30/10/2024 as 13:36
VIOLÊNCIAEntre 2020 e 2023, 810 pessoas foram mortas por agentes públicos em Sergipe, frequentemente acompanhadas das mesmas justificativas.
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Fernanda Spínola
ESTAGIÁRIA DA EQUIPE JC*
A morte de Ithalo dos Santos Nascimento, um jovem de 25 anos, trouxe à tona que este não é mais apenas um caso isolado de violência policial no estado. Segundo dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública de Sergipe (SSP), entre 2020 e 2023, 810 pessoas foram mortas por agentes públicos em Sergipe, frequentemente acompanhadas das mesmas justificativas: “morte em confronto”, “reação à injusta agressão” e “troca de tiros”.
Em 2022, Genivaldo de Jesus foi assassinado pela polícia após uma abordagem violenta, sendo justificada pela alegação de que ele “resistiu ativamente a uma abordagem”. Essas narrativas revelam um padrão preocupante de letalidade e impunidade, levantando questões sobre a transparência e a responsabilidade dos que deveriam fazer a segurança no estado.
Um estudo realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) apontou que Sergipe apresenta a maior proporção de mortes provocadas por policiais em relação ao total de óbitos violentos de crianças e adolescentes. Com uma taxa de 36,9%, o estado lidera o ranking de letalidade policial entre jovens de 10 a 19 anos, superando em quase três vezes a média nacional, que é de 18,2%.
Em valores nominais, Sergipe gastou em 2023, mais de R$ 10 milhões em repasses para a segurança pública, um valor muito maior que o empregado por estados como Tocantins, Piauí, Acre, Roraima e Amapá. Quando o valor gasto é dividido por habitante, o estado de Sergipe é o que mais gastou com segurança no Nordeste em 2022. Em 2022 foram gastos R$ 581,52 com segurança pública por cada habitante em Sergipe. Abaixo, na sequência, vem o estado de Alagoas (R$ 519,19). O estado que menos “investiu” nessa área foi o Maranhão (R$ 304,36).
GRANDE ARACAJU
Aracaju tem sido o principal palco nos registros de violência policial no estado. Nos últimos três anos, 154 mortes foram registradas em confrontos com a polícia. O município de Socorro, com 82 mortes, São Cristóvão, com 30, e Barra dos Coqueiros com 9 mortes, mostram uma disparidade da letalidade policial na Grande Aracaju. A sensação de insegurança é compartilhada entre os municípios, que deveriam se sentir protegidos, ao invés de experimentarem o medo da polícia.
ITABAIANA
Localizada no Agreste sergipano, Itabaiana é um dos municípios mais conhecidos pela violência policial. O município registrou 68 mortes atribuídas à ação policial entre 2020 e 2023. Com uma taxa de 63% do total de mortes de 2023 resultantes de ações policiais, Itabaiana se destaca como uma das cidades mais letais do Brasil.
PERFIL DAS VÍTIMAS
A maioria das vítimas é composta por jovens negros, com idades entre 12 e 29 anos. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), cerca de 85% das vítimas de mortes pela polícia se encaixam nesse perfil. A taxa de letalidade policial em Sergipe é de 10,4 óbitos por 100 mil habitantes, mais do que o triplo da média nacional. Em outubro de 2023, o menor estado do Brasil registrou 25 mortes em “troca de tiros” com a polícia, uma média de quase uma morte por dia. Duas cidades sergipanas estão entre as dez com maior letalidade policial do Brasil. Itabaiana e Lagarto, seguem com uma alta taxa de óbitos devido a intervenções policiais.
A equipe do JC entrou em contato com a SSP, mas não obteve retorno até o momento da divulgação da matéria.
*Texto supervisionado pela jornalista Mayusane Matsuna.