18/09/2023 as 08:15

ENTREVISTA

Renato Telles destaca os principais avanços da mobilidade urbana de Aracaju

O superintendente municipal de transportes e trânsito, Renato Telles, que está à frente da pasta desde 2019, é o responsável pelo planejamento que tem trazido uma evolução gradual para a mobilidade urbana de Aracaju.

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Renato Telles destaca os principais avanços da mobilidade urbana de Aracaju

A prefeitura de Aracaju investe, desde o início da gestão, em um amplo pacote de obras que visam a requalificação urbana da cidade, e um dos eixos prioritários tem sido o projeto de mobilidade urbana, a partir do qual a gestão executa uma série de ações planejadas de maneira estratégica para garantir uma maior fluidez ao trânsito, além de conforto e segurança à população envolvida, transformando, cada vez mais, a capital sergipana em uma cidade moderna, tecnológica e sustentável. Desde o início do mês de agosto, os aracajuanos vivenciam uma nova experiência de trânsito, a partir do funcionamento dos novos corredores exclusivos para o transporte público (Augusto Franco, Beira Mar, Centro/ Jardins e Hermes Fontes). Uma obra de grande porte, pensada para garantir avanços nas principais vias da cidade, focada, prioritariamente, nos usuários do transporte público.

O superintendente municipal de transportes e trânsito, Renato Telles, que está à frente da pasta desde 2019, é o responsável pelo planejamento que tem trazido uma evolução gradual para a mobilidade urbana de Aracaju. Nesta entrevista, o gestor destaca os principais pontos que foram estudados ao longo dos anos para chegar aos resultados atuais. Oriundo de são Paulo, Renato possui mais de dez anos de experiência no setor privado, ocupando cargos de direção à frente de unidades de negócio, em empresa líder nacionalmente em seu setor.

Conforme o superintendente destrincha abaixo, o avanço da cidade na mobilidade urbana exigiu um plano específico, com demanda de estudos e investimentos, os quais vêm sendo realizados com prioridade pela gestão do município. Renato Telles destaca os principais pontos de mudança, como a criação dos corredores de ônibus, a implantação das faixas exclusivas, a construção dos terminais de integração, além do cuidado com a pavimentação, sinalização e educação de trânsito. Segundo ele, a prefeitura está atenta às demandas e anseios da população e permanece debruçada, inclusive, para avançar ainda mais em melhorias para o setor.

JORNAL DA CIDADE - A mobilidade urbana na capital tem passado por transformações nos últimos anos, seja do ponto de vista de nova infraestrutura, como novos terminais de integração, requalificação viária, mas também da sua organização, por conta dos corredores de ônibus. De que forma este processo dialoga com o planejamento da Prefeitura de Aracaju?
RENATO TELLES - Esse processo está intrinsecamente ligado ao Planejamento Estratégico da prefeitura, uma vez que ele foi feito de forma gradual. Começou com a requalificação do pavimento, não só dos corredores de ônibus, mas da cidade como um todo, a partir de um alto investimento feito pela prefeitura, através da Emurb [Empresa Municipal de Obras e Urbanização]. Quando se fala em qualidade do transporte público, diversos fatores estão envolvidos, sendo alguns dos principais o pavimento, a sinalização, a priorização do ônibus na via, os terminais e, também, a qualidade dos ônibus em si. Então, o pavimento das vias em geral, a construção das faixas exclusivas, dos corredores, dos terminais representam um forte processo para requalificar a mobilidade da cidade. Em seguida, focamos especificamente nos corredores de transporte, um investimento também significativo da prefeitura, que deu agilidade ao transporte não só para ônibus, mas também para táxis, transporte escolar e carros particulares. Avançamos também com a nova fase, que foi a construção e reforma de terminais de integração.

JC - Os dados já revelam, apesar da recente implantação, que há redução significativa nos tempos de deslocamento no transporte público após o funcionamento dos quatro corredores. Ainda assim, uma parte da população tem reclamado da iniciativa. Trata-se de uma questão de educação no trânsito, de buscar, de certa maneira, mudar o comportamento dos condutores? Quais medidas a SMTT pretende adotar para lidar com esse tipo de resistência?
RT - Primeiro, a população precisa ter tranquilidade e clareza de que o grande objetivo dos corredores e da faixa exclusiva é fazer com que o usuário do transporte público possa chegar mais rápido a seu destino e, isso está sendo de extremo sucesso com os corredores. Em relação aos motoristas de carros particulares, esse é um momento de sensibilização e educação não só com relação ao respeito às faixas, mas para que entendam que se trata de uma evolução da cidade. Até o dia 11 de agosto, Aracaju era uma das únicas capitais que não tinha corredores de ônibus ou faixa exclusiva, então, isso mostra também a evolução e equidade que estamos tendo na cidade. O corredor de transporte serve para, justamente, trazer equidade para a sociedade, na medida que dá condições para a população mais carente, aquela que mais precisa do transporte público, e que é transportada em uma quantidade muito maior. Importante destacar que os motoristas de carros particulares que enfrentaram algumas dificuldades nos primeiros dias da implantação, e hoje os dados apontam que já há ganhos e melhorias também para esses motoristas. Aquela lentidão e dificuldades dos primeiros dias já não observamos mais, resultado de uma adaptação dos motoristas, que estão buscando rotas alternativas, saindo de casa um pouco mais cedo, tendo a clareza que naquelas localidades a preferência é o transporte público e ele precisa fazer essa adequação. Insisto; Aracaju era uma das únicas capitais que não tinha esse sistema com prioridade para o transporte público. Isso traz também uma maturidade, uma evolução para a nossa cidade.


