22/06/2024 as 01:54
ENTREVISTA
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Valter Santana | Reitor da Universidade Federal de Sergipe
“Lamento que o discurso de ódio e as fake News estejam sendo usadas para propagar inverdades. Quem, em sã consciência, iria querer cancelar consulta popular? A gestão da UFS não se opõe a nenhuma consulta popular, sobre qualquer tema ou fato, inclusive, sobre as eleições para reitor”. Afirmou o reitor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), professor Valter Santana, em entrevista ao Jornal da Cidade. Segundo Valter, as consultas populares são instrumentos de ação e pesquisa, usados de forma livre e espontânea em todas as democracias. “Contudo, institucionalmente, somos regidos por leis e normas. Somos funcionários públicos. Não temos soberania para mudar legislação ou subverter a Constituição e suas leis complementares”. O reitor diz que enfrentou dificuldades em sua primeira gestão (a atual) em decorrência da pandemia de covid 19. No entanto, as consequências estão sendo superadas e vai disputar a reeleição ainda o decorrer deste ano. O quadro atual aponta que terá que enfrentar o professor André Maurício, do Departamento de Física. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Por Eugênio Nascimento
JORNAL DA CIDADE - Já está definido que o senhor disputará a reeleição? O vice-reitor será o mesmo?
VALTER SANTANA - Estamos pré-candidatos. Falo no plural porque represento um grupo, um coletivo que tem um projeto de futuro para a instituição, e que labuta arduamente desde o presente. Não se trata de poder, mas de sonhar e realizar o melhor para a UFS. Segundo a legislação federal e a local, que segue a primeira, é facultado aos dirigentes das Universidades a reeleição. Por isso, sim, nós estamos pré-candidatos. Espero que tenhamos uma diversidade de candidaturas que reflitam, discutam, proponham e abracem a UFS para além do momento das eleições. Reeleição não pode ser um projeto pessoal ou partidário. É o exercício da junção da experiência e da capacidade de realizar, a síntese que congrega e abraça o diálogo, a oxigenação administrativa, o cuidado com a qualidade acadêmica, a inclusão social, o avanço da instituição. Esse é o caminho que a UFS está seguindo e que precisa continuar a seguir. No momento certo, quando de fato o CONSU lançar edital para o processo, o nosso grupo decidirá os nomes que comporão a chapa para candidatura à reeleição.
JC - O que lhe credencia a disputar a reeleição?
VS - Na atualidade, a Universidade Federal de Sergipe possui quase 1400 professores e professoras com doutorado e, portanto, credenciados para serem dirigentes da nossa instituição. Eu sou um dentre todos e todas. Assumi a UFS como o reitor mais novo e também o primeiro negro a chegar ao cargo na instituição. Mesmo com um cenário atípico, tendo enfrentado a pandemia de covid-19 e vários cortes orçamentários, a UFS atingiu indicadores notáveis durante a minha gestão. A recente avaliação do MEC, que atribuiu a nota máxima à nossa Universidade, é um marco histórico para os 56 anos da Instituição. As consecutivas colocações de destaque da Universidade em prestigiados rankings nacionais e internacionais, que avaliam a qualidade do ensino, pesquisa e extensão, não ocorreram por acaso. São frutos de muito trabalho, planejamento estratégico, diálogo com a sociedade e preocupação com as pessoas, afinal, elas são a principal motivação da existência de uma universidade. A melhoria dos nossos indicadores na graduação e na pós-graduação, mesmo em um cenário tão adverso, também não foi por acaso. Assim, a Universidade avançou significativamente. É importante registrar que isso é a continuidade de um trabalho sucessivo ao qual outras gestões igualmente contribuíram. O nosso sucesso é resultante de planejamento e da preocupação com ações eficazes. A UFS está no caminho certo porque não permitiu que o extremismo e o descompromisso com a instituição ocupassem espaço. Para nós, a gestão deve ser alicerçada nos princípios basilares da sociedade. Acreditamos que nosso credenciamento se pauta nessa construção, capacidade de dialogar e demonstração de trabalho eficaz.
JC - O que o reitor fará se for reeleito?
VS - Apesar de, atualmente, possuirmos um cenário mais favorável para as universidades e institutos federais, enfrentamos grandes desafios nos últimos anos, desde a maior pandemia do século até restrições orçamentárias severas, que nos forçaram, por exemplo, a limitar o uso de equipamentos de ar-condicionado para contenção de despesas. Tivemos seriamente prejudicado o nosso programa de modernização da internet, as melhorias nas salas de aula, laboratórios, o plano de manutenção predial e a compra de aparelhos de ar-condicionado, limitando nossa capacidade de modernização. Mesmo com esses desafios, alcançamos a nota máxima no MEC, mas estamos cientes de que é necessário melhorar em vários aspectos.
JC - É verdade que o senhor deseja fazer a eleição apenas no colégio eleitoral?
