o panorama político de Sergipe e revela seu posicionamento para 2026. A parlamentar, que já aprovou nove projetos na atual legislatura, elogia a gestão Fábio Mitidieri (PSD) e sinaliza apoio à continuidade. Ela também aborda  o fortalecimento do republicanos no estado e as articulações partidárias em curso. “Política é um ambiente dinâmico e atualmente existem várias especulações sobre a possível chegada de novas  lideranças ao partido”, contou para nossa equipe de reportagem. Confira o conteúdo completo:

JORNAL DA CIDADE - Deputada, estamos na metade da legislatura. Como avalia seu desempenho na Assembleia Legislativa? LIDIANE LUCENA –
Avalio que temos conseguido desenvolver um trabalho sério, pautado pelo diálogo, pela responsabilidade e pela busca de soluções que façam diferença na vida das pessoas. Na Assembleia Legislativa, apresentei projetos e iniciativas em áreas essenciais como saúde, educação e promoção de direitos, sempre com atenção especial às mulheres e às pessoas com deficiência. Sempre fiz questão de manter o meu mandato acessível não apenas a gestores municipais, vereadores e lideranças políticas, mas, sobretudo, aberto ao diálogo direto com a população, a fim de identificar as principais necessidades e trabalhar por respostas efetivas. Um exemplo da importância de manter esse canal de diálogo foi a sanção da Lei nº 9.294, de 27 de setembro de 2023, que reconhece às pessoas com surdez unilateral os mesmos direitos e garantias assegurados às pessoas com deficiência no âmbito do Estado de Sergipe. A ideia do projeto surgiu a partir de uma provocação do vereador de Aracaju, Sargento Byron (MDB), e da professora e doutora em Fonoaudiologia da Universidade Federal de Sergipe, Bárbara Rosa, que me sensibilizaram para essa causa. Com essa iniciativa, Sergipe passou a ser o nono estado brasileiro a reconhecer a surdez unilateral como deficiência.

JC – Quais foram os principais projetos de lei de sua autoria aprovados neste período?
LL – Na proteção das mulheres, destaco a Lei nº 9.520/2024, que é fruto de um projeto de lei de minha autoria e prevê a proteção das informações de servidoras públicas estaduais vítimas de violência doméstica e familiar. Na educação e inclusão, destaco a Lei nº 9.305/2023, fruto de projeto de lei de minha autoria, que determinou a substituição das sirenes das escolas por sinais musicais, evitando prejuízos para alunos com sensibilidade auditiva. A iniciativa ganhou destaque nacional, inclusive no Jornal Hoje, da Rede Globo, reforçando a importância da educação inclusiva. Em seguida, a Lei nº 9.244/2023, que instituiu a Política Estadual de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, e a Lei nº 9.335/2023, que institui a Semana Estadual de Conscientização sobre o Transtorno do Desenvolvimento de Linguagem (TDL). Destaco também a Lei nº 9.294/2023, que reconhece a surdez unilateral como deficiência, garantindo direitos e inclusão a pessoas com essa condição. Cito ainda a Lei nº 9.403/2024, que institui o Selo Escola Amiga do Autista, valorizando escolas que promovem a inclusão de alunos com TEA. Na saúde, destaco o PL nº 160/2025, aprovado recentemente e que seguiu para sanção do Governo do Estado, criando o Programa Estadual de Diagnóstico Precoce e Prevenção da Doença Renal Crônica em Bebês e Crianças, permitindo a identificação precoce de problemas renais e garantindo atendimento especializado e preventivo à infância. No âmbito do meio ambiente e patrimônio cultural, destaco o PL nº 59/2025, que declara o Melocactus. também fruto de projeto de lei de minha autoria. Descoberta em 2014 pelo aquidabaense Eronides Soares Bravo Filho, esta pequena cactácea é a única espécie exclusiva do estado, conhecida como “coroa-de-frade”, e hoje menos de 50 exemplares adultos sobrevivem.

JC – Houve algum projeto que não conseguiu aprovar e que gostaria de retomar?
LL – Sim, há projetos que são muito importantes para mim e para muitas famílias sergipanas, mas que, por questões legais e orçamentárias, não puderam avançar. Um exemplo é o projeto que apresentamos sobre a realização de um mapeamento genético para pessoas com diagnóstico ou suspeita de Transtorno do Espectro Autista. Esse exame poderia contribuir de forma significativa para diagnósticos mais precisos e para um acompanhamento mais adequado, o que traria mais acolhimento e qualidade de vida às famílias. No entanto, pela legislação, nós, deputados, não podemos propor projetos que impliquem aumento de despesas para o estado sem que haja previsão no orçamento.