JC - Há desafios no que se refere ao próprio financiamento do sistema de transporte, e eles não estão restritos apenas a Aracaju. Qual é o cenário nacional e os desafios atuais a serem superados?
RT - O transporte público precisa trilhar um novo caminho, como acontece na grande maioria dos outros lugares, não só Europa e Estados Unidos, mas também aqui na América Latina. Afinal, o modelo de transporte público onde o custeio do sistema como um todo é baseado apenas na tarifa paga pelo usuário está falido. A grande maioria das cidades no Brasil que não pagavam algum tipo de subsídio passaram a pagar. Outras que custeiam parte do sistema, aumentaram o valor. Isso é a prova de que o sistema atual onde o usuário é o único a custear o sistema está falido. Em Aracaju não está sendo diferente. Nesse momento, tudo na vida, seja um suco, um pão, tudo passa por um processo inflacionário, e os custos do transporte público não é diferente. Cerca de 30% dos custos do sistema equivalem ao combustível, ao diesel, que foi um dos custos que mais subiu nos últimos tempos e que impacta quase um terço no custeio total dos sistemas. Por isso, foi apresentada pelo setor uma demanda e estamos analisando esses custos, para ver a melhor forma de equacionar. Estamos fazendo uma análise criteriosa para dar uma resposta de forma efetiva, com tranquilidade e transparência para a população. A gestão já tem agido neste sentido, a exemplo da redução do ISS, mediante aprovação de lei na Câmara Municipal; o custeio da gratuidade prevista em lei, ou como fez também com a questão da redução da taxa de gerenciamento, a chamada TGO, que foi zerada. Isso tudo demonstra que a prefeitura vem agindo de forma direta e objetiva na redução de tarifas e dos custos do sistema para a própria manutenção dos direitos.

JC - Qual caminho a administração municipal pretende tomar no que diz respeito a este investimento no sistema de transporte público, e qual a importância de incluir o Governo Federal no diálogo?
RT - A capacidade dos municípios de fazer esse tipo de subsídio é curta, portanto, é muito importante e fundamental a participação do Governo Federal. Vale lembrar que faz parte da Constituição Federal, assim como a Educação, como a Saúde, que recebem recursos do Governo Federal para custeio desses serviços fundamentais o transporte público precisa trilhar o mesmo caminho. Em Aracaju, no momento, estamos analisando os custos que foram apresentados pelos operadores para que possamos ter convicção dos custos envolvidos e depois avaliar o melhor caminho. Temos clareza e consciência que o orçamento dos usuários também tem limite, então vamos analisar como fazer isso, seja com repasse da tarifa ou eventualmente fazer como outras cidades, a exemplo de Salvador, cidade vizinha, em que o para-brisa dos veículos tem a informação da tarifa por R$ 4,90, mas o próprio prefeito de Salvador, quando fez o anúncio, disse que a tarifa lá é R$ 5,30. Então, a tarifa custa R$ 5,30, o usuário paga R$ 4,90 e a prefeitura paga a diferença, uma maneira de fazer pesar menos na questão do custeio. Isso é só pra citar um exemplo, mas temos outros exemplos no país. O momento hoje é de análise dos custos que foram apresentados para verificarmos as melhores alternativas para não pesar no custeio do aracajuano e dos moradores da região metropolitana que usam o nosso sistema.

JC - Em relação à frota disponível para os aracajuanos, novos veículos foram inseridos nos últimos anos. Há perspectiva de avançar com essa renovação?
RT - Como eu venho dizendo, a questão da qualidade do transporte não passa só pelo ônibus em si, passa pelo pavimento, pela sinalização, pela priorização do transporte, passa pelos terminais e passa também pela qualidade dos ônibus. Temos ciência que já avançamos muito nesse sentido, mas precisamos avançar mais. A população demanda esse tipo de melhoria, e estamos atentos. Nesse momento, em que se discute custeio, custo, aumento de tarifa, seja para o usuário ou através de alguma redução de tributo da prefeitura, ou até de um custeio feito pela prefeitura, é o momento também em que vamos discutir a requalificação, o aumento da renovação da frota junto aos operadores.

