11/01/2021 as 08:51

SAÚDE

Covid-19: pacientes questionam protocolos de medicação

Enquanto algumas pessoas recebem vários medicamentos, outras são orientadas apenas a se isolar

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Covid-19: pacientes questionam protocolos de medicação

Três mulheres em Aracaju com o mesmo diagnóstico: positivo para Covid-19. Porém, cada uma recebeu um protocolo de medicação e tratamento diferente. As três se conhecem e foram atendidas em unidades de saúde distintas na capital, onde foram orientadas de maneiras diferentes, o que fez com que algumas delas questionassem o protocolo médico adotado pelo profissional.

Fabiana Cristina do Carmo é baiana e estava em Aracaju quando recebeu o diagnóstico positivo para coronavírus em meados de novembro de 2020. Segundo ela, foi até a Unidade Básica de Saúde Geraldo Magela, no Conjunto Orlando Dantas, por volta das 18h. Por apresentar sintomas, ela foi atendida por um médico que indicou que ela fizesse o teste, que foi colhido na mesma hora pelas enfermeiras do local. “Ele não me receitou mais nada. Só me orientou sobre a quantidade de dias que eu precisaria ficar em isolamento social, que são 14 dias, porém contando a partir do primeiro dia de sintomas. Então, eu tinha mais nove dias para cumprir o isolamento. Depois de dois dias o resultado saiu, deu positivo e eu pedi para que uma amiga minha, que foi no mesmo posto para fazer o teste, pegar os remédios que eu achei que precisava tomar, mas, chegando lá, a enfermeira disse que se o médico que tinha me atendido primeiro não tinha receitado, então não precisava mais. Eu achei estranho, mas segui a orientação, e não tomei medicamento nenhum, apenas me isolei pelo tempo estipulado”, conta ela.

No caso da paciente Joelma Andrade o protocolo foi completamente diferente. Ela é sergipana e cabeleireira, portanto, tem um contato muito grande com pessoas diariamente. Ao aparecer os primeiros sintomas ela sabia que poderia ser o vírus. Então foi até o posto de saúde do Bairro Inácio Barbosa, a UBS Min. Costa Cavalcante, e conta que ao chegar no local e relatar os sintomas, foi orientada a tomar três medicamentos: ivermectina, azitromicina e prednisolona. “Eu já sai do posto com todos os medicamentos em mãos para tomar. Fiz meu teste lá, mas o médico disse que pelos meus sintomas eu já poderia começar a fazer o uso dos medicamentos, e sinceramente eu acho que foi o que me salvou”, acredita a paciente.

Após cerca de dez dias o resultado dela saiu com o detectável para o vírus, porém ela já se sentia bem e já tinha tomado todos os remédios recomendados pelo médico. Já o que aconteceu com a irmã de Joelma foi completamente diferente. Claudia Oliveira foi no posto de saúde do Bairro Santos Dumont no dia 18 de dezembro, onde fez o exame para Covid-19. Ela conta que não recebeu nenhuma orientação sobre como deveria proceder a partir daquele momento. Após 13 dias ela recebeu o resultado do exame, no dia 31 de dezembro. “Eu tomei um susto tão grande quando peguei o resultado e vi positivo, que eu cai no choro. A enfermeira tentou me acalmar na hora. Eu perguntei qual medicamento deveria tomar, mas ela disse que já tinha passado o período e que não precisava mais de remédios. Eu achei estranho, fiquei sem saber o que fazer. E até hoje eu sinto dor de cabeça, estou ficando com medo”, conta. Joelma ficou preocupada com a irmã quando soube do protocolo diferente utilizado pelo médico que a atendeu, e então decidiu repassar os mesmos medicamentos dela para Claudia. “Como assim ela está com sintomas e não vai tomar remédio nenhum? É um absurdo. No posto que eu fui já sai de lá com todos os medicamentos em mãos”, disse.

A discussão foi parar no grupo de Whatsapp da família Oliveira e muitos questionamentos foram levantados a partir de cada protocolo de atendimento adotado pelos médicos. Mas o que muitos não sabem é que para a Covid-19, em Aracaju, cada médico tem autonomia para atuar da forma como julgar procedente. Bem como segundo a Secretaria Municipal da Saúde, a prescrição medicamentosa é conduta médica e depende da avaliação do profissional ao atender o paciente. “A secretaria possui protocolo de orientações para tratamento de pacientes com Covid-19 desenvolvido pela equipe técnica. O protocolo pondera a sintomatologia, a gravidade e o tempo de evolução do paciente para recomendar o uso de terapia medicamentosa. O documento também descreve caso suspeito, provável e caso confirmado”, explica a SMS.

Além disso, conforme aponta o órgão, os medicamentos são disponibilizados para as unidades de Saúde da rede que trata pacientes suspeitos de Covid-19. Sobre pacientes que estão tomando remédio por conta própria, a orientação da secretaria é de que o paciente siga sempre as recomendações médicas e evite automedicação. Por se tratar de um vírus novo e que somente nesta última quinta-feira, 7, teve eficácia da vacina comprovada de 78% e 100% contra mortes, casos graves e internações, os medicamentos utilizados até o momento não são aprovados pelas autoridades médicas e sanitárias para prevenir ou tratar a Covid-19 no Brasil ou em qualquer outro país. Os remédios utilizados servem somente para o controle de sintomas, para prevenir infeções e tentar evitar o avanço da doença com fármacos já conhecidos e usados para outras doenças. Por isso também, que a utilização de medicamentos para pacientes positivados para o novo coronavírus é uma decisão do médico, que o faz seguindo a necessidade de cada paciente diante dos sintomas e a gravidade da doença.

Por Laís de Melo
Foto: Jadilson Simões