04/06/2018 as 11:57

ENTREVISTA

“Vamos ampliar ainda mais os nossos negócios. Vamos abrir novas lojas da Jeep, da Fiat e da Michelin”

Henrique Brandão Menezes, presidente do Grupo Samam

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Nesta entrevista exclusiva concedida ao Jornal da Cidade, Henrique Brandão Menezes fala de passado e de futuro com a desenvoltura dos que têm consciência de terem dado o melhor para atingir os objetivos e realizar os sonhos, mas que, em momento algum, pensam em estagnar. “Não podemos parar de crescer. Abro uma loja aqui, outra ali, e dou emprego para as pessoas trabalharem”, justifica. Aliás, os 3,3 mil colaboradores das 13 empresas que fazem parte do Grupo Samam são a razão de tanto trabalho ao longo de tantas décadas. Quer saber mais sobre o que pensa este senhor de sorriso farto e que é exemplo de empreendedorismo? Basta ler a entrevista. Então, boa leitura!

 

Jornal da Cidade – O senhor vai completar 80 anos em julho, demonstrando muita alegria e vivacidade no ano em que o Grupo Samam completa 90 anos. Como analisa essa conquista?

 

Henrique Brandão Menezes – Meu temperamento é esse, graças a Deus. Sou uma pessoa simples que valoriza a vida e o trabalho. Quanto ao nosso grupo, somos o maior recolhedor de ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] no Estado. É um orgulho muito grande. E nunca fomos multados. Nunca tivemos uma multa na Secretaria de Estado da Fazenda.

 

JC – Se o senhor pudesse resumir a história dos 90 anos do Grupo Samam, como o senhor a descreveria?

HBM – É uma história de vida e trabalho. A nossa história é uma história de família – e de família unida. Com muito trabalho, trabalho, trabalho e mais trabalho. Não tive tempo de fazer política. Não tive tempo de nada. Só pensando e fazendo a empresa. E vamos ampliar ainda mais nossos negócios, exemplo de uma nova loja da Jeep, da Fiat e da Michelin – todas na Coroa do Meio, perto do shopping.

 

JC – Como surgiu a ideia de vender carros em Sergipe?

HBM – Iniciamos os nossos trabalhos no ramo de veículos em 1973, com os caminhões da Iveco, dois anos depois, com a inauguração da fábrica da Fiat, passamos a ser concessionária autorizada Fiat no Estado.

JC – Quem foi o grande incentivador para a mudança de segmento (de ferragens e louças para automóveis)?

 

HBM – Com certeza foi o senhor José Rolemberg Leite, governador da época. Ele que era amigo do doutor Aureliano Chagas – governador de Minas e sócio da Fiat. Quando a empresa italiana chegou ao Brasil associou-se ao governo de Minas. Depois do pedido de Leite, tudo se transformou em realidade.

 

JC – Depois da Fiat, qual a segunda marca que o Grupo Samam começou a representar no Estado?

 

HBM – A Hyundai. A empresa chegou para agredir o mercado e isso nos atraiu. Em Seguida começamos a buscar um produto ainda mais refinado e adquirimos a Honda. Marca que oferece um produto bem acabado.

 

 

 

JC – Quando o grupo pensou em entrar no ramo da locação de veículos?

 

HBM – Precisávamos dinamizar o nome Fiat no mercado sergipano. Então lançamos o Consórcio Samam e a locadora de veículos, tudo isso pensando em popularizar a marca Fiat. Não estávamos em uma posição confortável no mercado. Mas conquistamos a liderança graças às estratégias corretas. Hoje não tem como pensar em Samam e não lembrar de Fiat, são quarenta anos de dedicação a uma marca.

 

 

JC – A trajetória do Grupo Samam é marcada pela diversificação: da Casa das Louças para chegar à usina de álcool e energia. Fale um pouco sobre isso.

HBM – A diversificação dos negócios foi um plano meu. Quando fui trabalhar com papai, vi a Casa das Louças pequenininha, arrumada. Mas aí veio o supermercado. Mamede [Paes Mendonça] veio para cá com o supermercado, e eu fui olhar. Meu pai disse: “Você deve entrar nisso, meu filho”. Eu falei: “Papai, é comida, e comida mexe com a barriga do povo. Quero não”. Tinha alguma coisa me dizendo para não entrar no segmento de supermercado. Eu tinha medo. Pensava: “O povo com fome, se entrar no supermercado, leva tudo”. Como agora a questão do desemprego. Desemprego é um perigo. Temos que dar emprego a todo mundo. Um pai de família desempregado vai matar, vai roubar, vai fazer o que for preciso para sustentar a família. Essa é a vida que nós vivemos. A minha tranquilidade hoje é essa com o País: gerar emprego. Nós não podemos parar de dar emprego. Então, não podemos parar de crescer também. Abro uma loja aqui, outra ali, e dou emprego para as pessoas trabalharem. O campo, a usina absorve muita mão de obra. Empreguei 2.300 pessoas pobres. Hoje, elas têm INPS, carteira assinada, plano de saúde, FGTS, que eles nunca tiveram na vida e hoje têm. Eles têm geladeira, têm televisão e recebendo todo mês. Isso me deixa feliz. Por isso, vou continuar trabalhando, criando empregos. Precisamos criar emprego. Ninguém pode dizer “Ah, estou rico, então, não vou fazer mais nada”. Não pode. Isso é egoísmo. Tem que trabalhar mais ainda para produzir para quem precisa. É obrigação nossa.

