14/03/2022 as 12:08
OPINIÃOA DCV em mulheres permanece subdiagnosticada e subtratada, gerando piores atendimentos e desfechos
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“Este é o título de um editorial que eu e a professora Glaucia Oliveira (RJ), preocupadas com a calamitosa situação da prevalência de mortalidade cardiovascular e de incapacidade ao longo da vida da mulher contemporânea publicamos em 12/Jul/2021, no International Journal of Cardiovascular Sciences (Int. J. Cardiovasc. Sci. 2021; 34(4):344-6) Segundo dados estimativos do Global Burden of Disease 2019 (GBD2019) entre as doenças cardiovasculares (DCV), a doença isquemica do coração (DIC) foi a primeira causa de morte no Brasil, 12,03% dos óbitos nas mulheres, seguida pelo acidente vascular cerebral (AVC), 10,39% contra 8,41% do percentual masculino.
A DCV em mulheres permanece subdiagnosticada e subtratada, gerando piores atendimentos e desfechos. A maioria dos grandes ensaios clínicos que abordam as DCV não foi realizada com quantitativo de mulheres suficiente para gerar evidências robustas e carecem de informações sobre particularidades das mulheres quanto aos fatores de risco CV, suas diferenças biológicas, fisiopatológicas e sociais e intervenções. Entre os fatores de risco CV em mulheres brasileiras destacam-se hipertensão arterial, obesidade, aumento do colesterol sérico e glicemia de jejum. Estudo realizado em 2014 mostrou que menos de 40% de profissionais se sentiram bem preparados para abordar a DCV em mulheres e menos de um quarto haviam utilizado, de forma abrangente, diretrizes específicas de prevenção.
Poucos sabem sobre riscos futuros dos eventos adversos da gravidez, tipo: distúrbios hipertensivos da gravidez, diabetes gestacional, parto prematuro, bebê pequeno para a idade gestacional, descolamento prematuro da placenta, abortamento espontâneo; a menopausa precoce, em mulheres de 40 anos, promove aumento do indice de massa gorda e maior probabilidade de síndrome metabólica; o uso de hormônios contraceptivos associados à hipertensão arterial aumenta em 12 vezes o risco de infarto do miocárdio (IM); a síndrome dos ovários policísticos e as doenças autoimunes (Lupus, Artrite Reumatóide) contribuem para o aumento do risco cardiovascular assim como, instabilidade economica, baixa escolaridade, violência doméstica, estresse mental e emocional atuam na mulher como importantes determinantes de risco.
Precisamos mudar essa realidade. As mulheres, o público em geral, precisam saber destes riscos cardiovasculares e como enfretá-los. Portanto, desde o ano passado, enquanto presidente do Departamento de Cardiologia da MULHER (DCM) da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) em parceria com a SBC/ SE criamos lives no Dia Internacional da Mulher com o objetivo de alertar e educar a população no combate às DCV nas mulheres. Estas Lives ficam gravadas e disponíveis pela TV SOCESE. Assistam e constatem que Mulher não é o sexo frágil.
Mulher é Singular.” # Celi Marques Santos, MD, MSc, FESC; Docente do Departamento de Cardiologia da Universidade Tiradentes (UNIT); Membro do Grupo de Gestão da cardiologia do Hospital São Lucas-rede D’Or São Luís (SE); Presidente do Departamento de Cardiologia da Mulher (biênio 2020-21).