20/05/2021 as 10:47

QUALIDADE DE VIDA

Saúde mental: A importância da atividade física

Com o avanço nas pesquisas na área da saúde, a OMS reconheceu que a falta de exercícios deixou de ser uma preocupação meramente estética para se transformar em um grave problema de saúde pública

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Em 1946, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu o termo saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”. Essa definição revolucionou o senso comum existente acerca do tema, visto que, observou-se que estar saudável vai muito além do aspecto físico.

Notou-se, ainda, que a sanidade mental e as vivências sociais do indivíduo também são de extrema importância para se viver de forma positiva e plena. Entretanto, por muito tempo criou-se a ideia de que as atividades e exercícios físicos serviam unicamente para tonificar o corpo e criar músculos e, consequentemente, não se tinha conhecimento do potencial desses movimentos físicos para a saúde mental e interior das pessoas.

Com o avanço nas pesquisas na área da saúde, a OMS reconheceu que a falta de exercícios deixou de ser uma preocupação meramente estética para se transformar em um grave problema de saúde pública, responsável por milhões de mortes a cada ano. Nessas observações, estudos apontaram que a sociedade vinha se modificando de acordo com a evolução tecnológica, o que nos leva a refletir sobre os impactos de uma rotina acelerada e vivida mais digitalmente que presencialmente. A vida agitada da contemporaneidade trouxe consequências quase que irreversíveis, como o desenvolvimento de problemas na saúde mental, que é um âmbito difícil de se diagnosticar e de realizar tratamentos.

A ansiedade e depressão, por exemplo, se tornaram as doenças do século, por se manifestarem em qualquer pessoa, independente da faixa etária, do contexto social ou da condição financeira. Foi a partir de muitos estudos que as entidades que pesquisam o assunto perceberam a ligação entre a prática de exercício e o bem-estar mental. E, a partir disso, foi comprovado que a vida ativa reduz os níveis de cortisol (hormônio do estresse), impulsiona a produção de serotonina, dopamina e endorfina (hormônios reguladores de humor e responsáveis pela sensação de bem-estar). Além disso, estudos realizados pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), indicam que a prática recorrente de exercícios reduz a incidência de transtornos em até 20%.

Para entender um pouco mais sobre os transtornos mentais da atualidade e poder questionar sobre o papel fundamental das atividades físicas na prevenção ou tratamento de transtornos mentais, a equipe de reportagem do JORNAL DA CIDADE conversou com o psicólogo Saulo Pereira Barros, que é mestre em Psicologia Social e Especialista em Psicologia, Organizações e Trabalho e conselheiro do Conselho Regional de Psicologia de Sergipe (CRP-19) e com o professor de artes marciais e personal fight, Dymitry Damianny, que atua com aulas de MMA, Muay Thai e jiu-jitsu para atletas e para iniciantes.

Para o psicólogo Saulo, ao falar de adoecimento, os termos mais coerentes seriam “transtornos” ou “psicopatologias”, sendo, segundo ele, o aspecto emocional um sinal ou sintoma de um quando patológico ou de saúde. “De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2015), quanto à prevalência de transtornos mentais foi possível observar um aumento de 18,4% no número de pessoas com depressão a nível mundial, o que correspondeu a 322 milhões de indivíduos à época.

Quanto ao Brasil, foi possível constatar um alto número de casos relacionados aos transtornos depressivos, pois cerca de 5,7% da população (aproximadamente 11,5 milhões de pessoas) sofre com a doença, que pode se apresentar, em geral, como transtorno depressivo maior, transtorno bipolar e também como distimia, que é um tipo de depressão crônica”, explica. “Outro grupo de transtornos assola a população brasileira, inclusive com dados de prevalências superiores, que são os transtornos de ansiedade, com cerca de 18,6 milhões de pessoas (9,1% da população). 

Os transtornos desse grupo mais comuns são: transtornos de ansiedade generalizada, transtorno de pânico, transtorno de estresse pós-traumático e fobia social”, acrescenta o especialista. Sobre a questão dos exercícios físicos, o profissional ressalta que “a execução de qualquer atividade física necessita da condução e posicionamento de um profissional da educação física”. “Há uma série de variáveis que interferem na prescrição e condução como a idade do indivíduo, maturação, adoecimento orgânico e mental prévio, intensidade da atividade, nível de desempenho, entre outros”, pontua.

Ainda conforme entendimento do psicólogo, há uma literatura vasta explicando e confirmando os benefícios da atividade física na saúde mental, principalmente em casos de depressão e ansiedade. A prática de mexer o corpo proporciona “a vivência de situação prazerosas, o aumento da autoestima, a redução de pensamentos desadaptativos (incluindo os suicidas), maior envolvimento social, ativação de áreas responsáveis pela memória, linguagem e criatividade, maior sensação de controle e de manejo do desempenho, e redução do retraimento”. Barros vai mais além e reitera que “os efeitos da movimentação do corpo para o mental podem ocorrer por mecanismos ou hipóteses diferentes”. “Há a hipótese das endorfinas, que sugere que a atividade física desencadeia uma secreção de endorfinas capaz de provocar um estado de euforia natural, por isso, aliviando os sintomas da depressão e da ansiedade. E há o mecanismo que regula a neurotransmissão da noradrenalina e da serotonina a partir da atividade física, igualmente aliviando os sintomas da depressão”, complementa.

O professor de artes marciais Dymitry Damianny, por sua vez, traz o assunto para o momento atual de pandemia e alerta que mais do que nunca os exercícios são essenciais para manter a saúde física e mental em dia, já que estão todos em isolamento. “O trabalho tem sido difícil, por conta das restrições impostas pelo governo e pelo receio de muitos alunos, devido a pandemia. Contudo, respeitando a todas as medidas, os benefícios da atividade física nesse período são enormes, pois todos estão muito estressados e ansiosos devido a toda essa situação mundial e o esporte serve como válvula de escape para essas emoções”, esclarece.

Ainda sobre a importância do esporte para uma melhor qualidade de vida, ele defende a prática como fomento de melhorias para a saúde física e emocional. “As atividades físicas são importantes para o bem-estar mental, uma vez que, no treino, os alunos descarregam toda a ansiedade e o estresse diário, e isso faz com que eles relaxem e evitem vários problemas de saúde, como a depressão, por exemplo”, finaliza.

|Da equipe JC

||Fotos: Arquivos pessoais