17/10/2021 as 08:56

ENTREVISTA

TB Entrevista Fábio Ursulino

O nosso entrevistado hoje é Fábio Ursulino, Diretor Técnico e Sócio do Hospital de Olhos de Sergipe

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O nosso entrevistado hoje é Fábio Ursulino, Diretor Técnico e Sócio do Hospital de Olhos de Sergipe. Formado em medicina pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), fez residência na Santa Casa de São Paulo e depois especializações em catarata e glaucoma na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). E fez Mestrado em oftalmologia na Universidade de Edimburgo (Escócia). Profissional que segue o exemplo do pai, o saudoso Dr. Mario Ursulino, um oftalmologista que deixou a sua marca de honradez e competência, respeitado e reconhecido no Brasil. Vamos ao bate papo!

THAÏS BEZERRA - O exame médico oftalmológico requer qual frequência?
FÁBIO URSULINO - O exame oftalmológico de rotina é recomendado uma vez por ano, especialmente após os 40 anos, idade a partir da qual várias doenças oftalmológicas se tornam mais comuns. Todavia, isso pode variar a depender do caso. Pacientes com glaucoma, por exemplo, muitas vezes requerem acompanhamento semestral, ou até mais frequente dependendo da gravidade da doença.

TB - Qual o momento ideal para levar os filhos ao oftalmologista?
FU - Ao nascimento, as crianças devem ser submetidas ao teste do olhinho, um teste simples que tem capacidade de identificar alguns problemas congênitos. Ao longo do primeiro ou segundo anos de vida, é interessante observarmos se existe algum grau de óculos muito anormal que possa estar prejudicando o desenvolvimento da visão. Depois disso, a criança em idade escolar (a partir dos 5 anos) deve ter um acompanhamento frequente para identificação dos principais erros refrativos (miopia, hipermetropia e astigmatismo).

TB - Qual a principal queixa em consultório?
FU - Com certeza, a baixa da acuidade visual (visão turva ou embaçada). É o momento em que a maioria das pessoas percebe que precisa ir ao oftalmologista. O mais comum são os erros refrativos (mudança no “grau de óculos”), porém existem diversas causas oculares para baixa visual, algumas reversíveis, outras irreversíveis. Infelizmente não temos uma cultura forte na área da prevenção, então muitas pessoas só vão ao médico quando percebem que algo está estranho, o que pode, dependendo da causa, não ter mais volta. É muito melhor descobrir uma doença em uma consulta de rotina do que esperar a doença te forçar a ir ao médico.

TB - “Forçar a vista” piora o “grau dos olhos”?
FU - Na maioria das idades não. Surgem sintomas como cefaleia ao final do dia ou turvação visual após um tempo da atividade, mas isso não tem a capacidade de alterar o estado refrativo do olho (“grau dos olhos”). Todavia, na infância e adolescência, a história é diferente. Existem diversos estudos mostrando que pouco tempo de exposição solar e atividades para perto com frequência elevada induzem a formação e aumento da miopia. Estamos presenciando um boom da miopia no mundo. Em países como o Japão, mais de 60% dos jovens hoje são míopes, contra 12% em 1950.

TB - Visão dupla é uma anomalia de fundo neurológico ou oftalmológico?
FU - As duas origens são possíveis. Em geral, a diplopia (visão dupla) monocular, ou seja, que continua presente quando apenas um dos olhos está aberto, tem causas oftalmológicas (como uma posição anormal do cristalino). Já a diplopia binocular, aquela que só aparece com os dois olhos abertos, geralmente está relacionada com causas neurológicas, como paralisias de nervos cranianos. É importante uma avaliação rápida nos casos de aparecimento súbito, pois outras doenças mais graves podem iniciar sua manifestação clínica com a diplopia.

TB - O que causa escurecimento súbito de visão ao se levantar de forma rápida?
FU - O escurecimento súbito da visão (amaurose fugaz) com rápida recuperação geralmente não tem relação com doenças oftalmológicas, mas sim questões vasculares ou neurológicas. A causa mais comum nesse caso é uma queda da pressão arterial pela mudança da postura corporal (hipotensão postural), especialmente após longos períodos deitado. É mais comum em idosos e tem alguns fatores de risco, como o uso de medicamentos para controle da pressão arterial. É importante nesse momento fazer uma avaliação clínica geral para identificarmos o que possa estar favorecendo esse processo.

TB - A limpeza dos olhos do bebê deve seguir quais procedimentos?
FU - É importante sempre utilizar uma gaze ou lenço que possam ser descartadas logo após (e não ficar limpando com algum pano que vai ser reutilizado a todo momento, isso pode levar mais bactérias do que limpar os olhos). A limpeza pode ser feita com a gaze umedecida com água ou soro fisiológico, mas o mais importante é que essa limpeza deve ser externa (limpando as pálpebras e cílios com os olhos fechados). Nenhuma dessas substâncias deve, rotineiramente, entrar nos olhos.

TB - Lavar os olhos com água boricada ou soro fisiológico é saudável?
FU - Essa pergunta complementa a anterior. Nossos olhos são naturalmente lubrificados pela lágrima, que tem uma composição e pH específicos. Logo, para limpar especificamente os olhos, o ideal são substâncias que simulem a lágrima, como os diversos lubrificantes oculares. Tanto a água boricada quanto o soro fisiológico não possuem composição adequada para o contato com a superfície ocular, então podem ser mais prejudiciais do que benéficos. Mas claro que toda regra tem sua exceção. Em uma lesão química ocular (como cair uma tinta ou substância tóxica no olho), o mais importante é lavar o olho abundantemente para retirar esse agente tóxico do olho, seja com soro fisiológico, água de filtro ou torneira, o que conseguir primeiro.

TB - Qual foi o maior ensinamento que seu saudoso pai Mário Ursulino deixou enquanto médico oftalmologista?
FU - Uma das maiores lições que recebi do meu pai pode ser resumida nessa frase: o bom médico não é aquele que consegue elucidar qualquer diagnóstico ou realizar uma cirurgia com maestria, mas sim aquele que consegue marcar a vida do seu paciente. Todo dia de consultório, eu me surpreendo com algum relato de algum paciente, muitas vezes emocionado, me explicando como meu pai marcou sua vida. Do paciente mais simples ao mais famoso, é impressionante como ele conseguia tocar o coração de tantas pessoas. Então me inspiro muito nisso para seguir na profissão, tentando desenvolver tanto o lado médico quanto o lado humano, para cuidar melhor dos nossos pacientes.