19/12/2019 as 08:38

Aracaju

1.600 crianças com câncer são tratadas no Huse

Número também abrange adolescentes em tratamento contra a doença. Conheça algumas histórias

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“Com 14 anos descobri o câncer na coxa esquerda e no pulmão. Eu jogava bola e a minha perna começou a inchar. Fui no posto e me disseram que era circulação. Foi aí que fui ao Huse e confirmei o diagnóstico. Fui fazer o tratamento em São Paulo e tive que fazer um transplante de fêmur, porque com a radioterapia o osso ficou frágil. O ano passado, no dia 19 de outubro, dia do meu aniversário, depois de sete anos descobri que o câncer voltou. Ele veio mais agressivo. Eles me disseram que era só uma bolhinha e que não era para eu me preocupar”.


O relato acima é da jovem Suiane Sales, hoje com 22 anos. Atualmente, ela enfrenta uma enorme batalha contra o câncer e carrega algumas cicatrizes físicas e emocionais. Caçula de uma família de seis irmãos, ela possui 1.100 parafusos na perna, duas placas de platina e um quadril de titânio. Mas, para além da dor, a jovem exibe uma serenidade de causar inveja.


“Já mudaram a quimio duas vezes porque não estava fazendo efeito. Se chegar o dia da minha morte, a minha missão já foi cumprida aqui na terra. O meu único medo é de deixar a minha mãe por aqui. Mas vou em paz, estou pronta”, diz Suiane.
Em contrapartida, sua mãe, a dona de casa Raimunda dos Santos, que acompanha o sofrimento de Suiane desde o início, comenta como a filha é forte. “Ela está preparada, mas eu não. Muitas vezes, quando estou com ela em casa, nós choramos muito abraçadas. Temos um apego muito grande. Ela é muito forte”, afirma Raimunda.

Histórias como a de Suiane estão cada vez mais comuns e trazem à tona o sofrimento de famílias inteiras que lutam contra o câncer infanto-juvenil, que, diferentemente do câncer do adulto, geralmente afeta as células do sistema sanguíneo e os tecidos de sustentação. Para se ter ideia da realidade, no maior hospital público de Sergipe, o Huse, atualmente 1.601 crianças e adolescentes realizam tratamento de combate à doença. Destas, 937 são submetidas a sessões de quimioterapia.
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima a ocorrência de 12 mil novos casos de câncer na faixa etária de zero a 19 anos este ano. Em Sergipe, essa incidência chega em torno de 90 casos novos, como explica o oncologista pediátrico Venâncio Gumes Lopes, que atua no Centro de Oncologia do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse).

Para ele, identificar os principais sinais e sintomas da doença é essencial para que o tratamento aconteça de forma rápida, diminuindo o estágio da doença. Segundo ele, quando se diagnostica cedo, encaminha ao serviço cedo, o tratamento é menos agressivo e maior é a chance de cura. Aliás, essas chances podem chegar até a 80% quando se descobre a doença em fase inicial.

“Os sintomas são comuns às próprias doenças da infância: uma febre que dura mais de oito dias sem causa aparente, caroços pelo corpo sem causas aparentes, manchas roxas na pele, perda de peso considerável, mudança brusca no ritmo intestinal, dores de cabeça associadas com vômitos matinais, desequilíbrios. Vale lembrar que nunca um sintoma vem isolado, ele sempre vem associado. Sempre friso que é importante ter um acompanhamento pediátrico regular correto, mesmo não tendo nenhuma doença, estando protegido vai ser mais fácil tratar”, explica o oncologista.

Quem também está enfrentando a doença é a pequena Kemelly Emanuely Silva. Ela tem apenas quatro anos e há um ano e três meses foi diagnosticada com um tumor no antebraço esquerdo. Segundo a mãe de Kemely, Cláudia Barbosa, a filha fez o tratamento, mas na manhã desta quarta-feira, 18, enquanto vestia a filha para a festinha do Grupo de Apoio à Criança com Câncer (Gacc), ela reclamou de uma dor no braço. Ao apalpar, percebeu um novo caroço no local.


“Eu apalpei e vi um carocinho no mesmo lugar. Não é fácil, porque passa um novo filme na nossa cabeça. O choro veio na hora e ela disse: ‘Mamãe, não chore, eu vou ficar boa. Hoje a gente vai para a festinha, então não chore’. Só eu sei o que eu tenho passado. É como se tirasse um pedaço da gente”, diz Cláudia emocionada.


O oncologista Venâncio explica que o câncer infanto-juvenil engloba vários tipos de câncer. As leucemias representam o maior percentual de incidência, seguida dos linfomas e tumores do sistema nervoso central. O oncologista pediátrico explica que todos devem estar atentos aos sintomas.

“São doenças difíceis, mas sabendo diagnosticar precocemente, é tratar para que a gente possa atingir os índices de cura, que geralmente giram em torno de 80% a 90%, de forma global. Claro que em alguns lugares a gente não atinge esse índice de sucesso porque chega tarde ao serviço de saúde, com a doença em estado avançado e não conseguimos resgatar essa criança”, finaliza Venâncio Gumes.


Em ambos os casos relatados, tanto Suiane como Kemely são assistidas pelo Grupo de Apoio à Criança com Câncer (Gacc), que presta um serviço integral nesse momento difícil vivido por estas famílias.

|Texto: Diego Rios

||Foto: André Moreira