 

 

JC – Para investir no homem, no trabalhador como o senhor bem destaca, é necessário investir em novos projetos, em novos negócios. O que a sociedade sergipana pode esperar de novidade do Grupo Samam, no setor automotivo, por exemplo?

HBM – Todo brasileiro é apaixonado por automóvel. Eu também era. Vendia louça, ferragem, mas quando eu pensei em diversificar, aí apareceu a Fiat. Ela montou uma fábrica em Minas Gerais em sociedade com o governo mineiro. Ela começou a montagem, aí, eu comecei a correr atrás. Por sorte, Dr. José [Rollemberg] Leite [ex-governador de Sergipe] era colega e amigo de Aureliano Chaves, governador de Minas. Fui até Dr. José e pedi ajuda. Disse: “Preciso de uma carta sua para o governador Aureliano, pedindo a ele para nos nomear concessionários Fiat em Sergipe”. Ele respondeu: Pois não. Faço com muito prazer”. E assim o fez. Fui falar com o governador de Minas. Antes, passei pelo chefe de gabinete, que se comprometeu a mostrar a carta para Aureliano, que não pensou duas vezes: mandou nos nomear concessionários em Sergipe. Peguei o avião de volta e disse: “Olhe, papai, eles me levaram na Fiat. Lá, me disseram: “Eita, tem um bocado de pedidos aqui que são de Sergipe. Mas a concessão é sua. Vou lhe dar agora. Prepare-se, construa”. Ele me deu uma série de determinações, e eu prometi que iria cumpri-las. Eu tinha 38 anos. Naquela época, a minha luta era diversificar de qualquer jeito. Eu não podia ficar com a Casa das Louças só. O supermercado iria tirar meu movimento. Foram dois anos preparando a chegada da Fiat em Sergipe, simultaneamente à construção da fábrica em Minas Gerais. Aí, veio a Fiat Diesel Caminhões, e me nomearam concessionário. Depois, foi uma atrás da outra: a Honda, a Hyundai, a Volkswagen, a Scania.

 

 

JC – E quanto ao futuro. Quais seus planos?

HBM – A vida toda trabalhar. Trabalhar até o último dia quando a morte chegar. Aposentar? Nunca. Peço a Deus que me dê uma morte rápida. Não quero ficar em cima de uma cama. Meu pai trabalhou aqui num sábado, sentiu uma dorzinha e eu o levei ao médico no Rio. Fretei um avião, botei ele dentro e, quando chegou lá, depois dos exames, os médicos disseram que era um câncer em estado avançadíssimo e que meu pai só teria oito dias de vida. Falei para o médico: “Dope meu pai, doutor. Não quero que ele sinta dor de jeito nenhum. Com oito dias, meu pai morreu agarrado à minha mão. Esperou por mim no sábado. Ele faleceu aos 92 anos.

 

JC – E quanto às novas gerações da família e ao futuro do Grupo Samam com seus filhos, netos também envolvidos no negócio?

HBM – Eu tenho dois filhos e um genro a quem estou entregando a direção de tudo: Henrique, Manelito e Lourival. Lourival toma conta das empresas grandes de lá: a Iveco, a New Holland e Case. Meu genro é um rapaz direito, que trabalha comigo há 30 e tantos anos. Só tem um que não quis entrar no negócio da família, um genro que era muito independente, que queria ter o negócio dele. E ele se deu muito bem. Analisando hoje, acredito que a diversificação dos negócios é que acabou agregando todo mundo. Quando a gente se encontra lá em casa para o almoço, é para falar de trabalho. Ninguém fala da vida dos outros. A gente só fala da empresa. E eu participando de todas as conversas (risos).

 

JC – Há intenção de diversificar ainda mais, indo para outro segmento totalmente diferente dos que existem hoje?

HBM – Claro! Não pode parar não. Uma fábrica de tecido é uma coisa necessária para colocar ao lado da fábrica de açúcar. Quando a usina estiver pronta, daqui a cinco, dez anos, eles é quem devem fazer. Aproveitar a força da usina, com pressão e com vapor, para colocar uma fábrica de tecidos.

 

 

JC – Qual o segredo do sucesso, o diferencial do Grupo Samam?

HBM – Diversificação. E concentração de recursos. Tudo o que se ganhava se reinvestia no mesmo negócio. Tudo o que se ganha se reinveste. Quer comprar um imóvel, quer viagem para a Europa? Vá com seu dinheiro. Com dinheiro da firma, não. Dinheiro da firma é para aumentar, aumentar, aumentar. Porque, quando a crise chega, pega a empresa capitalizada e, assim, é mais fácil suportá-la.