JC – Como tem sido sua relação com os demais parlamentares? Há parcerias consolidadas para aprovação de projetos?
LL – Tenho uma relação muito boa com todos os parlamentares e nunca tive nenhuma indisposição mais séria. Quando surgem divergências, sempre busco o caminho do diálogo e da construção coletiva. Não há uma parceria formal consolidada, mas existe um consenso de que, quando os projetos visam beneficiar diretamente a população e estão apresentados dentro de todos os requisitos de legalidade, eles costumam ser analisados e acolhidos com sucesso.

JC – Qual o papel das deputadas na atual legislatura? Sente que há espaço adequado para a participação feminina?
LL – A política, historicamente, tem sido um ambiente dominado por homens, e isso faz com que nós, mulheres, ainda enfrentemos obstáculos maiores para sermos ouvidas e para ocuparmos espaços de liderança. Na atual legislatura da Assembleia Legislativa de Sergipe, somos seis deputadas, o que já representa um avanço, mas ainda está muito distante do que seria o ideal diante da maioria feminina da nossa população. De modo geral, encontramos na Casa um ambiente de respeito, embora ainda existam situações que revelam o quanto precisamos caminhar para garantir plena igualdade. A presença de mulheres no Parlamento é fundamental não apenas pela representatividade, mas pelo impacto real que causa nas decisões políticas. Nós trazemos uma forma de atuação que valoriza a sensibilidade, o cuidado e a atenção às demandas de quem mais precisa, em especial das minorias e das pessoas em situação de vulnerabilidade. Ampliar a participação feminina na política significa tornar a gestão pública mais inclusiva, mais próxima da sociedade e mais comprometida com a justiça social.

JC – Como a senhora enxerga o atual momento político de Sergipe?
LL – Enxergo como bastante favorável ao desenvolvimento do estado. Vivemos um período de crescimento econômico aliado a uma sólida saúde fiscal, o que permite ao governo realizar investimentos importantes sem comprometer o equilíbrio das contas públicas. Essa estabilidade tem possibilitado a execução de obras estruturantes em diferentes áreas, desde a modernização da saúde até a recuperação e ampliação da malha rodoviária, garantindo mais mobilidade, integração regional e qualidade de vida para a população. Também destaco os avanços na assistência social, que têm sido fortalecidos com investimentos vultuosos, e no turismo, setor que tem recebido atenção especial e transformado Sergipe em um destino cada vez mais procurado no cenário nacional.

JC – Qual sua opinião sobre a gestão do governador Fábio Mitidieri? Há pontos de convergência e divergência?
LL – Avalio de forma muito positiva. Sergipe vive um momento político bastante favorável, marcado por crescimento econômico, solidez fiscal e capacidade de investimento em áreas estratégicas. Temos acompanhado obras de infraestrutura importantes, a recuperação e ampliação das rodovias, a modernização da saúde, o fortalecimento da assistência social e investimentos que vêm consolidando o turismo como um setor cada vez mais relevante para o estado. Um dos pontos que merece destaque é a forma como o governador conduz sua gestão com disponibilidade para ouvir e dialogar com os parlamentares. Essa abertura fortalece a relação entre o Executivo e o Legislativo. Naturalmente, sempre existirão pontos de divergência, o que é próprio do processo democrático, mas a convergência tem sido muito maior.

JC – Quais as principais demandas que chegam ao seu gabinete vindas dos municípios?
LL – Recebo as mais variadas demandas, levando em consideração as peculiaridades e características de cada município, de cada região e das necessidades próprias de cada população. Entre essas demandas, a saúde é uma das áreas em que sou mais lembrada, não apenas pelo fato de ser médica, mas também por ter levado para a Assembleia Legislativa uma atuação marcada pela atenção especial a esse setor.

