14/02/2022 as 09:55

ENTREVISTA

‘O governador não resolveu os problemas da segurança pública’, Coronel Adriano Reis

Nesta conversa como Jornal da Cidade, coronel Adriano afirmou que a pauta do pagamento da gratificação de periculosidade une a polícia civil e militar de Sergipe

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Aos 48 anos, o Coronel Adriano Reis está há 32 servindo a Polícia Militar de Sergipe. Ele preside hoje a associação dos oficiais militares de Sergipe (ASSOMISE) e integra o movimento polícia unida, que pressiona o governo estadual a conceder reajustes salariais e implementar outros benefícios para a tropa. Nesta conversa como Jornal da Cidade, coronel Adriano afirmou que a pauta do pagamento da gratificação de periculosidade une a polícia civil e militar de Sergipe. Mas há ainda outros pontos, que estão sendo discutidos com o governo. Confira os detalhes na entrevista abaixo.

JORNAL DA CIDADE - Como se deu início a conjuntura do Movimento Polícia Unida?
CORONEL ADRIANO - O Movimento Polícia Unida se deu quando o próprio governador do Estado disse que enquanto não tivesse uma pauta única entre a Polícia Civil, delegados, agentes e escrivães ele não sentaria para negociação. Daí os dois sindicatos, Adepol e Sinpol, uniram-se em uma pauta única, criando o movimento “Polícia Civil Unida”. Diante do governador não se manifestar após mais de um ano, eles procuraram as associações militares para fortalecer ainda mais o movimento. E, na época, falei que só sentaria para negociação se tivéssemos também uma pauta única que englobasse todas as corporações civis e militares, além de ativos e inativos. Daí surgiu a pauta do adicional de periculosidade, que abrange assim toda a categoria das forças de segurança pública do Estado.

JC - Hoje a gente percebe que o Movimento PU unificou muitas categorias da polícia e bombeiros aqui no Estado. O que motivou toda essa união? CA - O que motivou essa união do Polícia Unida é que nós temos várias associações militares, Associação de Praças, de Oficiais, dos Militares, e todas com pleitos diferentes, todas querendo algo para sua categoria específica, como promoção por tempo de serviço, redução de interstício e outras coisas. E para não destoar, agimos de forma inteligente justamente para não diferenciar praças e oficiais, acreditávamos que deveríamos nos unir para fortalecer os profissionais. Quando foi colocado algo que realmente atendesse a toda a categoria, percebemos que a periculosidade contemplava de soldado a coronel, porque o percentual determinado seria igualitário, ou seja, não teria diferenciação, e isso motivou toda a união. Isso porque a periculosidade é uma questão de um direito sacramentado, presente na Constituição Federal, na legislação estadual. O policial militar, o bombeiro militar, o policial civil, o policial sergipano faz jus, o que motiva a união de todos, que lutam pelo mesmo direito. Esse foi o principal motivo da união, desse fortalecimento.

JC - Na última gestão do exgovernador Jackson Barreto o movimento já existia e a luta pelos direitos já vinha acontecendo. O que teria mudado de lá pra cá? Algum destaque sobre as reivindicações?
CA - Na época do governador Jackson Barreto a categoria tinha pleitos, como a promoção por tempo de serviço, promoção por merecimento e subsídio. E nós enquanto categoria e eu especificamente como representante, fazia e faço parte dessa luta, por representar a Associação dos Oficiais Militares de Sergipe, onde estou desde 2010. E nós buscamos convalidar o subsídio, onde na época o então governador Jackson Barreto aprovou o subsídio em 2016, porém a gente não estava ainda dentro desse Movimento Polícia Unida, nós já tínhamos o movimento das Associações Militares Unidas. Tínhamos as lideranças todas comungando dos mesmos ideais, para buscar a implementação do subsídio, bem como a promoção por tempo de serviço. Esse é o destaque que faço, que em 2016 o governador aprovou o nosso pleito, com a implementação em 2018.

JC - Esse ano já começou com uma série de movimentos, assembleias e reuniões com representantes e líderes do movimento. Inclusive já foram recebidos pelo secretário da SSP/SE, João Eloy, para possíveis negociações. Em que pé está a negociação?
CA - É importante que a gente frise que a nossa pauta continua sendo a periculosidade, nós não abrimos mão dessa pauta, apenas o governo de forma intransigente determinou que apresentássemos uma outra proposta. Dentro dessa apresentação dessa nossa outra proposta, veio aí uma reestruturação apresentada pela Polícia Civil que contempla delegados, agentes e escrivães. Nós apresentamos uma proposta similar que contempla oficiais e praças das corporações militares. Essa reunião com o secretário João Eloy demorou por demais, mais de um ano e meio a gente já vinha protocolando ofícios às autoridades constituídas, visitando parlamentares, para abrir negociação, nunca nos fechamos para diálogo, no entanto só no mês de janeiro de 2022 é que fomos recebidos pela primeira vez pelo secretário João Eloy. 

