06/01/2020 as 10:59

Entrevista

Almeida Lima: Não quero fazer o debate do ‘eu’ contra ‘eles’

Em entrevista exclusiva para o JC, o ex-prefeito de Aracaju e ex-secretário de Saúde de Sergipe, Almeida Lima (PV), fala sobre a expectativa da eleição

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Em entrevista exclusiva para o JC, o ex-prefeito de Aracaju e ex-secretário de Saúde de Sergipe, Almeida Lima (PV), fala sobre a expectativa da eleição para prefeito da capital e como pretende trabalhar caso seja eleito. “Primeiro é escolher e nomear secretários comprometidos com o interesse público. Pessoas de moral ilibada, de altíssimo nível de conhecimento e de capacidade de realização a fim de que possamos executar um grandioso programa de governo por cada uma das pastas, e isso deve acontecer a partir do primeiro dia de gestão. Assim, áreas como desenvolvimento econômico terão uma política objetiva de geração de empregos como nunca visto em Sergipe”. Confira mais detalhes na entrevista completa. 


JORNAL DA CIDADE - O senhor está mesmo disposto a ser candidato a prefeito de Aracaju?
ALMEIDA LIMA – Eu estou mais do que disposto. Eu estou é consciente do dever de ser candidato. E serei, com a permissão de Deus. É verdade que eu estava afastado, não da política que é uma atividade saudável e necessária para quem a pratica com seriedade, mas das disputas eleitorais. É que eu me decepcionei muito com a política que se pratica em Sergipe e no país hoje, e passei a ter vergonha por conta da bandalheira, da corrupção, do achincalhe e da mentira patrocinadas por essa avalanche de políticos. Entendo que não posso ter uma atividade da qual não possa me orgulhar e essa política praticada hoje não orgulha mais ninguém. Veja um exemplo dessa semana: eu tenho 66 anos de idade, fui deputado estadual duas vezes, vice-prefeito, prefeito, deputado federal e senador e nunca quis ter essa aposentadoria parlamentar por entender tratar-se de uma imoralidade. Não tenho uma única aposentadoria nem terei no futuro porque não achei isso correto. Pois bem, esta semana 12 deputados estaduais aposentaram-se precocemente para não serem atingidos pelo próprio veneno que eles mesmos criaram contra os servidores, ao aprovarem a reforma da Previdência. Imaginem que até o deputado Gilmar Carvalho se aposentou, ele que se apresenta e alardeia ser o mais correto político, essa figura que não passa de um sepulcro caiado, um beato que vive a enganar os pobres coitados. Ora, o que a população vai dizer dessa rasteira? Que não vai votar em nenhum político porque é tudo igual. E aí todos pagam, os bons e os ruins. As pessoas não separam o joio do trigo e acham que todos são iguais, porque o descalabro está generalizado. Por isso me afastei das disputas eleitorais. Mas depois entendi que me afastar não era o correto, pois eu estava me anulando, já que sou um homem público com história de respeito, de honestidade, de realizações e de muita luta e enfrentamentos. Cruzar os braços seria me omitir dessa luta contra a patifaria praticada por essa classe política desonesta. Então resolvi me filiar ao Partido Verde e ser candidato, e farei tudo para ser eleito e poder mostrar, mais uma vez, que a política é coisa séria e pra gente séria, e o que Aracaju precisa mesmo é de um bom gestor público que cuide da nossa gente sem precisar se juntar a essa classe política viciada.

JC – O que lhe credencia para isso?
AL – Os 32 anos de vida pública ilibada que marcam a minha história; o vigor e a disposição para a luta que são meus parceiros do dia a dia; a experiência atestada e aprovada pelos cargos que exerci, tanto no Executivo quanto no Legislativo; a capacidade como gestor público para realizar e empreender, sem jamais falar de crise, enfrentando problemas e encontrando alternativas, e sempre fazendo mais com muito menos recursos; o zelo pelo dinheiro público sempre que tive a oportunidade de administrá-lo, o que foi atestado pelos órgãos de fiscalização das três esferas da federação. Além de tudo isso, o que mais me credencia à pretensão de ser prefeito é o grande projeto que tenho e a capacidade para executá-lo numa gestão de quatro anos. Um projeto que vai cuidar das pessoas e da cidade de Aracaju, tornando-a referência número um em todo o país.

