14/11/2022 as 11:32

ENTREVISTA

“A Câmara de Vereadores é a caixa de ressonância da sociedade”



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“A Câmara de Vereadores é a caixa de ressonância da sociedade”Gilton Rosas

RICARDO VASCONCELOS | Presidente eleito da Câmara Municipal de Aracaju

Ricardo Vasconcelos, em seu primeiro mandato, foi eleito essa semana presidente da Câmara de Aracaju. Ao seu lado terá uma Mesa Diretora plural e com a mesma característica: todos exercendo o primeiro mandato. Ele pretende focar sua gestão para receber as demandas da população e votar os temas relevantes para a cidade. “O povo não quer picuinha política”, deixou claro. Vasconcelos ainda disse que pretende colocar em prática a boa política que pregava na campanha. “Ela não pode ser da boca pra fora, tem que ir pra prática no dia a dia, porque é muito fácil, é muito bonito falar em renovação, mas quando você senta na cadeira parece mais um velho político que já está há sessenta anos no sistema”, explicou. Confira a seguir a entrevista concedida por ele ao JORNAL DA CIDADE.

JORNAL DA CIDADE - O que que representa essa sua eleição para Presidência da Câmara de Aracaju?
Ricardo Vasconcelos - Veja, eu avalio que esse resultado positivo nesse processo da eleição é fruto de uma construção de um conjunto de vereadores que prezam pela independência, pela harmonia entre os poderes, que querem ver o parlamento cada vez mais forte. A gente sabe muito bem qual é o papel do Legislativo, também sabemos qual o papel do Executivo e Judiciário, e a gente quer caminhar no sentido de somar forças, queremos colaborar com a gestão do prefeito Erivaldo Nogueira. Precisamos escutar mais a sociedade para que a gente possa levar essas demandas para a gestão. O prefeito tem feito uma gestão aberta, ele tem procurado atender as demandas que os vereadores levam. Mas muitas vezes a gente sabe das limitações e a gente quer justamente otimizar, maximizar os nossos trabalhos e o nosso alcance social. A gente sabe que não é possível fazer tudo, mas a gente vai continuar sim indo em todos os cantos de Aracaju, ouvindo a população, porque a gente entende que a Câmara de Vereadores é a caixa de ressonância da sociedade. Nós somos os representantes diretos do povo. Então, nós temos que, independentemente de questões ideológicas, partidárias, nós temos que servir primeiramente aos interesses do povo. Então, o interesse público primário, que é o interesse coletivo, ele tem que estar acima de tudo, acima da política, acima dos meus interesses pessoais, dos meus projetos, porque se não for assim, não serve. A boa política que a gente pregava na pré-campanha, que a gente colocou na rua, ela não pode ser da boca pra fora. Ela tem que ir pra prática no dia a dia, porque é muito fácil, é muito bonito falar em renovação, mas quando você senta na cadeira parece mais um velho político que já está há sessenta anos no sistema. Então não foi pra isso que eu vim pra política, e nossos colegas aqui também pensam da mesma forma, e eles sentiram segurança em me apoiarem irrestritamente desde o início. E após uma somação de esforços e de entendimentos nós conseguimos lograr êxito nesse processo.

JC – Quando o senhor fala em uma Câmara forte, isso o coloca em uma posição de confronto com a Prefeitura? A sua gestão vai ser de oposição ao prefeito?
RV - Não, não. Eu sou da base, eu votei a vida toda no prefeito Edvaldo Nogueira, como votei em Marcelo Déda. Eu sei em qual campo político eu estou, em qual projeto, eu estou. Agora, pode ser que algum projeto ou outro a gente venha a divergir. O meu mandato, ele não tem patrulhamento, eu sirvo ao povo de Aracaju, eu devo lealdade àqueles que confiaram em mim, então, o que eu tenho a dizer ao povo de Aracaju, o que eu já comuniquei ao prefeito Edvaldo Nogueira, é que eu estou aqui para ajudá-lo, para somar com a administração. Mas se eventualmente nós formos divergir, isso será muito bem debatido. Nada feito às escondidas para impor uma derrota. Eu não tenho visto o prefeito estar mandando aqui nenhum tipo de projeto que venha prejudicar a população. Então eu acredito que a tônica vai ser essa, vai continuar sempre com bons projetos e vai ter sempre o apoio. Inclusive, a oposição costuma votar nos projetos do Executivo, porque independentemente de qual posição a gente está, a gente não pode perder de vista aquelas pessoas que mais precisam do poder público, que é para levar obras, para melhorar o atendimento no posto de saúde, para construir uma creche, reformar uma escola. São essas coisas que o povo o povo está esperando da gente. O povo não quer picuinha política, o povo não quer firula, e eu jamais concordei com isso, jamais farei.

JC - O senhor já iniciou um diálogo com o prefeito?
RV - Já me reuni com o prefeito, fui lá com os três integrantes da mesa, a vereadora Sheila não pôde comparecer, tinha outra agenda, mas fomos lá para reafirmar o nosso compromisso com a cidade de Aracaju, com as boas pautas, com as causas mais nobres. E para dizer que ele contasse com a gente para tudo aquilo que fosse bom, para a gente poder melhorar a qualidade de vida e trazer desenvolvimento.

