18/04/2018 as 14:00

As barreiras quebradas pelo veganismo

A gastronomia vegana conquista cada vez mais adeptos no mundo todo e mostra que mais do que uma dieta, é uma ideologia.

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As barreiras quebradas pelo veganismoFoto: Divulgação

É comum pensar que pessoas que seguem uma dieta vegana não possuem muitas alternativas do que comer, este é um mito que vem sendo desconstruído ao longo do tempo. Os veganos comem muito bem e de forma variada, existem diversos alimentos naturalmente veganos como arroz, feijão, legumes, hortaliças, frutas, castanhas e muitos outros que podem ser facilmente encontrados no mercado com custo acessível. Existem também muitas receitas típicas do Brasil que são adaptáveis à dieta vegana, como a feijoada por exemplo, basta incluir alguns ingredientes e retirar os de origem animal da receita.

 

Com o tabu do veganismo sendo quebrado e o interesse crescente por parte de um público variado, não somente os veganos, o mercado da gastronomia decide investir nessa área. Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) em 2016 já eram 5 milhões de veganos no Brasil. Dona de um restaurante vegetariano em Aracaju, Luna Safira, que atua há cerca de dois anos no mercado, percebe que cada vez mais as pessoas tomam consciência sobre a indústria da carne. “O número de simpatizantes é cada vez maior, não que necessariamente todos os nossos clientes sejam veganos ou vegetarianos, mas observamos uma abertura para experimentar”, observa Luna.

 

A SVB apontou que em 2016, existiam cerca de 240 restaurantes vegetarianos e veganos no Brasil. Além desses locais que trabalham somente com esse tipo de culinária, já é comum encontrarmos opções veganas em cardápios de restaurantes e lanchonetes “comuns”. O Selo Vegano, criado pela SVB, que certifica produtos veganos brasileiros, em menos de quatro anos de existência já contempla 239 produtos alimentícios e cosméticos, de 24 marcas diferentes.

 

No estado de Sergipe, segundo Luna, os fornecedores “se esforçam para entender essa nova dinâmica”, ela conta que consegue os vegetais que precisa com fornecedores e agricultores locais, porém alguns ingredientes ainda é preciso comprar fora do estado. Quanto ao público que procura por esse tipo de alimentação, ela acredita que é uma nova geração “dos 18 aos 40 anos”. Luna revela que ela e sua equipe não são veganos, pois usam muito queijo e laticínios na cozinha, mas são “apaixonados pelas possibilidades”. 

 

Para quem ainda não conhece essa ideologia, o veganismo é um estilo de vida que busca excluir das vestimentas, da alimentação e de qualquer outro aspecto a exploração da vida animal. Na alimentação, os veganos buscam consumir legumes, verduras, frutas e tudo o que não venha de origem animal como a carne vermelha ou branca, peixe, ovos, laticínios e mel. Luiza Allan, do instablog “Não Como Só Alface”, que oferece várias dicas sobre o veganismo, conta que não existe apenas um único motivo para ser vegana, “Sou vegana inicialmente por conta da libertação animal em sentido amplo, depois também penso na questão ambiental e na minha saúde pessoal”. O veganismo para ela significa “Ter consciência sobre o alimento que se consome, compaixão e empatia com os animais que também sentem dor e tem emoções, além do não financiamento do sofrimento animal e também do aquecimento global”. Luiza acredita que o mercado no estado vem crescendo bastante, “Mas estamos longe do que seria ideal” afirma.

 

A questão do aquecimento global é um ponto muito debatido dentro do veganismo, segundo dados do site Veganize, o metano, gás produzido durante o processo digestivo de bois, carneiros e vacas, têm o potencial para aquecer a terra 23 vezes mais rápido do que o dióxido de carbono. O óxido nitroso, que também é gerado pela agricultura animal, tem um potencial de cerca de 300 vezes maior de aquecimento global do dióxido de carbono.

 

Curso de gastronomia

 

Com o crescimento do mercado gastronômico vegano, as universidades devem se preparar para formar profissionais capacitados para atender esse novo público. A coordenadora do curso de Gastronomia da Universidade Tiradentes, professora Kátia Viana De Souza, enfatiza que o curso oferece a “disciplina de Cozinha Saudável que traz em seus temas a cozinha vegana”.

 

Mesmo o espaço sendo ainda bem limitado, existem os workshops, oficinas e cursos alternativos que trabalham com a culinária vegana para os profissionais e o público que tem interesse na dieta. A professora Kátia também acredita no potencial da cozinha vegana, “Como a cozinha vegetariana, a cozinha vegana vem crescendo e tem seu potencial à medida que ela for compreendida”.