VS - Não é verdade. E lamento que o uso de fake News, tão danoso ao nosso país nos últimos tempos, tenha seduzido setores minoritários da comunidade universitária, gente que tem abraçado um lamentável extremismo. A verdade simples e objetiva é que seguiremos a lei e os normativos da UFS, realizando eleição direta com o voto de toda comunidade universitária. A universidade se debruçou sobre o assunto através de uma comissão composta por diversos representantes, criada especificamente para este fim pelo Conselho Superior, para estudar e propor uma resolução que regulamentasse o processo eleitoral na universidade. Esta comissão percorreu os campi, promoveu amplos debates no Conselho Superior e teve sua proposta aprovada por unanimidade nesse mesmo conselho. Portanto, a aprovação unânime da Resolução 44/2022 CONSU definiu a forma da eleição direta na UFS, garantindo ampla participação da comunidade acadêmica e em conformidade com a lei vigente. Pergunto: como um processo aprovado de forma unânime na instância máxima da instituição é agora atacado de forma tão absurda, caluniosa e violenta? Veja bem, tivemos todos os segmentos da nossa instituição representados no grupo de trabalho que formulou a proposta aprovada. Para quem possa duvidar, informo que temos as atas e fotografias das atividades, além de reuniões públicas e gravadas, essas últimas disponíveis em nosso canal no Youtube. É importante salientar que dois de nossos atuais diretores de campus (em Lagarto e Nossa Senhora da Glória) já foram eleitos dessa maneira.
JC - Por que cancelar a consulta popular?
VS - Como eu já disse, lamento que o discurso de ódio e as fake News estejam sendo usadas propagando inverdades. Quem, em sã consciência, iria querer cancelar consulta popular? A gestão da UFS não se opõe a nenhuma consulta popular, sobre qualquer tema ou fato, inclusive, sobre as eleições para reitor. As consultas populares são instrumentos de ação e pesquisa que são usadas, de forma livre e espontânea, em todas as democracias. Contudo, institucionalmente, somos regidos por leis e normas. Somos funcionários públicos. Não temos soberania para mudar legislação ou subverter a Constituição e suas leis complementares. A Universidade fará uma eleição entre a comunidade, com a ampla participação de professores, técnicos e alunos seguindo a Lei e a Resolução 44 que, insisto, foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Superior. Portanto, sua pergunta nos ajuda a descontruir essa retórica que irresponsavelmente falta com a verdade, de que a eleição não será direta. A Resolução 44 estabelece eleição direta, com ampla participação da comunidade, respeitando a Lei. Afora isso, os grupos organizados podem e devem, democraticamente, realizar várias pesquisas que podem servir como intenções de voto, sem problema algum. O que não devem é enganar as pessoas, dizendo ser a consulta do grupo A ou do grupo B o escrutínio oficial para eleição de reitor ou reitora. É bom lembrar que apenas um processo, composto pelo resultado das eleições conforme a Resolução 44 e demais normativos federais, será encaminhado ao MEC para submissão da lista tríplice à escolha do presidente da República. É este o processo formal.
JC - O plano de expansão da UFS terá continuidade em um possível novo mandato do senhor? A UFS teria novos campi onde?
VS - A expansão requer políticas externas que garantam recursos e a contratação de pessoal, além da preparação interna da universidade, pois envolve a integração de vários setores já em funcionamento. Sergipe possui regiões com lacunas importantes, a exemplo do que ocorre com o Baixo São Francisco. Deveremos seguir pleiteando um campus naquela região, algo que, aliás, já formalizamos junto ao MEC.
JC - O campus de Estância será viabilizado a partir de quando? Quais serão os próximos passos?
VS - A aprovação da nossa proposta de novo campus a ser criado em Estância foi uma vitória imensa para a UFS, mas sobretudo para Sergipe! A meta de implantar uma unidade na região Sul consta em nosso planejamento institucional. Ou seja, estamos falando novamente de algo que foi desenhado pela instituição há certo tempo. Estarmos entre os 10 novos campi anunciados pelo MEC no último dia 10 de junho reflete a qualidade do projeto que apresentamos e o prestígio que a UFS hoje possui. Sobre os prazos, ainda aguardamos maiores detalhamentos por parte do MEC. Mas isso não quer dizer que estejamos parados. Nossa equipe já trabalha no aperfeiçoamento do projeto para o campus definitivo, no edital de chamamento para possíveis interessados em doar terrenos em Estância para receber as instalações a serem construídas, em projetos para os primeiros cursos a serem implantados e na organização de documentos para o registro do novo campus. São muitas as tarefas e é preciso uma organização, uma sinergia e um comprometimento grande da equipe. Felizmente temos isso! Também deveremos ter reuniões com o governador Fábio Mitideri e o secretário de Educação e vice-governador Zezinho Sobral, pois pretendemos usar instalações da SEDUC de forma provisória para iniciar as atividades.