JC - O que o senhor pretende fazer na PMA, caso eleito?
AL – Primeiro é escolher e nomear secretários comprometidos com o interesse público. Pessoas de moral ilibada, de altíssimo nível de conhecimento e de capacidade de realização a fim de que possamos executar um grandioso programa de governo por cada uma das pastas, e isso deve acontecer a partir do primeiro dia de gestão. Um programa previamente discutido e elaborado. Assim, áreas como desenvolvimento econômico terá uma política objetiva de geração de empregos como nunca visto em Sergipe e já trabalho nesse sentido colhendo informações e consultoria especializada formatando diversos arranjos negociais a fim de transformar Aracaju num polo calçadista, de confecções e de alimentos pela capacidade de geração de milhares de empregos, já que a Grande Aracaju possui mais de 90 mil desempregados e subempregados. O que existe hoje são pessoas de pouca ou mesmo de muita qualificação profissional para o trabalho sem esperanças em suas vidas, por falta de oportunidade de emprego, e isso tem deixado a sociedade doente. Somado a essa política de desenvolvimento econômico com a implantação de novos negócios e empreendimentos para a geração de empregos, há um projeto de turismo de captação de turistas, sobretudo no segmento de Turismo de Negócios e Eventos, os mais rentáveis sob diversos aspectos, o que contribuirá enormemente para a ampliação dos investimentos privados, ampliação do comércio e da prestação de serviços que, por certo, gerarão mais empregos. Aracaju nunca teve nem tem um programa de esportes. Aqui não se faz nem um torneio de queda de braço (risos), imagine desenvolver práticas do esporte de alto rendimento, esporte escolar, esporte de inclusão e tantos outros. A nossa juventude padece pela falta de um projeto cultural, tornando-se presa fácil para as práticas antissociais, da mesma forma que Aracaju não tem um grandioso projeto urbanístico, de meio ambiente e de mobilidade urbana. Saúde e educação nem se fala, vivem à míngua com a população desassistida, enquanto que a prefeitura está privatizada pelos interesses econômicos das construtoras, empresas de ônibus, de limpeza urbana e de terceirização que promove a sangria dos cofres municipais, e que, normalmente, é a porta de entrada para a prática de corrupção no serviço público. Eu sendo eleito isso vai acabar, escreva!

 JC - O que JB, Gama, Déda e Edvaldo fizeram na PMA que você jamais faria?
AL - Não quero fazer o debate do “eu” contra “eles”, muito menos comparações. Mas como cada um tem a sua individualidade, o seu estilo, o seu modo de ver e de fazer as coisas, prefiro falar de mim e que, por certo, sou diferente deles. Por exemplo: eu nem fiz e nem farei uma gestão atabalhoada, privatizada e manobrada por empresas. Por outro lado, a administração moderna precisa de um gestor capacitado, preparado para dar grandes saltos, qualificar a cidade e as pessoas, e não ficar no feijão com arroz de sempre, na mesmice que Déda criticou tanto durante a campanha eleitoral mas após a eleição se comportou da mesma forma. Lembro-me que todos criticaram muito João Alves, como eu critiquei também, pelo seu estilo exclusivamente “obrista”, o de tocador de obras, como se governar fosse apenas fazer obras, esquecendo-se das pessoas e de suas necessidades. Pois bem, criticaram, mas todos se comportaram do mesmo jeito e esqueceram o povo. O mais grave é que conceberam, projetaram e construíram péssimas obras. Aracaju e Sergipe são um canteiro desse tipo de obra. Eu não farei isso. Quero ser prefeito para cuidar do povo. O povo precisa de atenção, pode até ser através de obras, mas que sejam obras representativas e que venham melhorar a qualidade de vida. Ademais, também não pagaria salário atrasado de servidor, como, aliás, nunca fiz, pois quando prefeito eu instituí o calendário anual de pagamento.

JC - O que lhe diferencia dos demais pré-candidatos?
AL - É cedo para essa avaliação, até porque as candidaturas ainda não estão postas.

