14/01/2019 as 11:24

O patrono da praça Olímpio Campos

Amâncio Cardoso Professor dos Cursos de Turismo do IFS (Instituto Federal de Sergipe). E-mail: acneto@infonet.com.br

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Uma das praças mais emblemáticas do Centro Histórico de Aracaju homenageia um dos mais influentes líderes políticos do final do século XIX e início do século XX de Sergipe. Refiro- me à praça Olímpio Campos, onde se localiza a Catedral Metropolitana de Aracaju. Olímpio de Souza Campos, nasce em 26 de julho de 1853, no engenho Periquito, município de Itabaianinha, sul de Sergipe. Em 1860, Olímpio Campos frequenta aula particular do professor Ricardo Montargil no mesmo município. De 1861 a 1863, ele se matricula nas aulas públicas de primeiras letras do professor Izaias Horácio de Souza, no bairro Além da Ponte, na cidade de Estância, sudeste de Sergipe. Em 1864, de volta à Itabaianinha, Olímpio estuda latim com o professor José dos Santos Bomfim. Logo depois, muda-se para Lagarto-SE para continuar o curso com o mesmo professor, até o fim de 1865.

O jovem Olímpio estuda preparatórios no Recife entre 1866 a 1868. Depois, muda-se para Salvador e resolve adotar a vida eclesiástica em 1869, frequentando o Seminário da Bahia como aluno externo, residindo na casa do professor estanciano Severiano Cardoso (1840-1907). Ainda no Seminário, Olímpio faz o curso de Ciências Eclesiásticas, entre 1870 e 1873. Nesse tempo, aos 20 anos, por não possuir a idade canônica para ser presbítero, espera até 1877 para receber as Ordens Menores e celebrar sua primeira missa na igreja do Seminário da Bahia.


Em outubro de 1877 a julho de 1878, o padre Olímpio volta à Itabaianinha para coadjuvar o pároco local. De 1878 a fevereiro de 1880, torna-se vigário encomendado da freguesia de Vila Cristina (atual Cristinápolis). Em seguida, assume a Paróquia de Aracaju, onde passa 20 anos, de 1880 a 1900, com as interrupções exigidas por cargos políticos.


Quanto a sua atuação na política de Sergipe, Olímpio Campos se candidata a deputado provincial pelo Partido Conservador. Nessa ocasião, vence duas legislaturas seguidas: 1882/1883;

1884/1885. Nesse período, o padre político se destaca na luta pelo retorno do ensino religioso na Escola Normal de Sergipe, excluído pelo presidente da província em 1881. No período de 1885 a 1889, Olímpio Campos foi eleito e reeleito ao cargo de Deputado Geral do Império.
Já durante a República, ele adere imediatamente ao novo regime, e é saudado na porta de sua casa em Aracaju por correligionários do tempo da monarquia e por republicanos históricos; dentre eles Fausto Cardoso (1864-1906), que faz oração ao novo regime e aos novos adeptos.

Em julho de 1890, o padre Olímpio organiza o Partido Católico. Em 1891, ele é eleito deputado à Constituinte do Estado. Sendo a 1ª Constituinte dissolvida pela Junta Governativa, ele foi eleito deputado à nova Constituinte, presidindo a primeira Assembleia que elaborou as leis orgânicas do Estado de maio de 1892. Em 1893, Olímpio Campos assume a vaga de deputado federal deixada por Felisbelo Freire (1858-1916), sendo reeleito para as legislaturas de 1894-1896 e 1897-1899.


Entre 1899 e 1902, monsenhor Olímpio Campos assume o governo do estado de Sergipe. No comando executivo de Sergipe, Monsenhor Olímpio tentou trazer paz num estado que vivia tempos de caos político-administrativo, evitando o que classificou de “estreito partidarismo na administração, a desídia no funcionalismo, a subserviência na magistratura, a fraude no sufrágio eleitoral, a malversação nas finanças e a anarquia em todos os ramos do serviço público”. (2)


É a partir de 1902, com a indicação de seu secretário geral, Josino Menezes (1866-1939), ao governo por monsenhor Olímpio, que lideranças políticas do tempo do Império cindiram com o líder conservador. Desse modo, ele rompe com os poderosos oligarcas do tempo da monarquia, José Luiz Coelho e Campos (1843-1919) e Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (1825-1909), que passaram a fazer campanha contra o grupo olimpista durante o governo de Josino Menezes, de 1903 a 1905.


Para o governo seguinte, Olímpio Campos indica seu irmão mais velho, Guilherme Campos (1850-1923), para suceder Josino Menezes num mandato de 1905 a 1908; ao tempo em que elege seus aliados para a Câmara Federal, e ele próprio, Olímpio, ocupa o Senado. Neste contexto, evidencia-se a predominância do grupo olimpista, mas também amplia-se a indisposição dos seus adversários...”. (3)


O descontentamento com essa sucessão radicaliza a oposição. Em 10 de agosto de 1906, tem início a revolta armada que depõe e prende Guilherme Campos (governador), Pelino Nobre (vice) e o senador Olímpio Campos. Esse fato foi denominado pela historiografia de “Revolta de Fausto Cardoso”.


Entretanto, pressionado pelo Congresso Nacional, o presidente Rodrigues Alves (1848- 1919) envia tropas federais para intervir e repor o governo de Sergipe, reprimindo os revoltosos durante evacuação do Palácio do Governo. Nesse momento, há resistência da oposição e o deputado federal Fausto Cardoso é morto com um tiro de fuzil disparado por um militar da força interventora no dia 28 de agosto de 1906.
Por conseguinte, pouco mais de dois meses depois, em 9 de novembro de 1906, o monsenhor e então senador Olímpio Campos foi assassinado, com vários tiros e duas facadas, pelos filhos de Fausto, Humberto e Armando Cardoso, na praça 15 de Novembro, centro do Rio de Janeiro. Com estes episódios, nossa memória política é marcada pelo que se denomina de Tragédia de Sergipe.

Em 1916, é erguida uma estátua em homenagem ao líder conservador católico, esculpida por Rodolfo Bernardelli e localizada na praça que leva o nome do homenageado, Olímpio Campos.
2 CAMPOS, Olímpio. Política de Sergipe. Revista de Aracaju, Prefeitura de Aracaju, n. 02, p. 23-42, 1944. Citação p. 31.
3 DANTAS, Ibarê. História de Sergipe. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2004. p. 30-31.