06/09/2021 as 19:31

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TB entrevista Dr. José Hamilton Maciel

O nosso entrevistado é o conceituado psiquiatra Dr. José Hamilton Maciel, médico com larga vivência no tema que vamos abordar: suicídio e saúde mental.

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O nosso entrevistado é o conceituado psiquiatra Dr. José Hamilton Maciel, médico com larga vivência no tema que vamos abordar: suicídio e saúde mental. O mês de setembro conhecido como “Setembro Amarelo” é dedicado a conscientização sobre a importância da prevenção ao suicídio. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos casos de suicídio poderiam ser evitados. Infelizmente o estigma e o tabu relacionados em torno de transtornos mentais e suicídio, faz com que muitas pessoas que estão pensando em encerrar suas próprias vidas ou que já tentaram suicídio em outra ocasião não procurem ajuda. O número de suicídios entre jovens com idade escolar cresceu 18% no Brasil nos últimos anos. Em setembro, a discussão sobre o tema é intensificada em virtude da campanha “Setembro Amarelo”. Apesar do mês de referência para tratar do assunto, ele não deve ser endereçado apenas nesta época do ano. O trabalho de sensibilização e auxílio deve ser contínuo. Dr. Hamilton é o fundador e diretor da Clínica de Repouso São Marcello, médico humano, respeitado e experiente na sua especialidade, e ex presidente da Federação Brasileira de Academias de Medicina (FBAM). Vamos ao bate papo.

THAÏS BEZERRA - O que é o setembro amarelo?
José Hamilton Maciel - O dia 10 de setembro já era considerado como “Dia Nacional contra o Suicídio” mas, graças a sensibilidade do Presidente da Associação Brasi leira de Psiquiatria” (ABP), tendo em vista a gravidade do problema, resolveu transformá-la em Campanha Nacional, estendendo-a por todo o mês e a denominou de “Setembro Amarelo” no sentido de provocar um debate nacional com todos àqueles que direta ou indiretamente estão envolvidos com o problema além de tentar conscientizar os que sofrem, tentando reestruturá-los e mobilizar entidades e a população como um todo.

TB - Há muito tabu e preconceito em relação ao suicídio. Isso dificulta que o tema seja abordado de maneira mais clara e objetiva?
JHM - O tema suicídio é milenar e praticamente todas as sociedades ao longo dos anos absorveram, infelizmente, de forma negativa e preconceituosa, criando um estigma, pelo medo que se criou; incorporou-se nefastas concepções até religiosas condenando àqueles que praticam tais atos, impedindo de poder gozar até das bênçãos sacrossantas. Se constituiu pois em um tabu e instalou-se um muro intransponível, difícil de ultrapassá-lo. Daí a necessidade de tentarmos integrar todos visando o bem maior – evitar e salvar vidas.

TB - Quais cuidados precisamos de ter ao falar de suicídio?
JHM - Precisamos agir, conscientizando a população. Aí a imprensa exerce um papel fundamental, precioso, de conscientização, devendo evitar por sua vez, dar publicidade sem detalhar as formas e maneiras com se processou o agir do suicida, uma vez que ao fazê-lo, poderá estar contribuindo para que outros que tenham pensamentos assemelhados, possam concluir que àquele gesto foi uma solução e tentar imitá-lo.

TB - Qual é o tamanho desse problema?
JHM - Segundo estimativa da OMS que monitora os dados mundiais relativos a mortalidade por suicídio, em 2020 haveria 1.53 milhões de pessoas com mortes por suicídio no mundo e um número 20 vezes maior de tentativas.

TB - Em que momento a família deve procurar o psiquiatra?
JHM - Geralmente a ideia suicida é manifestada sutilmente, atrás de um retraimento das pessoas ou sentimentos de tristeza, entre outros sintomas que nem sempre é percebida por aqueles que são próximos a elas; mas ao se notar gestos assemelhados, deve-se encaminhar para uma primeira observação, a um profissional da área (psicólogo/psiquiatra) para conduzir tecnicamente e melhor o caso.

TB - Como essa campanha colabora com a população?
JHM - Alertando sobre riscos e sinais precoces da pessoa, indicar serviços e locais que possam auxiliar para uma acompanhamento e melhor atenção.

TB - Na sua avaliação o que causa esse transtorno nas pessoas?
JHM - A causa do suicídio é multifatorial, desde fatores demográficos, doenças crônicas, famílias desestruturadas, sentimentos de abandono, decepções, tóxicos, ausência de sentimentos religiosos, etc. Segundo Emile Durkein fundador da sociologia em seu livro que se tornou um clássico - “Suicídio”, mostra que as causas do auto-extermínio não só tem fundamento individual mas também social.

TB - Geralmente a pessoa que pensa em tirar sua vida costuma dar sinais?
JHM - Geralmente sim. Existem estudos que estimam em torno de 2/3 das pessoas que morrem por suicídio falam claramente sobre sua intenção. A comunicação é um sinal de risco importante. TB - Como evitar um suicídio na família? JHM - Considera-se que alojamento seguro, períodos adequados de repouso, boa alimentação e resiliência emocional reduzem os fatores de risco e são maneiras protetoras contra o componente suicida.