22/01/2019 as 10:30

Hospital do Câncer

Trinta e duas mulheres com câncer morreram em SE

Com obras atrasadas há quatro anos, Hospital do Câncer não passa de promessa

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Trinta e duas mulheres com câncer morreram em SE

 Por Laís de Melo

Quatro anos se passaram desde que foi dada a primeira ordem de serviço para a construção do Hospital de Câncer do Estado, e o prédio ainda não saiu do chão. Em 2017, o Governo do Estado de Sergipe assinou pela segunda vez a ordem, renovando as esperanças de pacientes oncológicos, no entanto, infelizmente a promessa permanece no papel. Enquanto isso, durante os quatro anos, 32 mulheres com câncer, integrantes do Movimento “Mulheres do Peito”, morreram por causa da doença.

Para a dirigente do movimento, Sheila Galba, a morte das integrantes está inteiramente ligada à falta de tratamento adequado no Estado, já que a grande maioria delas dependiam do Sistema Único de Saúde (SUS).

“O que vivenciamos é falta de tratamento, interrupções constantes pela falta de medicamento, como estamos agora aguardando três que ainda não chegaram, o Aromasin, VP16 e Carboplatina. Sem contar quando máquinas quebram ou param para manutenção. A maioria dessas mortes foram sim por causa de um tratamento não digno”, afirma.


Segundo Sheila, quando uma paciente tem algum agravamento no quadro clínico, busca o Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) para atendimento. Chegando na unidade, a paciente não é atendida por uma porta de entrada específica e reservada somente para pessoas com câncer. Ela dá entrada pela mesma porta que todos os pacientes e é atendida na ala azul.

“O estado já oferece um atendimento de porta lento, isso pode agravar o estado da paciente oncológica. Se tivesse o hospital do câncer, o atendimento seria exclusivamente para o paciente oncológico, sem estar com outros pacientes com outras doenças. Até porque, uma gripe para nós é algo muito mais grave. Pode causar a piora de um quadro de doença. Sem contar que o Huse segue sobrecarregado. O hospital do câncer iria desafogar a demanda de lá”, explica a ativista, referindo-se às necessidades do tão esperado Hospital do Câncer de Sergipe.

Sheila conta ainda que a máquina de radioterapia do Huse está em manutenção e completa três dias parada. “Nos questionamos por que tem que parar para manutenção e no final de semana ela não funciona? Não poderia fazer a manutenção durante o final de semana? A cada dia que o paciente fica sem o tratamento, tem 3% de chance de o tumor voltar. Se tivesse o Hospital do Câncer, esse tipo de tratamento seria 24 horas”, acrescenta.

De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (SES), o governo está licitando uma empresa de engenharia para propor a forma de construção e elaboração do processo completo para licitação em Regime Diferenciado de Contratação (RDC). “Em seguida, será feita a licitação em RDC para a construção da obra, em um tamanho adequando às necessidades atuais, o que irá reduzir os custos de operação. Já foram duas licitações desertas e, na terceira, duas empresas se apresentaram e foram desclassificadas”, informa a SES.


Conforme a secretaria, o atraso na obra foi ocasionado pelo consórcio responsável pela realização da construção. “Ele não vinha cumprindo os prazos e o Governo decidiu por fazer o destrato”, informa.

Sobre a obra
Na última ordem de serviço dada pelo governo anterior, em 2017, a obra para a construção do Hospital contemplava 170 leitos, sendo 20 deles destinados à UTI (dez pediátricos e dez adultos), 30 consultórios para quimioterapia, seis salas de centro cirúrgico, ambulatório de todas as especialidades, Centro de Tecnologia para Transplante de Medula, dois aceleradores lineares, dois bunkers, radioterapia, braquioterapia, ressonância, tomógrafo e radiografia. Além disso, um setor de fisioterapia, enfermaria de emergência, consultórios para emergência, laboratório exclusivo para pacientes com câncer, farmácia oncológica, agência transfusional, lavanderia, cozinha, central de material de esterilização e almoxarifado próprios.