17/12/2018 as 12:38

Cuidados

Dezembro Laranja: fique atento e proteja-se do sol nesse verão

Dermatologista esclarece sobre a campanha e alerta para os cuidados básicos de proteção

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Dezembro Laranja: fique atento e proteja-se do sol nesse verão

Aqui no Nordeste nem precisamos esperar o verão chegar para sentirmos o sol “torrando” literalmente a pele. Como já estamos no final do ano, mesmo em dias encobertos por nuvens não se deve esquecer da proteção solar. Como forma de conscientizar a população sobre o câncer de pele, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) criou o Dezembro Laranja, com a proposta de fortalecer a importância da utilização de medidas fotoprotetoras e do diagnóstico precoce. Este ano, o tema é “Se exponha, mas não se queime”.
Para participar da campanha, basta acessar o site e compartilhar o conteúdo nas redes sociais, utilizando as hashtags #dezembrolaranja e #controleosol. Também é possível alterar a foto de perfil no Facebook e no Twitter usando o aplicativo da campanha. De acordo com a Sociedade de Dermatologia, o diagnóstico precoce do câncer de pele é fundamental para o sucesso do tratamento. A campanha reforça, portanto, a necessidade das chamadas atitudes fotoprotetoras de fácil execução no dia a dia do brasileiro.
Segundo a dermatologista Dra. Tatiane Andrade, a incidência do câncer de pele aumentou significativamente nas últimas décadas, configurando um verdadeiro problema de saúde pública. “Nesse cenário atual, a campanha do Dezembro Laranja é destinada à conscientização da população quanto à necessidade de avaliar seus sinais ou pintas com relação à simetria, tamanho, cor, crescimento, alterações como sangramento ou coceira. Em casos de sinais alterados ou aparecimento de novos, o paciente deve buscar avaliação do dermatologista”, afirma, acrescentando que outro ponto importante da campanha é esclarecer a população sobre a necessidade da proteção solar como medida preventiva principal contra o câncer de pele. Fique mais informado através da entrevista com a especialista logo a seguir.

REVISTA DA CIDADE - A partir de qual idade as pessoas devem se preocupar com a possibilidade de ter câncer de pele?
TATIANE ANDRADE - De maneira geral, o risco do aparecimento do câncer de pele é maior após os 40-50 anos; porém, a lesão que surge nessa faixa etária, muitas vezes, está associada à exposição solar indevida que ocorreu na infância, adolescência e fase adulta anterior, pelos efeitos cumulativos do sol na pele. Para se ter uma ideia, a ocorrência de mais do que cinco queimaduras solares durante a infância duplica o risco de desenvolver melanoma. Dessa forma, as medidas preventivas devem ser iniciadas a partir dos 6 meses de vida. Deve ser lembrado que os pacientes portadores de diversas pintas devem sempre, independentemente da idade, acompanhar seus sinais para identificar quaisquer alterações e periodicamente devem ser avaliados pelo dermatologista.

RC - Quais são os grupos de risco e como essas pessoas devem se proteger?
TA - As pessoas mais claras (fototipos mais baixos) são as de maior risco, porém, indivíduos de pele morena e negra devem se proteger também. O grau de exposição solar é o fator crucial para o desenvolvimento de lesões de risco, e, por isso, trabalhadores rurais, pessoas que trabalham expostas e os amantes de praias e piscinas têm maior chance. Portadores de múltiplos sinais atípicos, bem como presença de sinais congênitos gigantes, são também importantes grupos de risco. As medidas de prevenção estão no uso de protetores solares com satisfatória proteção contra as radiações ultravioleta A e B, uso de vestimentas e acessórios adequados, bem como a consciência da necessidade de uma exposição segura do sol (evitar os horários entre 10h e 16h).

RC - A pessoa deve visitar o dermatologista com que frequência?
TA - Todos os pacientes que apresentam pintas devem ser avaliados pelo dermatologista a cada 6 meses a 1 ano; se identificada alguma alteração de cor, tamanho ou simetria das pintas ou aparecimento de lesões novas, a visita ao dermatologista deve ser imediata.

RC - Sinais e manchas pelo corpo podem indicar uma pré-disposição?
TA - Pacientes que já tiveram grandes e crônicas exposições solares apresentam pele com fotodano e com alterações pigmentares como as melanoses solares (manchas escuras) e leucodermias solares (manchas claras) que alertam o dermatologista sobre o risco aumentado de aquele paciente vir a desenvolver lesões pré-malignas ou malignas.
Pacientes portadores de múltiplas pintas de caráter familiar (genético) e sinal de nascimento gigante (maior ou igual a 20 cm) denotam uma maior chance de desenvolver o melanoma cutâneo (câncer de pele com pior prognóstico).