JC - Mas houve avanços?
CA - O governador disse ao secretário que começasse a trabalhar esse projeto de reestruturação. O governo recebeu nossa proposta e ficou de fazer uma contraproposta. Foi apalavrado pelo secretário João Eloy que neste mês de fevereiro chegaria às nossas mãos. Foi informado pelo secretário de Administração que até a sexta-feira, 11, seria concluído pelo governo. Ontem teve uma reunião na SSP, com o procurador geral da PGE, Dr. Vinícius, o secretário João Eloy, o comandante da PM, além de representante da Secretaria de Administração. Pelo que eu vejo, as coisas estão caminhando. Hoje teria mais uma reunião também com os mesmos, que citei há pouco. Nós esperamos que seja de fato apresentado para nossa categoria essa reestruturação, até porque caso não venha algo de bom, que contemple ativos e inativos, nós iremos rechaçar. Porque, primeiro que a nossa pauta é a periculosidade, segundo que uma reestruturação que não contempla ativos e inativos, não é do nosso interesse.

JC - Já são quase dois anos de mobilização. Durante todo este tempo a categoria avalia que não houve avanços?
CA - Infelizmente eu tenho que dizer enquanto representante da categoria dos Oficiais da Polícia Militar, bem como de todos os militares ativos e inativos, é que não houve avanço. Infelizmente, no Governo de Belivaldo Chagas, para nossa decepção não houve nenhum avanço. O governador disse que chegaria para resolver os problemas do Estado na questão de segurança pública e não resolveu. Infelizmente continuamos ainda com uma série de problemas. Nós temos um tíquete-alimentação desfasadíssimo, hoje ele remonta uma refeição a R$ 11, onde nós sabemos que não se tem uma refeição disponível por esse valor. Uma quentinha é na média de R$ 15, não é difícil entender que não tem avanço. O governador Belivaldo tem decepcionado não só a nossa categoria, mas como a de todos os servidores públicos. Primeiro, ele nunca conversou ou abriu o diálogo, nunca, a gente penou pra conseguir, e só foi possível através de nossos protestos, de nossas movimentações, de nossas assembleias que conseguimos ser recebidos. A gente foi que brigou, nós visitamos praticamente, mais da metade da classe política do Estado, a última autoridade, foi o presidente do TCE, Dr. Flávio Conceição, que nos recebeu e disse que iria abrir esse diálogo. Eu acredito que ele tenha contribuído, porque depois da reunião que tivemos, coincidentemente conseguimos. Logo depois fizemos uma movimentação na porta da SSP/SE, foi aí que tivemos essa abertura para o diálogo com o secretário. Quero crer que houve aí um pedido.

JC - Mas por que tanta dificuldade para negociar?
CA - Nós nunca deixamos de oficiar as autoridades, pedindo reunião, inclusive ao governador, várias vezes. Até registro que ele recebeu uma comissão no apartamento da senadora Maria do Carmo, ela de forma amigável pediu ao governador que nos recebesse, nós fomos lá, em um grupo de seis lideranças do movimento, e fomos recebidos, uma conversa que durou cerca de dez a 15 minutos. Ali foi o único encontro que tivemos, e de lá pra cá nada foi feito, não teve avanço. Depois disso só tivemos uma reunião com a SSP. Buscamos o procuradorgeral Dr. Vinícius semana passada, o qual nos recebeu, mas também ainda não nos mostrou o projeto. Estamos ansiosos para ver o projeto e localizar algo que contemple ativos e inativos. Ainda estaremos nessa luta permanente.

JC - E quais serão os próximos passos neste imbróglio?
CA - Inclusive, na próxima terçafeira, 15, estaremos convocando uma assembleia geral para tomar as decisões dos próximos passos, porque o governo precisa entender, que precisa respeitar a polícia que o protege toda a sociedade sergipana. Ele precisa entender disso. Ele tem que parar de ignorar a força policial sergipana, ele é um governador que foi eleito para governar para todos, e não para discriminar, vimos que tiveram categorias que receberam alguns privilégios e gratificações aprovadas no apagar das luzes do recesso da Assembleia, no dia 4 de janeiro desse ano, gratificação de R$ 4 mil, R$ 5 mil, R$ 10 mil. Por que esse governador tem que discriminar algumas categorias e privilegiar outras? É isso que nós não entendemos, queremos o mesmo tratamento, com dignidade e respeito, porque respeitamos o governador, inclusive por ele ser uma autoridade constituída até o fim de 2022 na posição de governador, ele sempre terá o nosso respeito, mas ele precisa respeitar a nossa categoria também.

|Por Max Augusto
||Foto: Divulgação