02/09/2025 as 11:29
BAIXA ADESÃOEm Sergipe, 217 pessoas estão na fila de espera por um transplante de córnea, de acordo com dados da Central Estadual de Transplantes.
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Em Sergipe, 217 pessoas estão na fila de espera por um transplante de córnea, de acordo com dados da Central Estadual de Transplantes. O alto número chama a atenção e reforça a importância da campanha Setembro Verde, que busca sensibilizar a população sobre a doação de órgãos e tecidos, um gesto capaz de devolver qualidade de vida a milhares de pessoas. Em 2024, Sergipe realizou 228 transplantes de córnea, um dos procedimentos mais eficazes da oftalmologia moderna e que pode devolver a visão a quem teve o tecido comprometido por diferentes causas.
O oftalmologista Allan Luz, presidente da Sociedade Sergipana de Oftalmologia (SSO), destaca que a cirurgia beneficia pessoas em qualquer fase da vida. “Já realizei transplantes em bebês de seis meses e em idosos de 90 anos. Sempre que a alteração está na córnea, é possível recuperar qualidade de vida”, afirma. Entre os motivos mais frequentes que levam pacientes à fila estão o ceratocone, doença que provoca deformidade da córnea e pode ter origem genética ou ser agravada pelo hábito de coçar os olhos; as distrofias corneanas, alterações degenerativas que geralmente surgem após os 40 ou 50 anos; além dos traumas oculares, que deixam cicatrizes e comprometem a visão. Também há registros de recém-nascidos com opacidades corneanas logo após o nascimento.
O especialista ressalta que a córnea possui uma particularidade em relação a outros órgãos: ela não tem vasos sanguíneos. Essa característica reduz significativamente a possibilidade de rejeição. “A córnea não tem sangue, por isso o risco de rejeição é bem menor do que em outros transplantes. Isso torna o procedimento ainda mais seguro”, explica.
Os avanços técnicos também trouxeram melhorias importantes. Até a década de 1990, a maioria das cirurgias era feita substituindo toda a espessura da córnea. Hoje, é possível realizar o transplante lamelar, que troca apenas a camada comprometida. “Esse tipo de técnica diminui a chance de rejeição, acelera a recuperação e reduz a necessidade de colírios. É um método moderno e muito eficaz”, detalha o oftalmologista. Apesar dos avanços, Sergipe ainda enfrenta um desafio relevante: a baixa adesão das famílias à doação. Entre janeiro e março de 2025, foram realizadas 30 entrevistas com familiares de potenciais doadores no estado, das quais 17 resultaram em recusa, o que representa cerca de 57%, segundo dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos. “Diversas pessoas poderiam voltar a enxergar se houvesse mais autorizações. A doação é um gesto de amor e solidariedade”, ressalta o presidente da SSO. Em Sergipe, a coleta das córneas é realizada pelo Banco de Olhos, e os transplantes acontecem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em centros autorizados.