JC - Um dos aspectos fundamentais para melhoria no trânsito é o planejamento do tráfego. Como ele ocorre na SMTT e quais são as prioridades? RT - A análise do comportamento do trânsito é diária e constante na SMTT. Observamos, por exemplo, o esforço que foi feito agora na implantação dos corredores nos primeiros 30 dias, onde foram feitos ajustes dos tempos semafóricos, que ajudaram na melhoria da fluidez para os carros particulares. Além das intervenções que são feitas na geometria, para evitar algum tipo de acidente, e das melhorias que são feitas na sinalização horizontal e vertical. Tivemos implementação até de cruzamentos semafóricos para dar não só segurança no cruzamento de veículos, mas também para facilitar a travessia de pedestres. Outra medida é o monitoramento eletrônico, dos chamados radares implementados, que geram também uma segurança para o pedestre. Em 2022 realizamos mais de 250 ações de educação para o trânsito. Neste ano, vamos realizar ainda mais ações de conscientização nas ruas, palestras em escolas e empresas, ações de teatro, em unidade de saúde, porque isso também é uma questão fundamental e é um empenho constante da SMTT. Eu entendo essa questão do mundo moderno muito rápido, muito ágil, todo mundo com pressa, mas precisamos ter equilíbrio e respeito ao próximo. Precisamos ter a clareza, por exemplo, que um pedestre é muito mais fraco que um ciclista, que por sua vez é muito mais fraco que um veículo, seja um carro, um ônibus, um caminhão, então essa escada precisa ser preservada. Todo mundo é pedestre, então mesmo os motoristas de carros particulares precisam ter essa clareza, que em algum momento da vida dele, ele pode ter um carro particular, mas ele é pedestre.

JC - O senhor esteve recentemente em viagem internacional e também participou de fóruns e eventos em outros estados. Como essa interlocução pode ser utilizada para melhorar o serviço oferecido aqui na capital?
RT - Essa interlocução é fundamental. Através desses encontros, reuniões do fórum, por exemplo, de secretários, que eu tenho o prazer de presidir hoje o Fórum Secretário de Mobilidade do Brasil, são feitas trocas de experiências, discussão das dificuldades, porque os problemas são semelhantes. E o grande propósito desses encontros é subsidiar os prefeitos, seja para tomada de decisões e atitudes no nosso município, e também trazer subsídios e informações para que os nossos prefeitos, de forma republicana, tenham condições de buscar melhorias quando necessário com o Governo Federal, no diálogo com os senadores, com os deputados, para propor situações. Um desses grandes esforços, por exemplo, foi com a gratuidade do idoso, em que um grande trabalho feito pela Frente Nacional de Prefeitos, liderado pelo prefeito Edvaldo Nogueira, em conjunto com o Fórum dos Secretários, chegou nessa redação. Foram feitas várias reuniões de trabalho com mais de cem representantes de municípios para dialogar com o atual Ministério das Cidades e facilitar o acesso dos municípios. Hoje, de maneira geral, a pauta dos secretários está mais focada na questão do transporte, porque a angústia da grande maioria dos secretários é o custeio, para saber como é que fica a oferta do serviço, da renovação da frota, da implementação de corredores; qual argumento usar com a população que usa carro; como é que é melhor inserir isso na sociedade. Toda essa troca com gestores e pessoas com mais experiência é fundamental para o dia a dia das nossas cidades. Então, interações, reuniões, fóruns, viagens, são fundamentais nesse sentido. Enriquece o gestor, enriquece a equipe e traz soluções para a nossa cidade.

JC - A prefeitura contratou uma consultoria para realizar um estudo minucioso das diretrizes para a realização do processo licitatório do transporte coletivo. Em quanto tempo este trabalho será finalizado e qual a expertise da empresa com o serviço?
RT - A empresa contratada iniciou o trabalho em novembro do ano passado e tem um prazo contratualmente de 12 meses para executar todos os estudos que são necessários, e que não são poucos. A ANTP, empresa contratada, é super qualificada, já executou trabalhos semelhantes em diversas cidades aqui no Brasil. Acabou de entregar um material semelhante em Recife há pouco tempo. Já trabalhou em Natal e em Salvador também de forma semelhante. Tem diversas publicações técnicas de transporte, de trânsito, ou seja, são estudiosos da área, com uma vasta qualificação técnica. Estou confiante no material que vai ser entregue, que vai ser o subsídio necessário para darmos passos também na qualificação do transporte da região metropolitana, atendendo o anseio da população que já está hoje usufruindo dos corredores, dos terminais, de uma pavimentação adequada, e que vai ter condição de usufruir também da requalificação do transporte a partir da licitação.