JC - Quais são as cinco maiores necessidades da Aracaju? Como o senhor as resolveria?
AL – O desemprego está sufocando as pessoas e levando-as ao desespero. As famílias estão angustiadas. É urgente uma ação de governo nessa área, embora o de Aracaju e o de Sergipe não tenham nenhum projeto nem meta para isso, e o mais grave, não sabem fazer nada. São governos atados. A gestão da saúde pública de Aracaju e do Estado precisa ser reorientada a fim de efetivar o atendimento das pessoas em suas necessidades. Aracaju, Sergipe e os demais municípios precisam conversar para que o atendimento seja universal e de qualidade, além de resolver a demanda reprimida em exames, consultas e cirurgias eletivas. Há carência de leitos de todas as especialidades e isso pode e deve ser resolvido. Quando eu estava secretário da saúde a resolução estava andando. A Educação Pública em Aracaju é a pior referência no país. Imaginaram que a solução estaria em somente construir escolas, colocar as carteiras e professor em sala de aula para ensinar. Ou seja, não há uma política voltada para cuidar das pessoas naquilo que elas mais precisam. Aracaju tem um péssimo sistema viário para o transporte coletivo de passageiros e de serviços, somado a um péssimo sistema de oferta de transporte coletivo, além de um serviço caro e de qualidade precária. Embora se fale tanto da necessidade de licitação para o setor, o que é necessário para legalizar e legitimar a prestação dos serviços, mas é preciso dizer a verdade. O problema que afeta o usuário não é esse, o problema está na composição da planilha que define o preço da tarifa. Há político que aparece de bom moço enganando a população, dizendo que vai resolver o problema através de licitação. Não é assim. Isso é jogar para a plateia e, por baixo do pano, faz os seus acordos e o povo continua a pagar uma tarifa cara. Por fim, já que você pediu apenas as cinco maiores necessidades, Aracaju carece de planejamento no seu sentido macro, inúmeros projetos e a execução de uma grande política de urbanismo envolvendo mobilidade urbana e embelezamento, a partir do centro da cidade, além de uma política de meio ambiente que envolva esgotamento sanitário, canais, e a poluição dos rios, sobretudo o Rio Poxim, além de uma grande cobertura vegetal na cidade que está se tornando excessivamente árida. Falo de cinco, mas já disse que cada pasta terá o seu projeto e todos eles são importantes e prioritários para Aracaju.

JC - Caso seja eleito, o senhor teria o que como suas prioridades administrativas?
AL – O meu estilo de gestão já é conhecido e se ajusta com uma estrutura administrativa enxuta. Afinal, é preciso ser eficiente e ter zelo pelo dinheiro público. E vamos precisar de muito dinheiro para investir no necessário, e parte dele virá da economia que faremos decorrente do corte do desnecessário, do supérfluo, dos desvios e da má gestão. A administração será tornada pública. Se os serviços são públicos, eles passarão a ser executados diretamente pelo poder público, com ganho em eficiência, em economia e em geração de emprego. A terceirização será afastada da prefeitura, salvo em pequenas hipóteses onde ela se apresenta mais adequada e mais econômica. Eu sempre soube e tenho consciência que a terceirização na gestão pública é a porta aberta de entrada para a corrupção, para a propina, para o roubo do dinheiro do povo. A limpeza pública passará a ser executada pela Emsurb diretamente e acredito que desse setor o município vai economizar muito dinheiro, além de acabar, de uma vez por todas, com essa relação promíscua a que o Poder Judiciário se refere. E mais, posso afirmar que iremos conseguir deixar a cidade mais limpa gastando apenas 40% do que a prefeitura gasta hoje. Repito, 40% e não tenham dúvida, pois sei muito bem do que eu estou falando. Não sou garoto em gestão pública, já disse que tenho 32 anos de experiência e sei como as coisas são feitas. Enfim, a administração será modernizada e os serviços públicos municipais passarão a estar, na sua maioria, na casa do cidadão, a um toque no computador.

JC - Quem pode ser seu aliado para a disputa eleitoral em 2020?
AL – O eleitor. O povo. Não é bom ter o povo como aliado? Assim ocorrendo, não precisarei fazer acordos com essa classe política que envergonha a todos nós. Se não farei acordo com essa gente, eu passarei a não ter compromisso com nenhum deles e não estarei impedido de tomar as decisões corajosas que precisam ser tomadas. Sabe por quê? Porque eu não estarei no bolso de nenhum empresário que sustenta e manobra essa classe política, ou de empresário que também é político e que tem contratos com o poder público. Sergipe é pequeno e todos se conhecem. Portanto, o grande aliado eu espero que seja o povo. Eu vou dizer isso ao povo e ele compreenderá que assim é melhor para ele mesmo e para a sociedade. No entanto, eu sei que há gente séria na política, num leque bem restrito, é verdade, e eu estou conversando com essas pessoas.

JC - Em confraternização com jornalistas em sua residência você disse que escreve um livro a ser lançado em março. Fale sobre ele.
AL – É verdade. Sem a pretensão dos literatos, escrevo algo do gênero ciência política. Numa síntese apertada, eu digo que o objetivo é contribuir com a sociedade ao lhe mostrar que a felicidade é um atributo inerente ao ser humano, e que o Estado tem o dever de criar as condições para ela ser alcançada. E vai mais além ao demonstrar que o ser humano dispõe de conhecimento para fazer escolhas de governantes que praticam as políticas que conduzem ao bem-estar social, demonstrando que a felicidade é para quem procura fazer a opção correta.