06/08/2019 as 11:07

ENTREVISTA

Movimento de revalorização destaca os benefícios da amamentação para mães e filhos

Pediatra Verônica Andrade tira todas as dúvidas sobre as políticas de incentivo ao aleitamento materno

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A Semana Mundial do Aleitamento Materno (SMAM) de 2019 tem o tema "Capacite os pais e permita a amamentação, agora e no futuro!”. Ela acontece de 1º a 7 de agosto e é celebrada por mais de 120 países, que se unem para relembrar a importância da lactação. A ação é um movimento estabelecido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), em 1992, em defesa da amamentação. Sua criação teve como foco promover a “Declaração de Innocenti”, de 1990, estabelecendo metas pelo direito da mulher em amamentar de forma segura, encorajando também a participação da sociedade, profissionais da saúde e profissionais da educação a se envolverem nessa questão, tanto durante o período da amamentação, quanto ao longo de toda a maternidade. Porém, amamentar é um assunto extremamente complexo e felizmente vem ganhando destaque, cada vez mais. Com o objetivo de tirar algumas dúvidas, o Revista da Cidade convidou a pediatra Verônica Andrade, uma das sócias do primeiro e, atualmente, único consultório amigo da amamentação em Sergipe, para um bate-papo. Acompanhe a seguir.

 

POR LARA AGUIAR

Equipe JC

 


REVISTA DA CIDADE - Entre os benefícios da amamentação para mães e filhos (a curto e longo prazo), quais você destaca como os principais?
VERÔNICA ANDRADE - Eu destacaria alguns benefícios que não podem ser substituídos por nenhuma fórmula fabricada no mercado como a transferência de anticorpos maternos para o bebê, além de ser um fator protetor para o câncer de mama para as mamães.


RC - Qual é a recomendação padrão hoje dos profissionais de saúde com relação à amamentação?
VA - O preconizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, corroborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é a amamentação exclusiva e sob livre demanda até os seis meses (sem a necessidade de nenhum outro alimento ou líquido) e complementado até os dois anos ou mais.


RC - Se a amamentação é recomendada até os dois anos, qual o motivo de tanto preconceitos e críticas para mães que acatam e seguem a indicação?
VA - Acredito que crenças antigas como a de que o “leite de peito não sustenta” aliada ao culto ao corpo feminino dificultam um pouco a amamentação de bebês após os seis meses. Mas vale lembrar que além da manutenção de muitos dos benefícios já conhecidos até o sexto mês, o aleitamento materno prolongado reforça relações afetivas entre mãe e filho, além de garantir suplementação de muitas vitaminas e oligoelementos necessários para a programação de um jovem saudável no futuro.


RC - Há um “movimento de revalorização” do aleitamento no Brasil? Caso haja, como e por que isso surgiu? Julga importante?
VA - Acredito que sim. Surgiu da percepção de que, apesar de todos os benefícios já citados e de conhecimento público, menos da metade das crianças brasileiras é amamentada ao seio. Qualquer movimento que esclareça e incentive a amamentação é de extrema importância. Nunca é demais reforçar todos esses benefícios.


RC - Quais são os principais obstáculos enfrentados hoje pelas mães para amamentar por mais tempo? As políticas de incentivo ao aleitamento levam em conta essas dificuldades?
VA - Além das dificuldades intrínsecas ao puerpério, a mulher ainda enfrenta a dificuldade do retorno ao trabalho, já que apesar da orientação de amamentar até os seis meses, a maioria dos empregos só garantem quatro meses de licença maternidade. Mesmo após a introdução alimentar, o bebê ainda precisa amamentar durante o dia. Existem sim algumas políticas com o intuito de incentivar o aleitamento como a ampliação da licença maternidade e o horário especial para amamentação. Mas ainda falta! Precisamos entender que amamentar hoje é programar um indivíduo saudável no futuro.


RC - O Pediatria Com Amor é o primeiro e único consultório, em Sergipe, que ganhou o registro de Consultório Amigo da Amamentação. O que isso quer dizer?
VA - Pra nós, apaixonadas por amamentação, é uma satisfação imensa. É ter a certeza que estamos contribuindo com uma ação que pode transformar toda uma geração.

 

RC - Qual a real importância da Semana Mundial de Amamentação e do mamaço?
VA - Acho que representatividade pode traduzir bem a importância de eventos como esse. Quando começamos a abordar um tema, que parece tão comum e simples, as pessoas começam a se encontrar, se perceber na mesma situação de outras e isso é muito fortalecedor. A mulher que amamenta precisa saber que ela não está sozinha. Que tem alguém passando pela mesma situação que ela, e quem sabe pelas mesmas angústias. Além de toda a informação trocada nesses encontros né? Ensinamos e aprendemos muito mais do que imaginamos.

Dra. Verônica Andrade: “Precisamos entender que amamentar hoje é programar um indivíduo saudável no futuro”