10/09/2018 as 09:45

Cirurgia

Endometriose: única forma de prevenção é mantendo os exames em dia

Especialista conta que a ausência do tratamento pode levar à infertilidade definitiva e a limitações físicas

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Endometriose: única forma de prevenção  é mantendo os exames em dia

Você já deve ter ouvido falar de alguém que sofre de Endometriose. Mas por que essa doença tem se tornado cada vez mais comum entre as mulheres? Primeiro, é importante saber que a Endometriose é uma condição na qual o endométrio - mucosa que reveste a parede interna do útero - cresce em outras regiões do corpo.

Normalmente, essa formação de tecido ectópico ocorre na região pélvica, fora do útero, nos ovários, na bexiga, no intestino, no reto e no peritônio, delicada membrana que reveste a pélvis. Porém, esse tecido também pode crescer em outras partes do corpo.
Infelizmente ainda não se sabe o que causa a doença, portanto, a única prevenção que pode ser feita é estar com exames ginecológicos em dia. Para saber mais sobre o assunto, acompanhe a entrevista abaixo com o especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Dr. Kelso Passos, pós-graduado em Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva pelo Hospital Sírio Libanês (SP).

REVISTA DA CIDADE – O que é a endometriose? Quem é mais propensa à doença?
KELSO PASSOS - A Endometriose representa uma afecção ginecológica comum, atingindo cerca de 10 a 15% das mulheres no período reprodutivo e de até 3% a 5% na fase pós-menopausa. Estima-se que o número de mulheres com endometriose seja de seis milhões no Brasil e aproximadamente 180 milhões de mulheres no mundo.
Endometriose é definida pelo implante de estroma e/ou epitélio glandular endometrial em localização fora da cavidade endometrial (camada interna do útero), podendo comprometer diversos locais, entre eles: o miométrio (camada muscular do útero), ovários, peritônio, ligamentos útero-sacro e redondo, região retro-cervical, septo reto-vaginal, reto, retossigmóide e sigmóide, íleo terminal, ceco, apêndice, bexiga e ureteres, e localizações extra-pélvicas já evidenciadas e publicadas em artigos científicos como: diafragmática, pulmonar, cerebral, cutânea, etc.

RC – Existe meio de evitar? Como seria?
KP - Como ainda não ficou esclarecido o que causa a endometriose, a prevenção, se existir, é uma incógnita.

RC – Como se dá o diagnóstico?
KP - O diagnóstico atualmente é através da história clínica minuciosa, exame físico, ultrassonografia para pesquisa de endometriose, ressonância magnética. A videolaparoscopia como método diagnóstico está em desuso, isto deve-se à alta especificidade dos métodos de imagem, principalmente à ultrassonografia feita por profissional habilitado.

RC – Quais são os principais sintomas?
KP - Os sintomas causados mais comuns são: cólica menstrual de forte intensidade, incapacitante, dor pélvica crônica, dor durante as relações sexuais, desconforto urinário, dor ao evacuar e infertilidade.
Porém, cerca de 10% das mulheres que têm a doença não apresentam sintomas.

RC – Se não tratada, a doença pode causar que tipo de problema no organismo?
KP - A ausência do tratamento pode levar à infertilidade definitiva, limitações físicas cada vez maiores e mais duradouras devido à dor crônica de forte intensidade, inclusive passando a ocorrer fora do período menstrual, sintomas específicos e às vezes muito graves, de acordo com o local que a doença se proliferou, como por exemplo, a obstrução intestinal causando abdômen agudo e levando a cirurgias emergenciais, perfuração intestinal causando sangramento retal; na bexiga pode causar sangramento urinários, infeções e inflamações recorrentes, dentre outros.

RC – Como funciona o tratamento? Tem cura?
KP- Por se tratar de uma doença que até o momento não existe cura, o tratamento consiste em proporcionar uma melhor qualidade de vida para a paciente, preservar sua fertilidade quando possível, e fazer com que a paciente volte a ter uma vida normal, quando conseguimos a eliminação ou diminuição significativa dos sintomas tais como: cólica menstrual incapacitante, dor durante as relações e a dor ao evacuar.
O tratamento cirúrgico é indicado na maioria dos casos.
O tratamento medicamentoso sempre é associado.
Todos estes tratamentos são supressivos e não curativos pelo que a recorrência da doença é a regra depois da sua descontinuação. A terapêutica medicamentosa da endometriose deve ser encarada como um tratamento de longa duração tal como qualquer outro utilizado em doenças inflamatórias crônicas. Os analgésicos podem ser utilizados no tratamento da dor, isoladamente ou em associação a um tratamento hormonal.

RC – Em quais casos a cirurgia é indicada? O problema é cessado de uma vez por todas?
KP - O tratamento cirúrgico geralmente é indicado em casos de infertilidade, dor acentuada que não melhora com o tratamento clínico, processo aderencial que cause sintomas secundários, lesões grandes e principalmente infiltrativas.
Na cirurgia preconiza-se que seja feita a exérese completa das lesões em todos os seus sítios de uma única vez.
A cirurgia idealmente preconizada é laparoscópica, sendo convencional ou assistida por robô.

RC – É verdade que as adolescentes também são acometidas pela doença? Como isso acontece e por quê? O tratamento é diferenciado se diagnosticada desde cedo?
KP - Sim, a doença pode se manifestar desde a primeira menstruação, ou seja, na adolescência. A causa como citamos é desconhecida, para qualquer idade.
Quanto mais cedo o diagnóstico, mais facilmente a doença será controlada. Nesta fase são menos frequentes os casos que precisam de cirurgia.

RC - Em Sergipe o número de casos de Endometriose aumentou? A que se deve esse aumento na sua avaliação?
KP - Não só em Sergipe, como no mundo, o número de casos vem aumentando, acredito que pela maior divulgação e estudo sobre a doença, chamando cada vez mais a atenção das pacientes e profissionais, aumentando assim o número de diagnósticos.

RC - Muitas mulheres não conseguem engravidar devido à endometriose! Caso façam o tratamento, elas podem conseguir realizar o sonho de ser mãe?
KP - Cerca de 90% das mulheres que têm infertilidade é por causa da endometriose, porém o inverso não é verdadeiro, ou seja, não podemos afirmar que 90% das mulheres que têm endometriose vão ter infertilidade.
Sendo assim, conseguir engravidar ou não depois do tratamento vai depender diretamente do estágio que a doença foi diagnosticada, sendo que a gravidez pode ocorrer espontaneamente ou por técnica de fertilização.
Finalizamos reforçando o pedido para que todas as mulheres façam visitas periódicas aos ginecologistas, e que estas sejam iniciadas idealmente antes da primeira menstruação.
A dor física e emocional da endometriose é real, então deve sempre ser valorizada e investigada, pois os transtornos causados por ela afetam várias áreas da vida mulher: social, trabalhista, amorosa, emocional, etc.