JC – Quais as principais carências que identifica em Aquidabã e região? Como vem trabalhando para resolvê-las?
LL – Um dos principais desafios dos municípios de menor porte, como Aquidabã e os que compõem a região, é o volume de recursos disponível para que as administrações consigam realizar tudo aquilo que desejam em prol do atendimento pleno às necessidades da população. Nesse sentido, um desafio constante de todos os gestores municipais é traçar estratégias e ações que fortaleçam a economia local, ampliem a geração de empregos formais e atraiam a presença de novas empresas e empreendimentos. Apesar dessas dificuldades, a gestão de Aquidabã, sob a liderança da prefeita Ana Helena (União), tem investido em diversas áreas essenciais, como educação, saúde, assistência social, infraestrutura, esporte, cultura, fortalecimento da agricultura, respeito à diversidade e valorização do protagonismo das mulheres. Enquanto deputada estadual, tenho buscado estar ao lado das administrações municipais, seja na destinação de emendas, no diálogo com o Governo Federal e com o Governo do Estado, ou ainda na aproximação com instituições e potenciais parceiros que possam contribuir com novos recursos, programas e projetos para atender às demandas da população. Coloco o meu mandato à disposição não apenas das administrações de Aquidabã e região, mas de todos os municípios sergipanos, reafirmando meu compromisso de trabalhar por um Sergipe cada vez mais justo e desenvolvido para todos.

JC – Como avalia a atuação do Republicanos em Sergipe? O partido tem conseguido se fortalecer no estado?
LL – Creio que o Republicanos se fortaleceu significativamente em Sergipe nos últimos anos, com representatividade ampliada na Assembleia Legislativa, onde hoje temos três deputadas (um número expressivo que não era comum em legislaturas anteriores), além da presença ampliada das diversas regiões no diretório estadual. É importante lembrar ainda que política é um ambiente dinâmico e que atualmente existem várias especulações sobre a possível chegada de novas lideranças ao partido, bem como mudanças internas.

JC – Há diálogo do partido com outras legendas para formar blocos ou alianças na Assembleia?
LL – As articulações políticas e a formação de blocos no âmbito estadual frequentemente refletem as movimentações no cenário nacional, como a criação de federações partidárias. Atualmente, há especulações sobre uma possível federação entre o Republicanos e o MDB, mas é importante ressaltar que ainda não há nada concretizado.

JC – Já começaram as articulações para 2026? Como o Republicanos pretende se posicionar na disputa ao Governo do Estado?
LL – Acredito que as articulações políticas são permanentes. Talvez, em outros tempos, isso não fosse tão perceptível para a população, mas é da natureza da política que haja diálogo constante, escuta da base, troca com os pares e leitura atenta do cenário em que vivemos. Sobre a posição do Republicanos em relação à disputa ao Governo do Estado, como não sou dirigente do partido em Sergipe, no momento não posso afirmar se já há uma decisão tomada. Costuma-se atribuir ao ex-governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, uma frase que se mostra cada vez mais atual: “Política é como nuvem. Você olha, e ela está de um jeito. Olha de novo, e ela já mudou”. O que posso dizer é que eu estarei ao lado do governador Fábio Mitidieri, contribuindo com meu trabalho e minha energia para que Sergipe continue avançando.

JC – A senhora pretende disputar a reeleição para deputada estadual em 2026?
LL – Sim, pretendo disputar a reeleição em 2026. Estar deputada estadual tem me permitido ampliar a forma de servir ao povo sergipano, algo que, fora da política, por mais apaixonante que tenha sido minha atuação como médica da atenção básica e nos hospitais públicos, não seria possível alcançar na mesma dimensão. A experiência de quase dez anos cuidando das pessoas na saúde da família e em situações de urgência e emergência me fez compreender de perto as necessidades da nossa gente e foi justamente isso que me impulsionou a ingressar na vida pública.

JC – Como vê o cenário para 2026? Acredita que haverá renovação ou continuidade?
LL – Eu acredito na continuidade da gestão do governador Fábio Mitidieri. Pelo que tenho percebido nas minhas andanças pelo estado e pelo que acompanho das realizações da atual administração, há um desejo natural da população em manter esse caminho de avanços. Sergipe alcançou a menor taxa de desemprego da sua história, reflexo de uma política econômica responsável e que tem gerado oportunidades para milhares de famílias. Nredito que haverá uma renovação parcial, como é natural no processo democrático. Esse movimento fortalece a democracia e garante que o povo tenha sempre a oportunidade de renovar ou reconduzir aqueles em quem confia.