RC - Para quem usa maquiagem, é recomendado usar que tipo de protetor? Tem que passar antes da make? Tem muita variedade no mercado, para agradar tanto peles oleosas quanto secas, jovens e maduras, e até mesmo com cores diversas?
TA - Sim. Hoje temos fotoprotetores para todos os gostos. Diversos veículos: gel creme, spray, loção, creme, em base, em pó compacto e algumas opções estão associadas a antioxidantes como vitamina C, agentes clareadores, dessa forma já tratando manchas e qualidade da pele.
Os fotoprotetores em base e em pó compacto são uma revolução para o público feminino que não dispensa maquiagem. Nos pacientes com manchas e com melasma são uma ótima opção por possuírem protetores físicos e assim aumentarem o bloqueio da luz visível (lâmpada fluorescente, luz do celular, computador) sobre a pele. A luz visível não está diretamente associada ao câncer de pele, mas sim ao aparecimento de manchas como o melasma.

RC - Após a descoberta do câncer de pele, o dermatologista faz o acompanhamento junto com o oncologista?
TA - O carcinoma basocelular é o tipo mais comum de câncer de pele e o de melhor prognóstico. Quando o paciente é diagnosticado com esse tumor e a lesão é totalmente excisada, ele pode ser acompanhado somente com o dermatologista.
Se o paciente é diagnosticado com o carcinoma espinocelular (2° tipo mais comum), principalmente se apresenta invasão linfática, vascular ou perineural ou melanoma (tipo com maior mortalidade), é mandatório acompanhamento conjunto com o oncologista.

RC - Como alguém pode desconfiar de que pode estar com o problema? Como é o diagnóstico?
TA - Todo sinal antigo que começa a crescer, ficar com as bordas indefinidas, que surgiu novas cores ou começa a sangrar, coçar é uma lesão potencial de risco. Além disso, aparecimento de uma lesão nova, uma ferida, que sangra com facilidade, deve ligar o sinal de alerta.
Diagnóstico é clinico e /ou histopatológico. A patologia realizada de biópsia incisional (parte da lesão) ou excisional (após retirada de lesão completa com as margens recomendadas) confirma o diagnóstico e estabelece prognóstico.

RC - Como se dá o tratamento? Tem cura? Quais são os principais sintomas?
TA - Cerca de 80-90% dos cânceres de pele são não-melanoma, isto é, apresentam grandes chances de cura após retirada completa da lesão com as margens recomendadas, principalmente se o diagnóstico for estabelecido precocemente. Menos de 10% dos casos são melanomas, tipo em que o diagnóstico precoce é crucial. Melanomas mas finos avaliados pelo índice de Breslow podem ser curados pela exérese cirúrgica precoce. Os melanomas mais espessos apresentam maior chance de disseminação linfática e hematogênica, e, dessa forma, apresentam menos chances de cura. Nesses casos, além da exérese cirúrgica, paciente deve ser acompanhado pelo oncologista para avaliação do tratamento adjuvante.

RC - As pessoas ainda têm o costume de achar que só é pra usar protetor solar na praia? A luz que sai do computador também pode queimar? Os homens têm mais resistência a usar proteção?
TA - Parte significativa da população, independentemente do grau de instrução, ainda continua achando que só precisa usar protetor solar na praia, que não precisa usar por estar dentro do carro etc. Até mesmo em pacientes que já tiveram um tipo de câncer de pele tratado (e que apresentam 50% a mais de chance de uma nova lesão em comparação à população geral) encontramos resistência. E entre os homens a dificuldade em inserir o uso do protetor nos hábitos diários é maior. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia, estima-se que 76% dos homens e 62% das mulheres se expõem ao sol sem qualquer tipo de proteção.

RC - É mais comum que se imagina? Ou até que é algo que a sociedade tem aprendido a controlar?
TA - Infelizmente o câncer de pele continua sendo o câncer mais frequente com altos níveis de incidência, apesar de grande parte desses casos pudessem ter sido prevenidos. Trata-se de uma comorbidade que pode ser prevenida e para isso precisamos sempre cuidar da saúde da nossa pele com fotoproteção diária e com a ajuda periódica do seu dermatologista. Como o câncer de pele é um problema de saúde pública, é necessário medidas para tornar os protetores solares em algo mais acessível à população, principalmente para os de mais baixa renda, bem como que as estratégias de educação como a campanha Dezembro Laranja se tornem mais frequentes e estimuladas pelos órgãos governamentais.