22/03/2025 as 11:39
ENTREVISTAO vereador Camilo Daniel avaliou a representação do PT em Aracaju, contou sobre a interferência política da família em sua trajetória, as bandeiras levantadas na câmara e reforçou as pautas prioritárias para o mandato.
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O vereador Camilo Daniel avaliou a representação do PT em Aracaju, contou sobre a interferência política da família em sua trajetória, as bandeiras levantadas na câmara e reforçou as pautas prioritárias para o mandato. Além disso, ele opinou sobre a atuação no bloco da oposição ao governo da prefeita Emília Corrêa (PL): “o papel é dar luz às contradições e apresentar os problemas da cidade”, disse. Ainda com o Jornal da Cidade, Camilo expõe em que acredita: “já está em curso na capital uma mudança geracional na política”. Confira a seguir:
POR Mayusane Matsunae
JORNAL DA CIDADE - C Como a trajetória política de seu pai influencia seu trabalho como vereador?
CAMILO DANIEL – É interessante registrar que toda a minha família pulsa política, disputando ou não eleições. Do lado materno, por exemplo, tenho diretamente o exemplo da minha mãe, que sempre teve uma militância muito comprometida na questão da educação do campo, na alfabetização de jovens e adultos. Meu avô foi vereador em Porto Real do Colégio, meu tio foi o primeiro candidato a vice-prefeito do PT em Propriá. Minhas tias maternas participam do movimento sindical. Do lado paterno, muitos dos meus tios e tias são filiados ao Partido dos Trabalhadores, um deles também exerceu mandato de Vereador na sua cidade e a maior parte deles participa do movimento sindical rural e na organização do cooperativismo. A maior parte dos meus tios e tias ajudaram na formação do Partido dos Trabalhadores ainda nos anos 80 nas suas respectivas cidades e até hoje contribuem politicamente nas suas áreas de atuação. Ao mesmo passo, acho muito bonita a trajetória do meu pai. Imaginem vocês, um jovem destemido que antes de completar 18 anos sai do interior de Santa Catarina e vem ajudar a construir o Movimento Sem Terra em Sergipe, em um contexto do fim da ditadura e violência no campo. A história dele já está marcada pela coragem e pela força. Obviamente que ele tem uma trajetória muito mais relacionada com o universo camponês. Eu também tenho essa conexão, pois cresci em um assentamento do MST e desde cedo aprendi com os camponeses a arte de plantar, colher, entender a natureza e respeitá-la; mas a minha atuação é mais urbana que rural. Em Aracaju, construí Movimento estudantil, movimentos comunitários, movimentos de moradia, disputei eleição. Meu pai e eu estamos no mesmo partido e construímos o mesmo agrupamento, cada um com sua identidade, sua história e a sua marca.
JC – Como o senhor avalia a representação do PT na política municipal de Aracaju?
CD – Acredito que a política é muito parecida com a maré, às vezes seca e às vezes enche. O PT teve um crescimento considerável no início dos anos 2000 e pouco mais de uma década depois de ganharmos a prefeitura iniciamos um processo de baixa. Na minha ótica, essa baixa ocorre por três fatores fundamentais: o primeiro se refere às precoces mortes de Déda e Zé Eduardo; a segundo fator é a identidade com o petismo que Edvaldo tinha, mesmo sendo um neoliberal e se afastando da esquerda; e o terceiro é nacional, devido a lava jato, que influenciou em todo o país resultados ruins para o PT. Mas, para ser coerente com a minha linha de raciocínio, eu acredito que o período em que estávamos em baixa já passou. O momento agora é de crescimento! No plano nacional, retomamos o Governo Federal e em Aracaju conseguimos reoxigenar muito o PT com mais de 2.000 filiações em Aracaju no último período. Pode ter certeza que o PT vai protagonizar, daqui para frente, todas as disputas da cidade!
JC – Quais são as principais bandeiras do seu mandato como vereador em Aracaju?
CD – Têm três questões centrais que norteiam a nossa atuação: a primeira é fazer o serviço público chegar para quem mais precisa, porque é inadmissível que a cidade continue sem cobertura na área da saúde, com falta de vagas em creches ou com um transporte completamente precário; a segunda questão está na valorização dos trabalhadores. Não existe serviço público de qualidade se não houver valorização do servidor público, dessa forma, devemos ter uma atenção especial para trabalhadores que estão em empresas terceirizadas ou que operam com alguma ordem de serviço ou contrato emergencial com o município. Lutar para cumprir a lei e defender os direitos desses trabalhadores é fundamental para nossa atuação. E a terceira questão está na reflexão sobre quem tem direito à cidade de Aracaju. E, dessa forma, discorremos sobre um tema muito sensível na cidade. Imagine que quem mora na 13 de Julho tem um calçadão na frente da sua casa, com ciclovias e muitos aparelhos de ginástica. Mas o que tem para quem mora nos bairros Santa Maria, Santos Dumont, Jardim Centenário, Japãozinho, Lamarão? Quem conhece esses bairros sabe do que estou falando. A cidade não pode se desenvolver apenas para uma parte dela; os mais pobres também têm que ter direito a essa cidade tão bonita e próspera, principalmente porque esses são os que fazem a beleza e a riqueza dessa cidade.
