16/01/2023 as 09:54

ENTREVISTA

Câncer de cólon e reto: oncologista fala sobre fatores de risco, sintomas e tratamento

O câncer do intestino grosso, também chamado câncer de cólon e reto, ou câncer colorretal, é uma doença que atinge indistintamente homens e mulheres

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No início dessa semana, a cantora Preta Gil divulgou que foi diagnosticada com câncer de intestino. Pelas redes sociais, ela contou que foi internada depois de sentir um desconforto abdominal. O câncer do intestino grosso, também chamado câncer de cólon e reto, ou câncer colorretal, é uma doença que atinge indistintamente homens e mulheres.

                                                          

Quando as células cancerígenas estão na parede do cólon ou do reto, podem crescer nos vasos sanguíneos ou vasos linfáticos. A partir daí, elas podem ir para os linfonodos próximos ou outros órgãos. Para falar um pouco sobre o assunto, suas causas e tratamentos, o BEM ESTAR dessa semana entrevistou o Oncologista Clínico, Dr. Ricardo Emanuel de Oliveira Ramos. Ele é coordenador da Oncologia D’or – Hospital São Lucas. Confira:

 

BEM ESTRA - Quais os principais sinais e sintomas do câncer colorretal?

  1. RICARDO RAMOS -O câncer colorretal pode não apresentar manifestação clínica, mas as principais são: diarreia ou constipação, sensação de que o intestino não esvaziou completamente, sangue nas fezes, fadiga e cansaço, dor abdominal, sensação de inchaço abdominal, perda de peso sem motivo. Em alguns pacientes pode manifestar-se como uma anemia assintomática. É importante reforçar que muitos destes sintomas ocorrem em outras doenças como hemorroidas, infecção intestinal ou síndrome do intestino irritável, que não tem qualquer relação com câncer. Entretanto, na presença de qualquer desses sinais e sintomas um médico especialista deverá ser consultado.

 

BEM ESTAR - É mais comum em homens ou em mulheres? A partir de que idade?

  1. RICARDO RAMOS- O câncer colorretal é o segundo mais comum entre homens e mulheres, correspondendo a 9,2% dos casos de cânceres em homens e 9,7% em mulheres. Cerca de 90% dos casos serão diagnosticados acima dos 50 anos, mas pode ocorrer também em indivíduos mais jovens principalmente quando há uma história familiar em parentes de primeiro grau, em pacientes com doenças inflamatórias intestinais como Doença de Chron ou retocolite ulcerativa, ou em casos de doenças hereditárias que predispõem a formação de pólipos intestinais.

 

BEM ESTAR - Quais os fatores de risco? Má alimentação pode contribuir?

  1. RICARDO RAMOS- Os principais fatores de risco modificáveis são: obesidadeem especial, o ganho de peso durante a fase de adulto e meia idade, sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de álcool. Definitivamente alguns tipos de alimento causam câncer colorretal. A ingesta de 50 gramas de carne vermelha processada (frios e embutidos) ao dia aumenta em 16% o risco de câncer colorretal. Já o consumo de 100 gramas de carne vermelha ao dia aumenta em 12% o risco. De maneira menos robusta, há associação de dieta rica em gordura e o desenvolvimento de câncer colorretal.  Ou seja, muitos tipos de alimentos associados ao estilo de vida ocidental moderno, como alimentos processados e do tipo fast food têm contribuído para o crescente maior número de casos no mundo. Fatores de risco não modificáveis como as já citadas doenças inflamatórias intestinais e doenças hereditárias aumentam muito o risco de câncer colorretal.

 

BEM ESTAR - Qual a região onde ele incide?

  1. RICARDO RAMOS-O câncer colorretal abrange tumores que acometem um segmento do intestino grosso (o cólon) e o reto.

 

BEM ESTAR - É possível prevenir? Como deve ser feito o rastreamento?

  1. RICARDO RAMOS-Grande parte desses tumores se inicia a partir de pólipos, lesões benignas que podem crescer na parede interna do intestino grosso. Um pólipo pode levar 10 a 15 anos para se transformar em câncer. Com o rastreamento, os pólipos podem ser diagnosticados e retirados antes que eles tenham a chance de se transformar em câncer. Recomenda-se que o rastreamento regular inicie aos 45 anos. As pessoas em bom estado de saúde e expectativa de vida superior a 10 anos devem manter o rastreamento regularmente até os 75 anos. Entre 76 e 85 anos, a decisão de fazer o rastreamento deve estar baseada em suas preferências pessoais, expectativas de vida, estado geral de saúde e histórico de rastreamento anterior. Acima dos 85 anos não recomenda-se o rastreamento. Opções de exames incluem exames das fezes anuais como a pesquisa de sangue oculto e exame imunoquimico fecal. Exames que diagnosticam pólipos e câncer: colonoscopia a cada 10 anos, colonografia CT (colonoscopia virtual) a cada 5 anos, sigmoidoscopia flexível a cada 5 anos.

 

BEM ESTAR - Como é feito o diagnóstico?

  1. RICARDO RAMOSAtravés da colonoscopia diagnóstica que é similar a colonoscopia de rastreamento, mas é realizada quando uma pessoa está apresentando sintomas, ou porque algo anormal foi encontrado em outro exame de rastreamento. Nesse exame, o médico observa todo o cólon e o reto com um colonoscópio, um tubo fino e flexível, com uma pequena câmera de vídeo na extremidade. O colonoscópio é inserido através do ânus no reto e no cólon, com o paciente sob anestesia. Instrumentos especiais podem ser passados para biopsiar ou remover lesões ou pólipos suspeitos.

 

BEM ESTAR - Como é o tratamento?

  1. RICARDO RAMOS-O tratamento do câncer colorretal depende do tamanho, da localização e da propagação ou não para outros órgãos. De modo geral, doenças em estágios iniciais são tratadas prioritariamente com cirurgia seguido ou não de quimioterapia com intuito de reduzir o risco de recidiva do câncer. Especificamente nos casos de tumores do reto na maioria das vezes a radioterapia também é parte fundamental do tratamento. Em situações onde a doença já está disseminada para outros órgãos, a base do tratamento é a quimioterapia e em alguns casos selecionados imunoterapia ou terapias alvos moleculares podem ser utilizadas.

 

BEM ESTAR - Qual a incidência no Brasil e em Sergipe?

  1. RICARDO RAMOS -Dados do INCA estimam para 2023 no Brasil cerca de 22 mil casos para homens e 23,6 mil para mulheres. Em Sergipe estima-se 160 novos casos em homens e 260 novos casos em mulheres.

 

BEM ESTAR - O câncer colorretal tem cura?

  1. RICARDO RAMOSDesde que diagnosticado precocemente a grande maioria dos casos tem cura. Doenças em estágios iniciais quando os tumores ainda estão localizados no intestino, sem disseminação regional ou para outros órgãos a taxa de cura ultrapassa os 90%. Por isso é fundamental a realização de exames periódicos de rastreamento visando um diagnóstico precoce e que as pessoas procurem um médico caso venham a ter sinais ou sintomas sugestivos da doença.