27/03/2023 as 08:37
COMPORTAMENTOEm 2022, foi registrado um total de 111 crimes deste tipo no Estado
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O tema racismo está em evidência nos últimos meses, sobretudo diante dos casos registrados dentro de um programa de reality show da Rede Globo. Há quem diga que o programa, apesar de ser de entretenimento, também serve como um laboratório da sociedade brasileira, onde os problemas são colocados em evidência, do machismo ao racismo.
Apesar de os casos de racismo estrutural e religioso vivenciados por alguns participantes pretos da casa mais vigiada chamarem atenção da população telespectadoras, tratam-se de situações corriqueiras no dia a dia. Muitas vezes ocorrem de uma maneira sutil, dentro de uma piada ou brincadeira sem graça; outra vezes são escancaradas, colocando pessoas em situações ameaçadoras, podendo chegar às vias de fato.
Há alguns anos, Isabela Soares, 23 anos, mulher negra e operadora de telemarketing, foi vítima de racismo dentro da empresa na qual trabalhava. Ela conta que estava em um período de transição capilar (período em que mulher decide voltar às origens do próprio cabelo, sem alisamentos), quando passou por uma situação constrangedora e discriminatória. “Quando aconteceu eu não tinha muita ideia do que significava, e só fui entender depois. Eu tinha visto um vídeo na internet, com dicas para dar mais volume no cabelo. Eu fiz no meu cabelo o passo a passo e consequentemente acabou gerando um pouco de frizz, o que eles chamam de assanhado. Deixei o cabelo bastante volumoso antes de ir para o trabalho e estava com a autoestima elevada. Quando cheguei lá todos começaram a me olhar travessado, e eu pensei que era porque estava muito bonito. Mas meu supervisor olhou para mim e riu, dizendo que estava parecendo que eu tinha colocado o dedo na tomada e ficado daquele jeito, ridículo”, relata Isabela.
Segundo ela, todos os colegas riram da situação e o cabelo volumoso acabou virando chacota, por estar tipo black power, para cima. “Depois disso eu não consegui mais usar meu cabelo dessa forma. Foi um processo muito doloroso, porque demorou para que eu pudesse voltar a entender que o problema não era eu, ou meu cabelo. O problema é que as pessoas são racistas e preconceituosas”, disse. De acordo com a delegada Meire Mansuet, as denúncias de crimes por injúria racial ou racismo têm aumentado bastante em Sergipe nos últimos anos, o que demonstra que a prática permanece latente na sociedade, embora alguns ainda teimem em dizer que não existe. Por isso, o racismo precisa ser combatido. “Enquanto sociedade, precisamos refletir o racismo estrutural, institucional e o racismo praticado na sociedade. Temos muitas denúncias de injúria racial, que ocorre quando são utilizadas palavras ou termos para ofender uma pessoa em virtude da cor da pele, e de racismo, que é quando a prática consiste em impedir uma pessoa de praticar algum ato. O que nos resta é aplicar a lei de forma bastante severa para que as pessoas se eduquem, para que seja realmente tirado da sociedade essa pratica discriminatória”, reitera a delegada.
Conforme os dados da Coordenadoria de Análise Criminal e Estatística (CEACRim), da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP), esse ano já foram registrados 43 casos de crimes raciais. Em 2022, o total foi de 111 crimes deste tipo, e em 2021, 60. “Com a nova lei sancionada pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, quando o autor ofende, diminui, menospreza qualquer pessoa em virtude da sua cor de pele, pode chegar a ser penalizado com cinco anos de reclusão. O racismo que é a pratica discriminatória, pode chegar até três anos de reclusão. E se o racismo for praticado através dos meios de comunicação, também pode chegar a cinco anos de pena”, explica a delegada.