26/06/2023 as 10:00
ENTREVISTANosso entrevistado dessa semana é o médico Ricardo Gurgel. Ele tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Saúde Materno-Infantil.
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Logo nas primeiras semanas de vida, a imunização das crianças deve ter início com a aplicação das vacinas BCG e de Hepatite B. Ao longo dos primeiros anos, várias outras vacinas são indicadas para que o crescimento da criança seja saudável, por isso, a importância em manter a caderneta vacinal das crianças em dia, especialmente, como estratégia preventiva contra doenças e infecções logo nos primeiros meses de vida. Nosso entrevistado dessa semana é o médico Ricardo Gurgel. Ele tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Saúde Materno-Infantil, atuando principalmente nos seguintes temas: fatores de risco e etiologia de doenças infecciosas prevalentes na infância (diarreia aguda e IRA), saúde perinatal, prevalência e epidemiologia de crianças em situação de risco biológico e social, crianças de rua. Estudioso e atuante, ele fala um pouco sobre vacinação infantil. Confira:
Thaís Bezerra - Como o senhor avalia as atuais campanhas de vacinações no Brasil e em Sergipe?
Ricardo Gurgel - O Brasil tem uma longa tradição com a implementação da vacinação para a sua população, com um dos maiores conjuntos de vacinas disponíveis, gratuitamente, para toda a população brasileira. Isso é um patrimônio que precisa ser preservado. Junto a isso, as campanhas regulares de vacinas sazonais e aquelas que precisam ser reforçadas, também sempre foram disponibilizadas. O principal foco sempre deve ser manter boa cobertura das vacinas rotineiramente disponíveis à população, porque isso garante que as doenças imunopreveníveis fiquem controladas. Com a ênfase nos últimos tempos de vacinar a população em campanhas, pela necessidade urgente da pandemia, o foco de completar o Calendário Vacinal regular ficou um pouco esquecido. Mas precisa ser recuperado e já temos ações nesse sentido. Iremos melhorar!
TB- Os pais têm dado a devida atenção para vacinar seus filhos?
RG - Infelizmente não tem sido dada a devida importância à manutenção dos Calendários Vacinais. Um pouco porque as doenças que são imunopreveníveis que, por estarem ainda com contingente grande da população vacinada, a população mais nova se acha protegida delas. Vale o popular "o que os olhos não veem o coração não sente". Mas, se a atenção adequada não for dada, essas doenças podem retornar. Essa deve ser a prioridade atual.
TB - Os médicos pediatras têm alertado os pais?
RG - A maior parte dos médicos que trabalham na atenção primária, principalmente os Pediatras, têm feito esse trabalho incansavelmente.
TB - Hoje seria o caso de termos uma campanha mais regional, digo estadual para vacinar as crianças?
RG- Sempre trazer os problemas e suas soluções para perto das pessoas que vivem/fazem parte desses problemas é a melhor maneira de enfrentá-los. Assim, campanhas com focos mais regionais, enfrentando as particularidades locais podem ser bem mais eficientes e resolver os problemas e ampliar as Coberturas Vacinais.
TB - Quais são as vacinas mais essenciais para as crianças nos dias atuais? Essas vacinais têm aplicações gratuitas?
RG- A prioridade deve ser manter a Caderneta de Vacinação atualizada no tempo previsto. Com isso estaremos prevenindo as principais doenças que acometem essa faixa etária e irá reduzir a necessidade de buscar atendimento médico e tornar esse atendimento mais eficiente. Isso vale, por exemplo, para as vacinas BCG, Tríplice Bacteriana e Viral, etc, mas também para a Vacina Influenza, que é dada anualmente para as populações de maior risco, como os menores de 5 anos e idosos e gestantes. Todas elas são dadas gratuitamente nas unidades de saúde!
TB- A saúde das crianças devem ser prioridade das prefeituras, governos estaduais e federal? Por quê?
RG - A meu ver, a saúde da crianças deve ser sempre prioridade de todos os níveis de governo, mas nao é. Todo ano temos essa sobrecarga de atendimentos e internações por doenças respiratórias nas crianças e novos leitos e estruturas de atendimento a elas não são criados. Se fossem adultos que ficassem empilhados nas urgências como as crianças estão ficando nesses tempos, tenho certeza que a mobilização seria bem maior. Ocorre também uma falta de prioridade e colocar Pediatras para atender as crianças. Porque muitas vezes elas são atendidas por médicos acostumados e treinados para atender adultos e não as atende corretamente. Isso faz com que elas tenham que ser deslocadas por dois a três serviços até terem seus problemas resolvidos. Assim os três níveis de governo deveriam priorizar o atendimento das crianças como elas merecem. E os pais devem priorizar o seguimento de puericultura e a vacinação delas para elas crescerem mais saudáveis.
TB- Nos dias de hoje, a saúde das crianças é mais fragilizada? Por que?
RG - Tem ocorrido maior possibilidade de transmissão de doenças contagiosas pela aglomeração das moradias e locais de vivência. Antes as crianças eram criadas em ambientes mais saudáveis, com maior contato com ar livre e locais onde eles desenvolviam sua imunidade mais consistentemente. Hoje elas ficam restritas em suas casas ou vão para ambientes fechados com muita gente. A chance de se contaminar é maior e elas estão menos protegidas. Os pais devem priorizar a ida das crianças aos ambientes saudáveis, conviver com elas nesses ambientes e torná-las mais saudáveis e felizes.