30/08/2021 as 11:53

ARTIGO

*Onze homens supremos? Não, onze homens no Supremo*

No filme “12 Homens e uma Sentença” um rapaz de 18 anos, de origem latina, é acusado de matar o próprio pai a facadas

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No filme “12 Homens e uma Sentença” um rapaz de 18 anos, de origem latina, é acusado de matar o próprio pai a facadas. Ele vai a julgamento e doze jurados devem decidir se ele é culpado ou não do assassinato. Se condenado, a sentença, que deve ser unânime, é a pena de morte. Para não serem identificados, cada jurado recebe um número. Logo de início, a maioria deles acredita que as evidências são muito fortes e que a decisão deve ser rápida e o jovem deve ser condenado. Mas um dos jurados, o de nº 8, discorda.

Ele diz não acreditar na inocência do rapaz, mas também tem dúvidas se ele é culpado. Ele então passa a usar argumentos baseados na lógica e na razão, e não na emoção. A partir desse impasse, o filme nos leva a enormes refl exões sobre o cuidado que se deve ter ao julgar alguém, mesmo que as provas pareçam ser, à primeira vista, irrefutáveis. Para quem ainda não assistiu fica a dica. Para quem já viu, vale a pena ver de novo para refletir.

No Brasil de hoje, um corpo de juízes parece estar seguindo um roteiro completamente diverso do proposto nesse fi lme. Nesse roteiro, as pessoas podem ser acusadas, investigadas e condenadas por apenas um juiz, sem a presença do Ministério Público e sem direito à defesa prévia. Um tribunal de exceção onde a sentença é proferida e executada por apenas um homem. Os crimes podem nem ter acontecido, mas a suposição de que irar acontecer já pode transformar em réu qualquer um dos mortais brasileiros. Parece até que estou exagerando. Mas não estou. Quem afi rma isso, solenemente, é o próprio presidente da corte. “Se um cidadão anuncia que já está montando uma operação para invadir o Supremo Tribunal Federal, nós vamos esperar essa invasão? Não, temos de agir imediatamente, e posteriormente enviar para o Ministério Público, como ocorreu com o inquérito da fake news”, disse Luiz Fux, durante um evento, na quinta-feira (26).

E acrescentou: “Se há uma ameaça, a ameaça já é passível de intervenção pelo Judiciário”. Ou seja, o crime nem precisa existir, pois apenas a presunção de que deverá acontecer pode transformar o cidadão em criminoso aos olhos do STF. Uma beleza, como se diz no popular. Seria cômico se não fosse trágico. Hoje as nossas conversas pessoais ou em grupos privados de WhatsApp, se vazadas, são passíveis de ações que vão desde a visita da Polícia Federal às 6h da matina em sua casa, para cumprir mandatos de busca e apreensão, até uma possível prisão. Sempre sem o direito à defesa prévia. Ou seja, a Liberdade está se esvaindo, de forma lenta e gradual, pelas mãos dos que juraram defendê-la. Esse é o verdadeiro perigo que está a nos rondar e que não está sendo percebido por muitos brasileiros. Ou até percebido por alguns, mas ignorado em nome do Poder.

Fiquem atentos, pois esse comportamento poderá ser replicado, também de forma lenta e gradual, por muitas instâncias dos poderes espalhados pelo país. A liberdade de opinião, a liberdade de imprensa e até a de ir e vir estão sendo solapadas diante de nós. Aquele que poderia nos defender, o Congresso Nacional, está repleto de políticos acusados em inquéritos no Supremo.

Enquanto outros, baluartes da honestidade, sucumbem à vaidade. Esses têm como meta aparecer no noticiário das mídias nacionais, custe o que custar. Para isso, eles sabem, basta brandir uma frase de efeito por semana que eles terão lugar garantido no pódio das manchetes. Vaidosos, também estamos de olho em vocês. Não custa repetir: o povo não é bobo, abaixo o engodo. “E La Nave Va”. *Artigo do jornalista Hugo Julião* *@magazinenoticias*