10/01/2025 as 15:19

SAÚDE MENTAL

Casos de ansiedade em crianças têm sido recorrentes nas USFs

Irritabilidade, isolamento, tristeza excessiva, estes são alguns dos sinais que devem ser observados no comportamento de crianças e adolescentes, pois podem indicar sofrimento mental

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Casos de ansiedade em crianças têm sido recorrentes nas USFsReprodução

Dados da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), vinculada ao SUS, apontaram que entre 2013 e 2023 o número de crianças e jovens acometidos por transtornos de ansiedade está maior do que dos adultos. Segundo o estudo, em 2023, a taxa de jovens de 10 a 14 anos atendidos por transtornos de ansiedade atingiu 125,8 a cada 100 mil atendimentos. Já nos adultos acima de 20 anos, a taxa é de 112 a cada 100 mil.

A psicóloga infantojuvenil da Rede de Apoio Psicossocial da Secretaria Municipal da Saúde de Aracaju (Reaps/SMS), Patrícia Barreto, percebeu o aumento de crianças e adolescentes no atendimento para tratamento de ansiedade. Ela relaciona o aumento a alguns fatores, como o uso excessivo de telas. “No mundo em que estamos vivendo, do imediatismo, a questão da tecnologia, do virtual, as telas a todo tempo oferecendo muitas coisas, faz com que as crianças acabem se perdendo do mundo físico e do contato pessoal. Isso tem atrapalhado muito o desenvolvimento psicológico, emocional dessas crianças, como também atrapalha na escola e no estabelecimento de vínculos”, explicou Patrícia.

A frustração é um sentimento comum e que todo ser humano vai experimentar, é o que diz os especialistas. “A frustração faz parte da construção emocional das pessoas. As crianças têm tido dificuldade de assimilar essa emoção em lidar com o ‘não’. Algo que eu percebo bastante é a questão dos limites que não são aceitos pelo fato da criança entender que o agora é o único momento que existe. Vivem muito no imediatismo e isso gera ansiedade e consequentemente pode levar a uma depressão também”, diz Patrícia.

Dentro do sofrimento mental há situações ainda mais preocupantes, como a automutilação. “Já crianças que diziam ‘não sei por que eu existo, qual o sentido da vida?’ querem desistir de tudo, encontram-se num vazio existencial muito grande. É preciso estabelecer essa construção social e familiar. Eles pensam em tirar a própria vida através da dor, de pequenos cortes, cicatrizes que começam a fazer no corpo e isso pode levar à tentativa de suicídio”, lamentou a especialista.

Sobre a responsabilização, Patrícia disse que as crianças e adolescentes estão em uma fase de construção emocional e cognitiva e, por isso, o apoio familiar é tão importante. “Os pais vivem numa vida corrida de trabalho e acabam compensando a ausência com coisas materiais. Esse excesso, também, não é positivo. Sufoca. E continua existindo a falta da companhia dos pais, o jantar junto, um passeio no parque, o contato físico, um beijo, um abraço. E essa falta também contribui para gerar frustrações”, detalhou  a psicóloga.

Até a forma de brincar atual pode interferir nos sentimentos e emoções das crianças e adolescentes, como explicou a psicóloga infantojuvenil. “A gente já não brinca como antigamente. As brincadeiras são tecnológicas e na frente de uma tela. As crianças não se frustram mais por ter recebido uma bolada ou por cair. Isso também gera um reflexo para o desenvolvimento dessa criança e adolescente diante das frustrações que a vida traz”.

A secretaria Municipal da Saúde oferta serviço de atendimento psicológico em oito Unidades de Saúde da Família (USF): Antônio Alves (Atalaia), USF Dr. Marx de Carvalho (Ponto Novo), USF Manoel de Souza (Sol Nascente), USF Ministro Costa (Jardim Esperança), USF Lauro Dantas (Bugio), USF Joaldo Barbosa (Bairro América), USF Cândida Alves (Santo Antônio), USF João Cardoso (José Conrado de Araújo).