18/09/2025 as 09:43

SAFRAS

Sergipe tem safra recorde de grãos, mas dívidas ainda preocupam

Sergipe registra safra recorde de grãos, mas recuperação judicial permanece no horizonte para enfrentar dívidas passadas

COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA

Sergipe tem safra recorde de grãos, mas dívidas ainda preocupam

Apesar do avanço de 17,7% na produção em 2024/25, especialistas ressaltam que recuperação judicial permanece como alternativa legítima para agricultores endividados

Sergipe colhe números expressivos na safra de grãos 2024/2025. Com aumento de sua área produtiva e crescimento na produtividade por hectare, o Estado alcançou 1,19 milhão de toneladas, 17,7% a mais que no ciclo anterior, segundo o 12º Levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

A produção de milho, carro-chefe da agricultura sergipana, avançou 17,9%, saltando de 966,9 mil toneladas para 1,1 milhão. Também cresceram o arroz (13,3%) e o feijão (58,3%), consolidando o dinamismo do setor.

O bom desempenho, no entanto, convive com um cenário de apreensão. Pequenos e médios produtores relatam que as mudanças nas regras do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) elevaram custos e reduziram coberturas, deixando muitos agricultores em risco.

No semiárido sergipano, onde o milho sustenta a economia de cidades como Simão Dias, Nossa Senhora da Glória e Carira, a preocupação é de que os ganhos de produtividade sejam anulados pelo peso do endividamento e pela falta de proteção em caso de perdas climáticas.

Diante desse quadro, ganha espaço, no meio jurídico, a discussão sobre a Recuperação Judicial (RJ) como alternativa legal para reorganizar dívidas rurais. Em 2022, o Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento de que produtores rurais, sejam pessoas físicas ou jurídicas, podem requerer a RJ desde que exerçam atividade empresarial há mais de dois anos e estejam inscritos na Junta Comercial no momento do pedido. A decisão garante inclusive que dívidas anteriores ao registro sejam abrangidas no processo.

A medida pode beneficiar produtores que enfrentam dificuldades com financiamentos agrícolas, atrasos em contratos de fornecimento ou execuções judiciais que ameaçam terras e equipamentos. Na prática, a RJ suspende temporariamente cobranças, reúne credores em um processo único e permite a apresentação de um plano de pagamento supervisionado pelo Judiciário, dando fôlego para que o agricultor siga produzindo.

O tema ganhou repercussão nacional após declarações da presidência do Banco do Brasil, que criticou a atuação de escritórios de advocacia que orientam produtores a buscar a RJ. A resposta da OAB Nacional foi imediata, reafirmando que é papel da advocacia assegurar que cidadãos – inclusive agricultores – conheçam e exerçam seus direitos conforme a lei. A manifestação da OAB Nacional foi apoiada por outras entidades como o MDA - Movimento de Defesa da Advocacia e o IBAJUD – Instituto Brasileiro da Insolvência.

Para o advogado Mariano Goes, Secretário-Adjunto da Comissão Nacional do Direito Agrário e do Agronegócio do Conselho Federal da OAB e Head de Direito do Agronegócio no escritório Cândido Dortas Advocacia, é crucial que os produtores sergipanos entendam a importância da medida.

“Sergipe vive o paradoxo de colher números históricos e, ao mesmo tempo, ver agricultores pressionados por dívidas e custos. O Proagro é relevante, mas já não dá a segurança necessária. A recuperação judicial é um direito legítimo, que pode preservar a produção, proteger o patrimônio familiar e manter empregos em regiões inteiras do Estado”, afirma.

Com a perspectiva de novas pressões econômicas sobre o setor, cresce a expectativa de que a RJ seja cada vez mais acionada em Sergipe. Para especialistas, trata-se de uma questão que extrapola o âmbito jurídico: é também um tema de desenvolvimento regional e de garantia de continuidade da atividade agrícola, base da economia de dezenas de municípios sergipanos.