JC - Como sempre acontece, os vereadores cobram a presença de secretários municipais na Câmara para receberem cobranças e darem explicações. Como o senhor vai tratar essa questão?
RV - Os vereadores têm um mandato independente. Tudo aquilo que a gente julgar necessário para esclarecer, para tornar mais transparente, para a gente compreender melhor algum serviço público, alguma demanda, terá o nosso apoio.

JC - Na prática o senhor se torna também o vice-prefeito da cidade. Como vai ser o diálogo com a Prefeitura, neste sentido de ser também o vice?
RV - De fato há esta situação, porque a vice-prefeita foi eleita deputada federal e o cargo fica vago. Em alguma daquelas hipóteses previstas no texto legal de que o prefeito se ausenta, a gente teria essa missão de substituí-lo, mas sempre respeitando o espaço de cada um. Eu nem estou pensando nisso, estou focado em organizar o meu trabalho, a minha gestão. E tenho uma missão muito árdua, que é tentar ser igual – não sei nem se consigo ser melhor –, mas tentar fazer uma gestão muito parecida e tão boa, tão produtiva quanto a do atual presidente Nitinho Vitale. Eu digo isso porque ninguém conseguiu uma nota de 9,8 de transparência, junto ao Tribunal de Contas. Nitinho fez concurso público depois de décadas. Isso era exigência da sociedade e está aí, mais um clamor que foi atendido, que foi ouvido. E nós somos defensores do concurso público.

JC - Há novidades sobre o concurso? O que os novos servidores podem esperar da sua gestão?
RV - Sou defensor do concurso e vou olhar o que a gente pode convocar mais. Isso é um compromisso meu. Porque o que eu defendi a minha vida toda. Eu não vou sentar numa cadeira, ocupar um cargo público e mudar por conveniência política. Eu sou a favor do serviço público. Sou um grande entusiasta e vou continuar defendendo com unhas e dentes. Só peço aos novos servidores que compreendam a importância desta casa, desta instituição e que a abracem. Que criem esse sentimento de pertencimento, porque nós vereadores vamos passar, mas vocês vão ficar. E essa casa, ela é feita por vocês. Então, o que eu posso me comprometer nesse momento é fazer um mandato, uma gestão voltada para os interesses coletivos, voltado para defesa dos trabalhadores, não só do município de Aracaju, como também daqui da Câmara de Vereadores de Aracaju.

JC - Qual foi o papel do vereador Nitinho na articulação que o conduziu à presidência da Câmara e qual foi o papel de outras lideranças políticas que entraram em cena na reta final, como o deputado federal André Moura, citado pelo vereador Fábio Meireles, e o próprio prefeito Edvaldo?
RV - Eu tenho que reconhecer e dar o mérito ao presidente Nitinho. Foi ele quem me estimulou, que me ajudou a montar o consenso, ele me deu toda a segurança nos momentos de tensão. A gente se organizou muito bem, soubemos resistir. A gente sabe que cada força queria indicar o presidente, o que é natural, mas na hora que cada um percebeu que um lado estava mais forte, todo mundo sentou pra tentar chegar ao consenso. E é aí onde entra o André Moura, Edvaldo Nogueira, Fábio Mitidieri. Todos disseram, olha, a gente vai até um certo limite, nada de gerar problema na base ou para o nosso grupo. Então, o André tem um grupo aqui de três, quatro vereadores, o Fábio que diretamente tem a base do PSD, então nós procuramos dialogar no sentido de mostrar qual era a nossa ideia para a Câmara, não houve nenhum toma lá dá cá, não há nenhum acordão para que nossa chapa fosse eleita.

JC - E como se deu esta articulação?
RV - Houve muito sentimento de responsabilidade, de bom senso e de compromisso com o povo de Aracaju. Quem quiser falar diferente que assuma as responsabilidades, mas eu sei realmente o que se passou, basta você procurar uma vereadora da oposição que está na chapa, ela esteve a todo momento vendo as conversas, as composições, e é testemunha ocular do que se passou. Não vendi a Câmara, não fiz promessas mirabolantes, eu apenas me comprometi de fazer uma gestão para fortalecer o parlamento, manter a harmonia entre os poderes e sempre preservar a independência e também valorizar servidor e prestigiar principalmente aquelas pautas mais nobres, mais caras da sociedade. Então eu acho que isso foi que nos levou a chegar a um consenso, e já que eu sou base, facilitou mais ainda o prefeito Edvaldo Nogueira abraçar a nossa chapa e os outros líderes políticos também me pedirem para os seus pretensos candidatos recuarem.

JC – Foi marcante o fato de pela primeira vez a CMA ter eleito um presidente que está sem eu primeiro mandato – assim como toda a Mesa Diretora. Isso é positivo?
RV – Gostaria de agradecer aos que confiaram na gente, eu sou um vereador de primeiro mandato e no início tinha essa resistência, mas acabou sendo a Mesa toda de primeiro mandato. E acho que o povo de Aracaju, que nos cobra tanto, está satisfeito, porque o parlamento hoje em sua grande maioria é composto por vereadores de primeiro mandato. Então, a renovação política, ela faz parte da democracia, ela é um oxigênio. Agora, é a gente se organizar para realmente fazer uma boa gestão.