JC – Quais pautas sociais o senhor considera prioritárias para Aracaju?
CD – A questão principal da cidade de Aracaju está no planejamento. É inadmissível que a cidade siga crescendo desenfreada para atender aos interesses da indústria da construção civil. O plano diretor é fundamental para planejar o nosso crescimento e ele está atrasado em mais de uma década. É fundamental que consigamos destravar o Plano Diretor e imprimir nele um planejamento que crie Zonas Especiais de Interesse Social, ao mesmo passo que se preserve o pouco manguezal que ainda existe. Da mesma forma, está a questão do transporte público. Lembro-me de uma frase bem interessante para esse momento: ‘Em casa que não tem pão, todos brigam sem razão’. É assim a situação dos taxistas, dos motoristas de aplicativos e do transporte alternativo da cidade. Ou se constrói uma regulamentação sobre esse setor ou vai continuar falido. Ao mesmo passo está a questão do trânsito. Nas últimas décadas, se construiu viadutos, elevados e novas pontes, mas sem planejamento e transporte público de qualidade, a cidade vai ter que duplicar todas essas obras na próxima década, porque só vai crescer a quantidade de carros nas ruas.
JC – Quais projetos de lei de sua autoria o senhor destacaria como mais importantes?
CD – Entre os principais projetos de lei aprovados e apresentados estão: o programa municipal de agricultura urbana, prevenção e combate à depressão nas escolas, dignidade menstrual que pauta a distribuição de absorventes nas escolas, inclusão de alimentos orgânicos e agroecológicos na alimentação escolar, obrigatoriedade da instalação de bebedouros públicos nos terminais de ônibus, separação de resíduos orgânicos para compostagem e reciclagem, garantia da presença de doulas no parto, obrigatoriedade aos estabelecimentos comerciais em proteger e auxiliar mulheres que se sintam em risco em suas dependências, educação financeira e combate ao superindividamento, emenda à Lei Orgânica para assegurar o direito ao acesso universalizado à internet, turismo estudantil, criação conselho municipal de proteção defesa dos animais, projeto de lei que trata da maternidade atípica e que promove ações e atendimentos de orientação e apoio às mães e cuidadoras atípicas, garantia dos direitos trabalhistas aos rodoviários e melhoria nas condições das frotas de ônibus e projeto de lei que cria a política de preservação do rio Sergipe em Aracaju.
JC – Quais são seus planos e objetivos para o restante do mandato?
CD – Apesar de ser vereador reeleito e de estar na oposição na gestão passada e na atual, estou iniciando o segundo mandato agora e ainda temos muito a percorrer. No meu foco, estão a luta pela valorização dos servidores públicos, a proteção dos direitos dos trabalhadores, a luta para fazer os serviços públicos chegarem com qualidade para a população e, principalmente, estar presente nas lutas do povo aracajuano. É assim, dialeticamente, que vamos fortalecer a nossa atuação na cidade durante esse mandato.
JC – Como o senhor avalia a atuação do grupo de oposição à prefeita Emília Corrêa na Câmara de Aracaju?
CD – Apesar de ser muito difícil fazer oposição a uma nova gestão antes dos 100 primeiros dias, acredito que o nosso bloco de oposição está fazendo um excelente trabalho. Temos uma oposição muito qualificada e, por outro lado, a gestão de Emília já apresenta inúmeras contradições. Eu tenho certeza de que ninguém em Aracaju diria, há 6 meses, que Emília faria empréstimos milionários sem transparência, ou que vetaria projetos importantes ou até que faria tantos contratos emergenciais. Essas questões sempre foram muito criticadas por ela enquanto vereadora. A contradição se instalou na gestão municipal de forma generalizada e o papel da oposição é dar luz a essas contradições e apresentar os problemas da cidade. Se a gestão da prefeitura tiver sabedoria de ouvir a oposição, poderá errar menos e ter mais efetividade nas ações do governo.
JC – Quais desafios o senhor identifica para a renovação política em Aracaju?
CD – Eu acredito que já está em curso em Aracaju uma mudança geracional na política. O PT, por exemplo, apostou nisso na última eleição. A cidade já percebeu que os velhos nomes só nos levam a caminhos que chegam aos mesmos lugares. Desde 2008, eu ouço falar que vão fazer licitação do transporte público. Desde 2008, eu ouço falar que vão fazer o Plano Diretor. E o fato é que os velhos caminhos nos levam sempre para os mesmos lugares. Há de surgir uma nova geração que tenha coragem de verdade para enfrentar os verdadeiros problemas da cidade de frente, com energia e sem os velhos compromissos com os setores que só atrasam o desenvolvimento da nossa cidade.