12/04/2023 as 09:06
ENTREVISTAElias José da Silva, militante da ONG Centro da Terra, é um dos trilheiros que mais conhecem do ramo em Sergipe.
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Elias José da Silva, militante da ONG Centro da Terra, é um dos trilheiros que mais conhecem do ramo em Sergipe. Ultimamente ele tem se manifestado preocupado com as situações de algumas trilhas do estado, que tem dado sinais de erosão e outros tipos de problemas e não têm recebido a devida atenção. Os impactos da presença humana nas trilhas já levaram a justiça a bloquear o “vale dos mestres”, em Canindé do São Francisco, e há outros casos graves e que todos os trilheiros podem contribuir para evitar novos bloqueios. Elias manifestou especial preocupação com a situação da serra de Itabaiana, onde a ONG Centro do Mundo deu início a um trabalho de ordenamento do turismo, pra conscientizar os visitantes, guias, condutores e agências, e tentar diminuir os impactos que também ocorrem lá. A seguir os principais trechos da entrevista.
JORNAL DA CIDADE - Elias, como está a movimentação das trilhas em Sergipe? Quais têm sido as mais procuradas?
ELIAS DA SILVA - Quanto às trilhas, não temos muitas novidades. Estão na mesma situação de sempre, com visitação desordenada gerando impactos. As mais visitadas ainda têm sido as da Serra da Miaba e da Serra de Itabaiana
JC – E Canindé do São Francisco?
Elias - Desde o fechamento da trilha no Vale dos Mestres, em 2021, por ordem judicial, diminuiu a atividade de trilhas naquela região de Canindé.
JC Por que a Justiça fez essa opção?
Elias - A decisão judicial foi justamente por conta dos impactos que estavam sendo gerados na trilha e sítios arqueológicos que se encontram no Vale
JC – O que fazer para evitar impactos negativos causados por trilhas/trilheiros?
Elias - E agora, no Parque Nacional Serra de Itabaiana, demos início a um trabalho de ordenamento do turismo, pra conscientizar os visitantes, Guias, Condutores e agências, e tentar diminuir os impactos que também ocorrem lá. Também vamos dar início a recuperação de algumas trilhas que já estão erodidas e já tivemos uma reunião com condutores locais que moram na região e vão nos ajudar nessas ações.
JC - Coqueirinho tem sido visitada?
Elias - Tem sim e com os mesmos problemas de visitação desordenada
JC – Por que esse desordenamento?
Elias - Porque em Sergipe nunca houve um planejamento do turismo em áreas naturais. O que vem acontecendo é turismo de massa, um turismo que sempre aconteceu em áreas urbanas e que na última década migrou para as áreas naturais sem seguir regras do turismo de natureza e a cada ano tem crescido desordenadamente.
JC – O que acontece em Sergipe não é ecoturismo?
Elias - É meramente turismo de massa sendo realizado nas trilhas e sendo rotulado de ecoturismo. Tem crescido sem planejamento, sem controle do numero de visitantes, sem prever e mitigar os impactos sociais e ambientais. Superlotando trilhas, gerando impactos negativos, descaracterizando paisagens naturais e com pouquíssimo ou nenhum envolvimento das comunidades locais na cadeia produtiva do turismo.
JC – E agora, o que fazer?
Elias - Toda visitação em áreas naturais tem que ser feita com responsabilidade e todos nós somos responsáveis pela proteção dessas áreas. Vale destacar que o turismo desordenado não é o único responsável pelos impactos, mas sim a visitação de modo geral, seja ela feita por comunidades locais ou por excursões turísticas. Mas a visibilidade que o turismo proporciona por conta da divulgação massiva dos locais que não estão preparados para receber visitação de grande proporção, acaba potencializando a geração de impactos negativos, pois atrai um público diverso para uma área natural que não suporta grandes grupos, não está preparada com um mínimo de estruturas de apoio, sem regras e sem controle de visitação.
|Por Eugênio Nascimento
||Foto: Divulgação